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DIREITOS HUMANOS
Prisões haviam sido pedidas em julho
Espanha desiste de pedir extradição, e Argentina soltará ex-repressores
ELAINE COTTA
DE BUENOS AIRES
O governo da Espanha decidiu
ontem não oficializar o pedido de
extradição de 40 ex-repressores
argentinos feito pelo juiz espanhol Baltasar Garzón. A decisão
foi anunciada pelo vice-premiê
espanhol, Mariano Rajoy. Segundo ele, a anulação das leis de anistia pelo Congresso argentino na
semana passada abre espaço para
que os julgamentos sejam realizados na própria Argentina, tornando "desnecessária" a extradição.
"Acreditamos na vontade do
governo argentino em julgar essas
pessoas, e baseados no princípio
da territorialidade, não chegamos
a apresentar o pedido de extradição", disse Rajoy.
A notícia agradou aos militares,
mas desagradou às organizações
de defesa dos direitos humanos.
Em entrevista à Folha, o advogado das vítimas espanholas, Carlos Slepoy, afirmou que a decisão
do governo espanhol foi "equivocada". "Também gostaríamos
que essas pessoas fossem julgadas
na Argentina, mas isso não será
possível até que a Suprema Corte
anule as leis de anistia. Um coisa
seria o governo argentino decidir
que não vai extraditar para julgá-los no país, outra é o governo espanhol se antecipar e nem mesmo
encaminhar o pedido", afirmou.
O Senado argentino anulou, dia
21, as leis de Ponto Final e Obediência Devida, que impediam o
julgamento de ex-repressores no
país. Ontem, o presidente Néstor
Kirchner assinou o decreto que
promulga a decisão. "Fiz minha
parte. Agora a decisão final depende da Suprema Corte", disse.
A palavra final sobre a validade
das leis será da Suprema Corte.
Para alguns juristas, o Congresso
não tem poder para anular leis
-somente a Suprema Corte.
Slepoy disse que pedirá à Espanha rever a decisão. O argumento
é que anulação das leis pelo Congresso não tem validade jurídica.
No dia 8 de julho, Garzón havia
solicitado a prisão, para extradição, de 45 militares e ex-militares
e de um civil acusados de praticar
tortura na última ditadura (1976-83). O pedido foi atendido pelo
juiz argentino Rodolfo Canicoba
Corral, que ordenou a prisão preventiva dos acusados. A Justiça
argentina conseguiu deter 40 ex-repressores. O prazo para oficializar o pedido de extradição venceria na próxima terça-feira, dia 2.
"Os presos serão libertados
quando houver uma notificação
oficial de que o governo espanhol
não quer as extradições. Quando
isso acontecer, terei de libertá-los.
Se não há pedido formal de extradição, não há detenção", disse ontem à Folha Canicoba Corral.
Na lista de Garzón estão nomes
como o do ex-ditador Jorge Videla e de Alfredo Astiz, que já foi
condenado na França à prisão
perpétua pelo assassinato de duas
freiras franciscanas.
"Assim que sair a notificação
oficial, não será possível à Espanha encaminhar outro pedido de
extradição no futuro", disse à Folha o advogado Juan Aberg Cobo,
defensor de três ex-militares.
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