DO ENVIADO ESPECIAL A BEIRUTE

Longe de Sabra e Chatila, palestinos que chegaram ao Líbano após a primeira guerra árabe-israelense e conseguiram cidadania vivem com conforto, são aceitos, mas mantêm o espírito de refugiados. Nabil Dajani, 56, é um exemplo. Seus pais viviam em Jerusalém até serem deslocados pela guerra de 1948, quando Israel foi criado. "Pensávamos que ficaríamos apenas alguns meses, mas estamos até hoje", diz Dajani, professor de comunicação política da Universidade Americana de Beirute. Hoje, ao ver suas duas pátrias em guerra, Dajani é pessimista sobre o futuro da região. Leias trechos de sua entrevista à Folha. (MN)
 

FOLHA - Que lição a crise atual ensina?
NABIL DAJANI - Que a única perspectiva de paz é a resistência. Israel e os EUA não entendem a lógica do conflito, acham que podem impor aos palestinos humilhação e rendição sem um preço. Na história de qualquer nação a humilhação não dura muito. Pode até render alguns anos de paz, mas não perdura. Um bom exemplo é o que aconteceu na Alemanha entre as duas guerras.

FOLHA - Como o sr. vê o plano de retirada unilateral dos territórios palestinos proposto pelo primeiro-ministro de Israel?
DAJANI - Não é uma retirada real, pois Israel não pretende deixar os maiores assentamentos da Cisjordânia. Espero que os israelenses percebam com as baixas que estão sofrendo nas mãos do Hizbollah que não podem manter guerras intermináveis. Sua única chance de serem aceitos pelos árabes é dar um Estado aos palestinos.

FOLHA - A retirada unilateral de Gaza, no ano passado, foi saudada em grande parte do mundo como um passo rumo à paz. O que aconteceu?
DAJANI - Isso só mostra uma ignorância enorme do mundo. Qualquer um que conhece a situação palestina sabe que não foi um gesto nobre dos israelenses. Gaza era um inferno para eles. E Israel não quer sair totalmente da Cisjordânia. Imagine que você tem uma casa e alguém lhe expulsa dela. Depois, faz um "gesto nobre"" devolvendo o banheiro e parte da cozinha. Ridículo.

FOLHA - Qual a ligação entre as crises no Líbano e em Gaza?
DAJANI - É o mesmo enredo. Eles querem humilhar os árabes, derrotá-los da forma mais bárbara e impor sua ordem. Mas o Hizbollah está dando uma lição a Israel. Um pequeno grupo está derrotando a oitava força militar do mundo. É isso que vai mudar o Oriente Médio.


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