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VENEZUELA
De uniforme militar, presidente ameaça tomar concessões de TV e adverte sobre possível guerra civil se tentarem derrubá-lo
Chávez acusa oposição de preparar golpe
DA REDAÇÃO
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, acusou ontem seus adversários de conspirar para derrubá-lo e pediu aos militares para
estarem preparados para defender seu governo. Ele ameaçou
ainda tomar as concessões dos canais de TV, aos quais acusa de
apoiar a suposta conspiração, se
eles "voltarem a agitar o país".
"Há um novo plano subversivo
em preparação", disse Chávez em
um discurso durante uma cerimônia num quartel do Exército.
"Esses insurgentes circulam agora dizendo que agora acreditam
na Constituição. Eles não acreditam. Eles puseram suas máscaras
outra vez", disse. Vestido com
uniforme militar -o qual havia
prometido abandonar após a tentativa de golpe que o tirou do poder por dois dias, em abril do ano
passado-, Chávez sugeriu que a
conspiração envolva os EUA, que
apoiaram o golpe do ano passado.
"Eles [a oposição] estão buscando apoio internacional outra vez.
Ou que os EUA venham aqui",
disse. "Eu sempre terei este uniforme à mão no caso de qualquer
um pensar que pode invadir a Venezuela", afirmou, dizendo que a
oposição quer aplicar na Venezuela "o plano Libéria". Tropas
estrangeiras chegaram ao país
africano neste mês para tentar
controlar a situação no país, em
guerra civil.
As declarações de Chávez ocorrem num momento em que a situação de tensão política em que
vive o país desde o ano passado
havia baixado de tom, à espera da
decisão do Conselho Nacional
Eleitoral (CNE) sobre a validade
de um abaixo-assinado pedindo
um referendo para revogar o
mandato do presidente -que
vence em 2007.
"Não haveria sentido em uma
conspiração por parte da oposição, porque o ambiente é de absoluto convencimento de que a via
do referendo já está em curso,
após terem sido cumpridos os
seus requisitos", disse à Folha a
jurista Cecilia Sosa, presidente da
Suprema Corte do país entre 1996
e 1999, quando a instituição foi
dissolvida por Chávez.
Para ela, o presidente tenta, com
seu discurso, criar uma situação
de tensão para provocar uma reação da oposição que justifique
uma ação do governo para impedir o referendo. "Essa estratégia já
deu resultados outras vezes, mas
nas últimas semanas a oposição já
não está mais caindo nesse jogo."
O pedido da oposição para o referendo, entregue na semana retrasada, tinha mais de 3 milhões
de assinaturas, superando o mínimo de 2,6 milhões (20% do eleitorado) exigido pela Constituição.
Chávez alega, porém, que as assinaturas não são válidas porque
foram recolhidas antes do período permitido e porque teriam sido fraudadas, em parte.
O CNE, cujos membros foram
indicados no início da semana pelo Supremo Tribunal, deve analisar nos próximos dias se as assinaturas são válidas e, em caso de
aprovação, marcar o referendo.
"Estão começando a dizer que
Chávez não quer o referendo",
disse o presidente ontem. "Que
Chávez é tirano, para tentar levantar novamente uma serpente
com o apoio internacional e dizer
que devem se livrar de Chávez
porque Chávez é culpado", disse.
Chávez advertiu que o país pode
cair numa guerra civil se a oposição tentar derrubá-lo. "Vocês enfrentarão um dilema", disse ele
aos militares que o escutavam.
"Vocês poderiam ter de escolher
na direção de quem apontar seus
rifles: da oligarquia venezuelana
ou do peito da população venezuelana", disse.
Chávez, um ex-militar golpista
que foi eleito democraticamente
em 1998, afirma liderar uma revolução para livrar a Venezuela dos
grupos políticos tradicionais que
governaram o país por décadas
com corrupção e que deixaram
mais de 80% da população na pobreza. A oposição, por sua vez, o
acusa de arruinar, com suas políticas esquerdistas, a economia do
país e de tentar implementar na
Venezuela um regime comunista
de estilo cubano.
Com agências internacionais
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