São Paulo, quarta-feira, 30 de agosto de 2006

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opinião

Movimento de esquerdista perde o fôlego

NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

A julgar pelas manifestações recentes, o populista (de esquerda) Andrés Manuel López Obrador se vê com nova bala na agulha e em condições de liderar outra onda de mobilização popular com objetivo mais amplo do que uma recontagem de votos. Ele próprio fez o anúncio, há mais ou menos um mês, criando a expectativa de escalada numa outra espécie de confronto com o governo.
Obrador prometeu iniciar um movimento de "transformação das instituições mexicanas", sem que fosse dito o que isso poderia significar de imediato. É o que informa a "Latin American Newsletter". O México herdou da longa "ditadura disfarçada" do Partido Revolucionário Institucional (PRI) um mandato presidencial de seis anos e componentes de um sistema no qual um partido se confundia com o Estado. Era a pretensa continuidade da Revolução Mexicana iniciada em 1910. Obrador estaria dizendo que a "democratização" não se completou e propondo, sem clareza, que os mexicanos se lançassem em ações nacionais, acima de interesses partidários, capazes de completá-la.
Na ausência de maiores detalhes por parte do próprio Obrador, é o que se pode perceber, ao menos por enquanto. A conclusão foi a de que o candidato oficialmente derrotado nas eleições presidenciais mexicanas, mas com o peso de praticamente a metade dos votos depositados nas urnas, não pretende recolher-se à espera de nova disputa, embora a "resistência pacífica" em favor da recontagem total dos votos tenha perdido ultimamente boa parte de seu fôlego. Não foi ocupado o aeroporto internacional da capital mexicana, como queriam os partidários de Obrador. Tampouco foram bloqueadas quatro pontes de acesso ao território americano. As barricadas de rua tinham de suportar um grau de irritação popular. Mesmo assim vinha prevalecendo a idéia, diante da quase convicção de derrota no tribunal eleitoral federal, de manter a "resistência pacífica" e esgotar todos os meios legais visando a conseguir a recontagem.
O movimento anunciado por Obrador, sem maiores detalhes, correria em faixa própria, se é que conseguiria a dimensão ambicionada. Há efervescência em ambos os lados. Liderados pelo ex-chanceler Jorge Castañeda e pelo escritor Enrique Krauze, 135 intelectuais negaram fraude nas urnas. Outros 500, tendo à frente os escritores Sergio Pitol, Carlos Monsivais e Elena Poniatowski, insistiram na necessidade de recontagem total. Entrou em campo até um grupo guerrilheiro, o chamado Exército Popular Revolucionário, pregando "resistência armada à imposição de Calderón como futuro presidente". O EPR surgiu em 1995 com explosões de pequenos artefatos e muito discurso. Mas Felipe Calderón, do Partido da Ação Nacional, do presidente Vicente Fox, tem a vitória assegurada.


O jornalista NEWTON CARLOS é analista de questões internacionais


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