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opinião
Movimento de esquerdista perde o fôlego
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
A julgar pelas manifestações recentes, o populista (de
esquerda) Andrés Manuel
López Obrador se vê com nova bala na agulha e em condições de liderar outra onda de
mobilização popular com
objetivo mais amplo do que
uma recontagem de votos.
Ele próprio fez o anúncio,
há mais ou menos um mês,
criando a expectativa de escalada numa outra espécie
de confronto com o governo.
Obrador prometeu iniciar
um movimento de "transformação das instituições mexicanas", sem que fosse dito o
que isso poderia significar de
imediato. É o que informa a
"Latin American Newsletter". O México herdou da
longa "ditadura disfarçada"
do Partido Revolucionário
Institucional (PRI) um mandato presidencial de seis
anos e componentes de um
sistema no qual um partido
se confundia com o Estado.
Era a pretensa continuidade da Revolução Mexicana
iniciada em 1910. Obrador
estaria dizendo que a "democratização" não se completou e propondo, sem clareza,
que os mexicanos se lançassem em ações nacionais, acima de interesses partidários,
capazes de completá-la.
Na ausência de maiores
detalhes por parte do próprio Obrador, é o que se pode
perceber, ao menos por enquanto. A conclusão foi a de
que o candidato oficialmente
derrotado nas eleições presidenciais mexicanas, mas
com o peso de praticamente
a metade dos votos depositados nas urnas, não pretende
recolher-se à espera de nova
disputa, embora a "resistência pacífica" em favor da recontagem total dos votos tenha perdido ultimamente
boa parte de seu fôlego.
Não foi ocupado o aeroporto internacional da capital mexicana, como queriam
os partidários de Obrador.
Tampouco foram bloqueadas quatro pontes de acesso
ao território americano. As
barricadas de rua tinham de
suportar um grau de irritação popular. Mesmo assim
vinha prevalecendo a idéia,
diante da quase convicção de
derrota no tribunal eleitoral
federal, de manter a "resistência pacífica" e esgotar todos os meios legais visando a
conseguir a recontagem.
O movimento anunciado
por Obrador, sem maiores
detalhes, correria em faixa
própria, se é que conseguiria
a dimensão ambicionada.
Há efervescência em ambos os lados. Liderados pelo
ex-chanceler Jorge Castañeda e pelo escritor Enrique
Krauze, 135 intelectuais negaram fraude nas urnas.
Outros 500, tendo à frente
os escritores Sergio Pitol,
Carlos Monsivais e Elena Poniatowski, insistiram na necessidade de recontagem total. Entrou em campo até um
grupo guerrilheiro, o chamado Exército Popular Revolucionário, pregando "resistência armada à imposição
de Calderón como futuro
presidente". O EPR surgiu
em 1995 com explosões de
pequenos artefatos e muito
discurso.
Mas Felipe Calderón, do
Partido da Ação Nacional, do
presidente Vicente Fox, tem
a vitória assegurada.
O jornalista NEWTON CARLOS é analista de
questões internacionais
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