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Funai quer recuperar tupi antigo na Paraíba
PAULO DANIEL FARAH
DA REDAÇÃO
A Funai (Fundação Nacional do
Índio) está promovendo na Paraíba uma iniciativa de recuperação
do tupi antigo pela nação potiguara, o projeto Poti.
"É uma língua indígena morta
que volta a ser ensinada", explica
o professor Eduardo de Almeida
Navarro, que participa da iniciativa. "Essa língua era falada na costa brasileira nos dois primeiros
séculos da colonização." Os índios nordestinos, por terem tido
contato com os portugueses muito cedo, perderam o idioma nativo rapidamente. Os potiguaras
perderam sua língua no final do
século 17. Hoje, há cerca de 8.000
potiguaras na Paraíba.
Em agosto, os primeiros professores de tupi antigo do projeto
-cerca de 20- receberão diploma. Três municípios da Paraíba
também vão ensinar tupi a crianças. "Queremos que cada criança
potiguara tenha quatro anos de
tupi, e no ano que vem vamos lançar a cartilha "O Menino Poti
Aprende Tupi'", diz Navarro, 39.
"No português do Brasil, temos
milhares de tupinismos". As palavras pereba (ferida, em tupi), pipoca (pele estourada), catinga
(mau cheiro) e sapeca são alguns
exemplos.
Ensino bilíngue
Líderes indígenas e linguistas
destacam a importância do ensino bilíngue, fonte de debates no
Ministério da Educação.
"A partir do momento em que
começou a haver um programa
de educação bilíngue no interior
dessas comunidades, muito se alcançou para a revitalização. A
identidade cultural começa a reviver", disse à Folha o indigenista
Antônio Luiz Batista de Macedo,
49, nascido no Acre.
Macedo foi um dos fundadores
da Comissão Pró-Índio no Acre
em 1978, que desenvolve programas de educação bilíngue.
"É o primeiro passo para que o
índio tenha acesso à universidade
e a uma universidade indígena no
futuro", afirmou Marcos Terena,
fundador do primeiro movimento indígena do país, a União das
Nações Indígenas.
Preservar a língua original dos
nativos garante a transmissão de
conhecimento e reforça a identidade indígena.
Os kaxinawá reivindicaram o
direito ao aprendizado da língua
escrita e da matemática, no final
da década de 1970, quando perceberam que, por meio desses instrumentos, os patrões seringueiros exploravam seu trabalho, estabeleciam contratos unilaterais e
manipulavam os pagamentos.
No Brasil, há cerca de 180 línguas indígenas. A maioria é falada
por menos de 200 indivíduos.
Há 216 tribos brasileiras, 12 delas com menos de 38 indivíduos.
Em 1500, segundo estudos, viviam território brasileiro entre 2
milhões e 4 milhões de índios de
quase mil tribos diferentes. Atualmente, são cerca de 350 mil.
Algumas escolas aliam o ensino
do português ao de um idioma indígena. Líderes de grupos indígenas querem que o governe nomeie um índio para ter voz no
Conselho Federal de Educação.
Convivência
O professor Esteban Emilio Mosonyi, da Universidade de Caracas (Venezuela), defende a convivência entre as línguas indígenas e
o espanhol como um "pluralismo
enriquecedor".
"Os índios americanos que receberam como presente o idioma
espanhol não eram mudos, e os
hispanistas não podem se esquecer disso", afirma a professora
Conchita Lleó, da Universidade
de Hamburgo.
Para o escritor colombiano Carlos Llera, o reconhecimento constitucional em seu país de línguas
indígenas multiplicou os problemas burocráticos. "É preciso contratar tradutores na capital para
ler os documentos que esses povos enviam", afirma.
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