UOL


São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VENEZUELA

De uniforme militar, presidente ameaça tomar concessões de TV e adverte sobre possível guerra civil se tentarem derrubá-lo

Chávez acusa oposição de preparar golpe

DA REDAÇÃO

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acusou ontem seus adversários de conspirar para derrubá-lo e pediu aos militares para estarem preparados para defender seu governo. Ele ameaçou ainda tomar as concessões dos canais de TV, aos quais acusa de apoiar a suposta conspiração, se eles "voltarem a agitar o país".
"Há um novo plano subversivo em preparação", disse Chávez em um discurso durante uma cerimônia num quartel do Exército. "Esses insurgentes circulam agora dizendo que agora acreditam na Constituição. Eles não acreditam. Eles puseram suas máscaras outra vez", disse. Vestido com uniforme militar -o qual havia prometido abandonar após a tentativa de golpe que o tirou do poder por dois dias, em abril do ano passado-, Chávez sugeriu que a conspiração envolva os EUA, que apoiaram o golpe do ano passado.
"Eles [a oposição] estão buscando apoio internacional outra vez. Ou que os EUA venham aqui", disse. "Eu sempre terei este uniforme à mão no caso de qualquer um pensar que pode invadir a Venezuela", afirmou, dizendo que a oposição quer aplicar na Venezuela "o plano Libéria". Tropas estrangeiras chegaram ao país africano neste mês para tentar controlar a situação no país, em guerra civil.
As declarações de Chávez ocorrem num momento em que a situação de tensão política em que vive o país desde o ano passado havia baixado de tom, à espera da decisão do Conselho Nacional Eleitoral (CNE) sobre a validade de um abaixo-assinado pedindo um referendo para revogar o mandato do presidente -que vence em 2007.
"Não haveria sentido em uma conspiração por parte da oposição, porque o ambiente é de absoluto convencimento de que a via do referendo já está em curso, após terem sido cumpridos os seus requisitos", disse à Folha a jurista Cecilia Sosa, presidente da Suprema Corte do país entre 1996 e 1999, quando a instituição foi dissolvida por Chávez.
Para ela, o presidente tenta, com seu discurso, criar uma situação de tensão para provocar uma reação da oposição que justifique uma ação do governo para impedir o referendo. "Essa estratégia já deu resultados outras vezes, mas nas últimas semanas a oposição já não está mais caindo nesse jogo."
O pedido da oposição para o referendo, entregue na semana retrasada, tinha mais de 3 milhões de assinaturas, superando o mínimo de 2,6 milhões (20% do eleitorado) exigido pela Constituição. Chávez alega, porém, que as assinaturas não são válidas porque foram recolhidas antes do período permitido e porque teriam sido fraudadas, em parte.
O CNE, cujos membros foram indicados no início da semana pelo Supremo Tribunal, deve analisar nos próximos dias se as assinaturas são válidas e, em caso de aprovação, marcar o referendo.
"Estão começando a dizer que Chávez não quer o referendo", disse o presidente ontem. "Que Chávez é tirano, para tentar levantar novamente uma serpente com o apoio internacional e dizer que devem se livrar de Chávez porque Chávez é culpado", disse.
Chávez advertiu que o país pode cair numa guerra civil se a oposição tentar derrubá-lo. "Vocês enfrentarão um dilema", disse ele aos militares que o escutavam. "Vocês poderiam ter de escolher na direção de quem apontar seus rifles: da oligarquia venezuelana ou do peito da população venezuelana", disse.
Chávez, um ex-militar golpista que foi eleito democraticamente em 1998, afirma liderar uma revolução para livrar a Venezuela dos grupos políticos tradicionais que governaram o país por décadas com corrupção e que deixaram mais de 80% da população na pobreza. A oposição, por sua vez, o acusa de arruinar, com suas políticas esquerdistas, a economia do país e de tentar implementar na Venezuela um regime comunista de estilo cubano.


Com agências internacionais

Texto Anterior: "Eixo do mal": Encontro sobre programa nuclear norte-coreano acaba sem avanços
Próximo Texto: Direitos humanos: Espanha desiste de pedir extradição, e Argentina soltará ex-repressores
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.