São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO

Israel e Líbano discutem o conflito pela internet

Blogs dos dois lados da fronteira falam da rotina na guerra e dialogam sobre paz

Internautas falam da vida sob o som das sirenes, dizem que vão deixar seu país, fazem críticas aos EUA e se perguntam onde está Deus

CRISTIANE CARVALHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

"Eles [do Hizbollah] querem pôr um rótulo de traidores e agentes de políticos estrangeiros em quem deles discorda, enquanto declaram com orgulho sua aliança com o Irã e a Síria. Eles se recusam a se desarmar. Eles querem apagar Israel do mapa. Eles gritam e, com orgulho, declaram uma guerra sem fim, um derramamento de sangue eterno e um ódio cego."
A declaração não vem de um israelense enfurecido com os Katyushas, mas de uma jovem libanesa que, como muitos outros afetados pela guerra, usa seu blog para desabafar.
"Silêncio. Não ouço nenhum carro. Às 5h, não será o som de pássaros que iniciará o dia, mas provavelmente o de uma sirene", diz o israelense do "Live from an Israeli Bunker" (ao vivo de um bunker israelense, israelibunker.blogspot.com). "Mais uma noite silenciosa. Às 5h50, acordei com o som de uma bomba. "Nada fora do comum'", ecoa o libanês do "Blogging the Middle East" ("blogando" o Oriente Médio, meastpolitics.wordpress.com).
Nos comentários dos blogs libaneses -ao menos nos escritos em inglês-, sobram ataques ao Hizbollah. Os israelenses são praticamente coadjuvantes. Em todos, o cansaço com a seqüência de guerras.
O "Lebanese Blogger Forum" (lebanonheartblogs.blog spot.com) resume: ""Você atirou primeiro." "Não, você atirou primeiro." "Você está atacando há seis anos." "Você está atacando há 30." No fim, isso importa? Morte é morte". A perplexidade com a volta da rotina da guerra leva Zena, do "Beirut Update" (beirutupdate.blogspot.com), a perguntar: "Deus, onde está você?" -lembrando o que o papa Bento 16 disse num campo de concentração.

Diálogo
O propalado ódio entre as duas partes do conflito dá lugar ao diálogo em parte da internet. Em resposta ao jornalista libanês que assina o "Beirut Notes" (notas de Beirute, beirutnotes.blogspot.com) como Zadig Voltaire, o israelense Salam diz ter "a mais profunda simpatia pela situação" dele. Mas completa que "nenhum país teria aceito ataques sem nenhuma provocação".
A um judeu canadense que chama os libaneses de "inimigos", o autor do "Israeli Bunker" responde: "Os libaneses não são meus inimigos, os que apóiam o Hizbollah são".
O libanês Zadig, no texto "O dia em que me dei conta de que o meu Líbano não era mais meu", prevê que o conflito "apenas reforçará o poder do Hizbollah entre a população" e anuncia que, diante disso, decidiu se mudar, com a mulher e os três filhos, para Londres.
Em entrevista à Folha por e-mail, já em Londres, Zadig, nascido e criado em Beirute, se disse "extremamente irritado" e afirmou que, "desde que os EUA declararam guerra ao terrorismo, eles decidiram que quem tem uma barba ou um bigode como o de Saddam Hussein é terrorista e deve ser eliminado". "E nós, inocentes, estamos pagando por isso."
As críticas aos EUA se repetem nos blogs. Um comentário num deles pergunta: "Há modo melhor de travar uma guerra que por "controle remoto", com outros morrendo por sua causa enganosa e sem ter de encarar cadáveres de compatriotas?".


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