São Paulo, segunda-feira, 30 de julho de 2001

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Funai quer recuperar tupi antigo na Paraíba

PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO

A Funai (Fundação Nacional do Índio) está promovendo na Paraíba uma iniciativa de recuperação do tupi antigo pela nação potiguara, o projeto Poti.
"É uma língua indígena morta que volta a ser ensinada", explica o professor Eduardo de Almeida Navarro, que participa da iniciativa. "Essa língua era falada na costa brasileira nos dois primeiros séculos da colonização." Os índios nordestinos, por terem tido contato com os portugueses muito cedo, perderam o idioma nativo rapidamente. Os potiguaras perderam sua língua no final do século 17. Hoje, há cerca de 8.000 potiguaras na Paraíba.
Em agosto, os primeiros professores de tupi antigo do projeto -cerca de 20- receberão diploma. Três municípios da Paraíba também vão ensinar tupi a crianças. "Queremos que cada criança potiguara tenha quatro anos de tupi, e no ano que vem vamos lançar a cartilha "O Menino Poti Aprende Tupi'", diz Navarro, 39.
"No português do Brasil, temos milhares de tupinismos". As palavras pereba (ferida, em tupi), pipoca (pele estourada), catinga (mau cheiro) e sapeca são alguns exemplos.

Ensino bilíngue
Líderes indígenas e linguistas destacam a importância do ensino bilíngue, fonte de debates no Ministério da Educação.
"A partir do momento em que começou a haver um programa de educação bilíngue no interior dessas comunidades, muito se alcançou para a revitalização. A identidade cultural começa a reviver", disse à Folha o indigenista Antônio Luiz Batista de Macedo, 49, nascido no Acre.
Macedo foi um dos fundadores da Comissão Pró-Índio no Acre em 1978, que desenvolve programas de educação bilíngue.
"É o primeiro passo para que o índio tenha acesso à universidade e a uma universidade indígena no futuro", afirmou Marcos Terena, fundador do primeiro movimento indígena do país, a União das Nações Indígenas.
Preservar a língua original dos nativos garante a transmissão de conhecimento e reforça a identidade indígena.
Os kaxinawá reivindicaram o direito ao aprendizado da língua escrita e da matemática, no final da década de 1970, quando perceberam que, por meio desses instrumentos, os patrões seringueiros exploravam seu trabalho, estabeleciam contratos unilaterais e manipulavam os pagamentos.
No Brasil, há cerca de 180 línguas indígenas. A maioria é falada por menos de 200 indivíduos.
Há 216 tribos brasileiras, 12 delas com menos de 38 indivíduos. Em 1500, segundo estudos, viviam território brasileiro entre 2 milhões e 4 milhões de índios de quase mil tribos diferentes. Atualmente, são cerca de 350 mil.
Algumas escolas aliam o ensino do português ao de um idioma indígena. Líderes de grupos indígenas querem que o governe nomeie um índio para ter voz no Conselho Federal de Educação.

Convivência
O professor Esteban Emilio Mosonyi, da Universidade de Caracas (Venezuela), defende a convivência entre as línguas indígenas e o espanhol como um "pluralismo enriquecedor".
"Os índios americanos que receberam como presente o idioma espanhol não eram mudos, e os hispanistas não podem se esquecer disso", afirma a professora Conchita Lleó, da Universidade de Hamburgo.
Para o escritor colombiano Carlos Llera, o reconhecimento constitucional em seu país de línguas indígenas multiplicou os problemas burocráticos. "É preciso contratar tradutores na capital para ler os documentos que esses povos enviam", afirma.



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