São Paulo, segunda-feira, 30 de julho de 2001

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ELEIÇÃO

Junichiro Koizumi sai fortalecido e afirma que começará a implementar reformas econômicas radicais "desde já"

Partido de premiê japonês ganha com folga

DA REDAÇÃO

O primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi, 59, saiu fortalecido das eleições legislativas que renovaram ontem quase a metade das cadeiras da Câmara Alta do Parlamento do país.
Até o início da noite de ontem, seu partido, o PLD (Partido Liberal-Democrático) havia conquistado 76 das 121 cadeiras que estavam em disputa. O Partido Novo Komeito havia conquistado 12, e o Partido Novo Conservador, uma. Eles também fazem parte da coalizão governamental. A Câmara Alta do Parlamento japonês tem um total de 247 cadeiras.
A vitória, que confirma a expressiva popularidade de Koizumi, lhe dá apoio para o programa de reformas radicais que pretende implantar e que é criticado pela velha-guarda de seu partido.
"Fomos mais longe do que esperávamos", declarou após saber do resultado. "Isso se deve às esperanças que o povo japonês deposita nas reformas".
O estilo franco de Koizumi e suas promessas de soluções drásticas para a estagnação econômica que já dura uma década resultaram em um culto em torno do premiê digno de um "pop star". Isso se vê no estouro de vendas de suvenires com sua imagem, desde pôsteres e camisetas até capas de celulares e placas comemorativas.
Koizumi enfrenta, entretanto, forte oposição tanto de grupos empresarias quanto de membros conservadores de seu próprio partido. Seu plano de cortar despesas públicas e reestruturar o sistema financeiro do país deverá provocar ainda mais falências e desemprego.
"O plano básico começará a ser implantado desde já", afirmou o premiê ontem à noite. "A partir de agora, isso é responsabilidade minha", acrescentou. "Irei implementar medidas específicas em consonância com meus princípios básicos. Se houver pessoas da oposição querendo cooperar, aceitarei de bom grado."
As reformas que Koizumi quer implementar implicam o desmantelamento do sistema político e econômico que tem vigorado no Japão nos últimos 50 anos.
Essencialmente, esse sistema tem-se sustentando à custa do aumento da injeção de dinheiro público -obtido por meio da venda de títulos- na economia, sobretudo por meio de grandes projetos públicos.
Depois de ter sido "filtrado" pelas grandes corporações do país, o dinheiro, segundo a teoria, deveria finalmente chegar aos bolsos dos cidadãos, os quais, por sua vez, o reporiam no mercado por meio do consumo.
Entretanto, desde o colapso da tão famosa "bolha econômica" dez anos atrás, o sistema quebrou.
Os bancos japoneses começaram a resgatar seus empréstimos, obrigando várias empresas a fecharem as portas. Por sua vez, os consumidores, ao invés de gastarem seu dinheiro, passaram a economizá-lo, o que acabou por afetar seriamente os pequenos comerciantes.
Enquanto isso, a emissão contínua de títulos levou a dívida pública a níveis alarmantes.
Seguidos governos pouco se esforçaram para reformar o sistema, acabando por recorrer a "pacotes" para tentar dar uma sobrevida à economia.
A promessa de Koizumi é a de abandonar essas medidas paliativas, de fôlego curto, e impor a austeridade dolorosa que, acredita, irá recuperar a economia.
"Creio que passaremos os próximos dois ou três anos sem nenhum sinal visível de recuperação", afirmou na noite de ontem.
Até agora, entretanto, Koizumi não apresentou nenhuma proposta detalhada e, em três meses de governo, realizou muito pouco.
Suas visitas à Europa e aos Estados Unidos não deram nenhum resultado concreto.
Enquanto isso, a economia do país está dando sinais de declínio -na sexta-feira passada foi anunciado que os preços ao consumidor caíram pelo 21º mês consecutivo.
O premiê prometeu instalar "uma rede de segurança social" para amenizar o desemprego e a carestia -resultados inevitáveis das políticas de reestruturação-, embora não tenha explicado como fará isso.

Baixo comparecimento
O comparecimento na eleição foi baixo -menos de 50%-, um possível sinal da falta de interesse nas promessas de Koizumi.
Seu índice de aprovação, segundo pesquisa do diário "Asahi Shimbun", ainda é de quase 70%, mas já foi de mais de 80%. É certo que irá cair ainda mais, a menos que Koizumi comece, de fato, a detalhar os pontos da reforma.


Com "The Independent" e "The New York Times"



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