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GUERRA NO ORIENTE MÉDIO
Israel e Líbano discutem o conflito pela internet
Blogs dos dois lados da fronteira falam da rotina na guerra e dialogam sobre paz
Internautas falam da vida
sob o som das sirenes, dizem
que vão deixar seu país,
fazem críticas aos EUA e se
perguntam onde está Deus
CRISTIANE CARVALHO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
"Eles [do Hizbollah] querem
pôr um rótulo de traidores e
agentes de políticos estrangeiros em quem deles discorda,
enquanto declaram com orgulho sua aliança com o Irã e a Síria. Eles se recusam a se desarmar. Eles querem apagar Israel
do mapa. Eles gritam e, com orgulho, declaram uma guerra
sem fim, um derramamento de
sangue eterno e um ódio cego."
A declaração não vem de um
israelense enfurecido com os
Katyushas, mas de uma jovem
libanesa que, como muitos outros afetados pela guerra, usa
seu blog para desabafar.
"Silêncio. Não ouço nenhum
carro. Às 5h, não será o som de
pássaros que iniciará o dia, mas
provavelmente o de uma sirene", diz o israelense do "Live
from an Israeli Bunker" (ao vivo de um bunker israelense, israelibunker.blogspot.com).
"Mais uma noite silenciosa. Às
5h50, acordei com o som de
uma bomba. "Nada fora do comum'", ecoa o libanês do "Blogging the Middle East" ("blogando" o Oriente Médio, meastpolitics.wordpress.com).
Nos comentários dos blogs libaneses -ao menos nos escritos em inglês-, sobram ataques ao Hizbollah. Os israelenses são praticamente coadjuvantes. Em todos, o cansaço
com a seqüência de guerras.
O "Lebanese Blogger Forum"
(lebanonheartblogs.blog
spot.com) resume: ""Você atirou primeiro." "Não, você atirou
primeiro." "Você está atacando
há seis anos." "Você está atacando há 30." No fim, isso importa?
Morte é morte". A perplexidade com a volta da rotina da
guerra leva Zena, do "Beirut
Update" (beirutupdate.blogspot.com), a perguntar: "Deus,
onde está você?" -lembrando
o que o papa Bento 16 disse
num campo de concentração.
Diálogo
O propalado ódio entre as
duas partes do conflito dá lugar
ao diálogo em parte da internet.
Em resposta ao jornalista libanês que assina o "Beirut Notes"
(notas de Beirute, beirutnotes.blogspot.com) como
Zadig Voltaire, o israelense Salam diz ter "a mais profunda
simpatia pela situação" dele.
Mas completa que "nenhum
país teria aceito ataques sem
nenhuma provocação".
A um judeu canadense que
chama os libaneses de "inimigos", o autor do "Israeli Bunker" responde: "Os libaneses
não são meus inimigos, os que
apóiam o Hizbollah são".
O libanês Zadig, no texto "O
dia em que me dei conta de que
o meu Líbano não era mais
meu", prevê que o conflito
"apenas reforçará o poder do
Hizbollah entre a população" e
anuncia que, diante disso, decidiu se mudar, com a mulher e
os três filhos, para Londres.
Em entrevista à Folha por e-mail, já em Londres, Zadig,
nascido e criado em Beirute, se
disse "extremamente irritado"
e afirmou que, "desde que os
EUA declararam guerra ao terrorismo, eles decidiram que
quem tem uma barba ou um bigode como o de Saddam Hussein é terrorista e deve ser eliminado". "E nós, inocentes, estamos pagando por isso."
As críticas aos EUA se repetem nos blogs. Um comentário
num deles pergunta: "Há modo
melhor de travar uma guerra
que por "controle remoto", com
outros morrendo por sua causa
enganosa e sem ter de encarar
cadáveres de compatriotas?".
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