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Celebração do 2º ano expõe insatisfação de famílias
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
O primeiro aniversário dos
atentados de 11 de setembro de
2001 parou a cidade e uniu os nova-iorquinos numa cerimônia
histórica. Mas o segundo deverá
ser bem diferente.
Familiares de vítimas do ataque
às torres do World Trade Center
planejam protestos para o aniversário. Estão irritados com a indefinição em relação ao destino do
local e ao formato do memorial
que homenageará os mortos.
"É triste para mim e para meu
marido vermos o aniversário chegando de novo, e tudo o que Nova
York pode nos oferecer é um buraco no chão. O memorial deveria
ser construído antes de qualquer
discussão sobre o que fazer com o
restante do espaço, se é que é algo
deve ser feito", diz Maria Ragonese. Laura Marie, sua cunhada, estava no 101º andar da torre sul.
Além do tempo que se passou,
outro fator deixa agora ainda
mais controvertida a discussão do
memorial: o processo de escolha
do projeto entra na fase final.
Em setembro, a comissão designada pela Autoridade Portuária
(órgão dos governos de Nova
York e Nova Jersey que controla o
terreno do WTC) vai anunciar os
finalistas, que passarão a ter suas
propostas discutidas mais a fundo. No mês seguinte, deverá ser
conhecido o vencedor.
Um dos pontos polêmicos é em
relação ao tamanho do memorial.
Muitos parentes gostariam que
fosse preservada a área mais próxima à fundação do World Trade
Center, 18 metros abaixo do nível
do solo. Argumentam que a
maior parte dos corpos foi encontrada nessa região (cada um dos
110 andares dos dois prédios foi
comprimido até ficar com pouco
menos de 30 cm de altura).
Para protestar contra os planos
de ocupar a região com outras
coisas, a Coalizão das Famílias do
11/9, que reúne seis grupos de parentes de vítimas, convocou uma
manifestação no Marco Zero para
a véspera, 10 de setembro. No dia
seguinte, também em protesto,
quer que as pessoas modifiquem
os tradicionais laços amarelos que
marcam as celebrações sobre o
atentado -a idéia é que as fitas
ganhem bordas pretas.
Outro problema é a parte interna do memorial. A discussão é se
bombeiros e funcionários da Autoridade Portuária que entraram
nos prédios para ajudar a resgatar
quem estava lá deveriam ter homenagem à parte, ou se é melhor
colocar todos os nomes juntos.
"As famílias dos bombeiros estão muito unidas, e sinto que elas
não estão sendo muito respeitosas com os civis que morreram",
afirma Elaine Leinung, que perdeu um filho no ataque. "Estou ficando irritada. Não quero o buraco lá, mas acho que apenas um
memorial deveria ser construído.
Deveria listar quem era bombeiro, quem trabalhava para a Autoridade Portuária, mas não quero
dois memoriais. Todo mundo estava fazendo um trabalho naquele
dia. Ninguém sabia que estava entrando no prédio para morrer."
Ao redor desses problemas, há a
indefinição sobre o que será feito
no lugar. Em fevereiro, o projeto
do arquiteto Daniel Libeskind foi
escolhido como vencedor da concorrência comandada pela Autoridade Portuária. Mas o empresário Larry Silverstein, que arrendara as torres pouco antes do ataque, não gostou do projeto. Após
divergências, os dois concordaram em discutir uma nova idéia.
"Tanto tempo passou, e algumas pessoas sentem que não houve progresso em relação a ouvir as
suas opiniões e os sentimentos
das famílias", diz Carol Ashley
-sua filha trabalhava no 93º andar da torre norte. "Eu preferiria
que o memorial tivesse sido feito
primeiro e que as outras coisas tivessem sido desenhadas ao redor
dele, mas isso não vai acontecer.
Há muitos interesses comerciais",
afirma ela, que, diferentemente de
2002, não vai à celebração agora.
A cerimônia deste ano será semelhante à de 2002. Na celebração, que durará três horas e meia,
serão novamente lidos os nomes
das vítimas, só que agora por
crianças. Será repetido também o
Tributo das Luzes, usado na homenagem feita seis meses após o
ataque -dois potentes feixes de
luz vão "imitar" as torres.
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