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São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Líder xiita é uma das vítimas da explosão, em Najaf; autoria é incerta, e número de mortos pode subir

Atentado a mesquita mata ao menos 75

DA REDAÇÃO

A explosão de um carro-bomba em frente à mesquita onde está a tumba de Ali, em Najaf, no Iraque, matou ontem ao menos 75 pessoas e feriu cerca de 140. A tumba de Ali é o local mais sagrado do país para os muçulmanos xiitas. Entre os mortos, estava o aiatolá Mohammed Baqer al Hakim, líder do maior grupo muçulmano xiita de oposição ao regime deposto de Saddam Hussein.
O ataque ocorreu ao final das orações de sexta-feira, quando as pessoas deixavam a mesquita. Em seu sermão, Al Hakim, visto como colaborador da autoridade americana no país, havia pedido pela unidade iraquiana e pela ajuda dos vizinhos árabes para a reconstrução do país.
O total de mortos ontem foi o maior desde a chegada das forças americanas a Bagdá, no início de abril. Num momento em que os xiitas iraquianos de diferentes gerações estão envolvidos em uma luta pelo poder, o ataque é mais um complicador nas tentativas americanas de pacificar o país.
A TV árabe Al Jazira, do Qatar, divulgou um saldo de 82 pessoas mortas e 229 feridas no ataque de ontem. Os xiitas imediatamente acusaram simpatizantes do ex-ditador Saddam Hussein pelo ataque -Saddam, membro da minoria sunita, era acusado pela repressão aos xiitas por décadas.
Outra hipótese para o atentado era uma possível ação da facção mais jovem do xiismo, que mantém sua principal base de apoio na favela de Sadr City, em Bagdá, e que vinha tentando tomar das mãos de Al Hakim a liderança do ramo muçulmano.
Ahmad Chalabi, líder do Congresso Nacional Iraquiano e membro do Conselho de Governo, instalado em julho pelos EUA, disse que os responsáveis são os mesmos do ataque do dia 19 de agosto à sede da ONU em Bagdá, na qual morreram 22 pessoas, entre elas o diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello, representante das Nações Unidas no Iraque.
Horas após a explosão, uma situação de caos permanecia em Najaf. Pessoas choravam pelas ruas demonstrando sofrimento e raiva. Alguns jornalistas estrangeiros foram atacados. Outras pessoas procuravam por vítimas entre os escombros. Uma série de lojas no lado oposto da rua à mesquita foi reduzida a pedaços retorcidos de metal e a madeira. As mercadorias à venda antes da explosão foi espalhada pelo chão. Corpos e partes de corpos podiam ser vistos entre os escombros.
Um grupo de homens e mulheres pressionava suas mãos e rostos contra as portas da mesquita, que foram fechadas após a explosão. "Nem os americanos nos atacaram assim", lamentou uma mulher, em prantos.
Não havia soldados da coalizão anglo-americana na região da mesquita em respeito ao local sagrado, segundo o porta-voz do Pentágono Jim Cassella.
Os EUA disseram que a escalada de violência na região não vai deter suas forças no país . Segundo a porta-voz da Casa Branca Claire Buchan, o governo do país "mantém sua disposição de trabalhar para dar uma vida melhor para o povo iraquiano".
O administrador civil americano no Iraque, Paul Bremer, emitiu um comunicado denunciando o ataque. "O atentado de hoje em Najaf mostra outra vez que os inimigos de um novo Iraque vão acabar em nada. Outra vez, eles mataram iraquianos inocentes. Outra vez, eles violaram um dos mais sagrados locais do islã. Outra vez, com sua ação atroz, mostraram a face diabólica do terrorismo", disse. "Em nome da Autoridade Provisória da Coalizão, do povo americano e de todos os amigos do Iraque, eu expresso minha mais profunda simpatia às famílias daqueles que foram mortos e aos feridos e suas famílias."


Com agências internacionais

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