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São Paulo, sábado, 30 de agosto de 2003

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Celebração do 2º ano expõe insatisfação de famílias

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

O primeiro aniversário dos atentados de 11 de setembro de 2001 parou a cidade e uniu os nova-iorquinos numa cerimônia histórica. Mas o segundo deverá ser bem diferente.
Familiares de vítimas do ataque às torres do World Trade Center planejam protestos para o aniversário. Estão irritados com a indefinição em relação ao destino do local e ao formato do memorial que homenageará os mortos.
"É triste para mim e para meu marido vermos o aniversário chegando de novo, e tudo o que Nova York pode nos oferecer é um buraco no chão. O memorial deveria ser construído antes de qualquer discussão sobre o que fazer com o restante do espaço, se é que é algo deve ser feito", diz Maria Ragonese. Laura Marie, sua cunhada, estava no 101º andar da torre sul.
Além do tempo que se passou, outro fator deixa agora ainda mais controvertida a discussão do memorial: o processo de escolha do projeto entra na fase final.
Em setembro, a comissão designada pela Autoridade Portuária (órgão dos governos de Nova York e Nova Jersey que controla o terreno do WTC) vai anunciar os finalistas, que passarão a ter suas propostas discutidas mais a fundo. No mês seguinte, deverá ser conhecido o vencedor.
Um dos pontos polêmicos é em relação ao tamanho do memorial. Muitos parentes gostariam que fosse preservada a área mais próxima à fundação do World Trade Center, 18 metros abaixo do nível do solo. Argumentam que a maior parte dos corpos foi encontrada nessa região (cada um dos 110 andares dos dois prédios foi comprimido até ficar com pouco menos de 30 cm de altura).
Para protestar contra os planos de ocupar a região com outras coisas, a Coalizão das Famílias do 11/9, que reúne seis grupos de parentes de vítimas, convocou uma manifestação no Marco Zero para a véspera, 10 de setembro. No dia seguinte, também em protesto, quer que as pessoas modifiquem os tradicionais laços amarelos que marcam as celebrações sobre o atentado -a idéia é que as fitas ganhem bordas pretas.
Outro problema é a parte interna do memorial. A discussão é se bombeiros e funcionários da Autoridade Portuária que entraram nos prédios para ajudar a resgatar quem estava lá deveriam ter homenagem à parte, ou se é melhor colocar todos os nomes juntos.
"As famílias dos bombeiros estão muito unidas, e sinto que elas não estão sendo muito respeitosas com os civis que morreram", afirma Elaine Leinung, que perdeu um filho no ataque. "Estou ficando irritada. Não quero o buraco lá, mas acho que apenas um memorial deveria ser construído. Deveria listar quem era bombeiro, quem trabalhava para a Autoridade Portuária, mas não quero dois memoriais. Todo mundo estava fazendo um trabalho naquele dia. Ninguém sabia que estava entrando no prédio para morrer."
Ao redor desses problemas, há a indefinição sobre o que será feito no lugar. Em fevereiro, o projeto do arquiteto Daniel Libeskind foi escolhido como vencedor da concorrência comandada pela Autoridade Portuária. Mas o empresário Larry Silverstein, que arrendara as torres pouco antes do ataque, não gostou do projeto. Após divergências, os dois concordaram em discutir uma nova idéia.
"Tanto tempo passou, e algumas pessoas sentem que não houve progresso em relação a ouvir as suas opiniões e os sentimentos das famílias", diz Carol Ashley -sua filha trabalhava no 93º andar da torre norte. "Eu preferiria que o memorial tivesse sido feito primeiro e que as outras coisas tivessem sido desenhadas ao redor dele, mas isso não vai acontecer. Há muitos interesses comerciais", afirma ela, que, diferentemente de 2002, não vai à celebração agora.
A cerimônia deste ano será semelhante à de 2002. Na celebração, que durará três horas e meia, serão novamente lidos os nomes das vítimas, só que agora por crianças. Será repetido também o Tributo das Luzes, usado na homenagem feita seis meses após o ataque -dois potentes feixes de luz vão "imitar" as torres.


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