São Paulo, segunda-feira, 30 de agosto de 2010

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Obama tenta capitalizar saída do Iraque

Nicholas Kamm-28.ago.2010/France Presse
Depois de 12 meses no Iraque, soldados americanos desembarcam na base aérea de Andrews, no Estado de Maryland

Em baixa nas pesquisas, presidente terá dificuldade para tornar redução das tropas um tema de campanha

Para analistas, público americano tem "pressa" em esquecer da guerra; redução das tropas será oficializada amanhã

ANDREA MURTA
DE WASHINGTON

Sete anos após a invasão, os EUA estão prontos a esquecer a guerra do Iraque.
Amanhã, o presidente Barack Obama anunciará oficialmente, em discurso pela TV, o fim das operações de combate e a redução das tropas para 50 mil, dedicadas a apoiar o Exército local.
É tradicional nos EUA que a política externa importe menos na votação para o Congresso, como a de 2 de novembro, quando os temas centrais são domésticos e econômicos.
Mesmo na eleição presidencial, em 2012, há pouca chance de que a melhora da situação do Iraque influencie o eleitorado, apesar da expectativa democrata.
Primeiro, porque essa não é a guerra do presidente Barack Obama, que tentará a reeleição. O fardo da invasão ficou associado aos republicanos e ao ex-presidente George W. Bush (2001-2009).
Segundo, porque as atenções estarão voltadas para a situação no Afeganistão -essa sim a "guerra de Obama"-, que ainda contará com forte presença de tropas americanas em 2012.
Nem a retirada simbólica das tropas de combate do Iraque, que deixará a partir de setembro 50 mil soldados americanos para treinar e assistir os iraquianos, deverá ser usada politicamente.
"Obama pode até tentar levar os louros da diminuição das tropas", disse Andrew Bacevich, militar reformado do Exército e professor de relações internacionais da Universidade de Boston.
"Mas essa queda ocorreria se seu antigo rival à Presidência, o republicano John McCain, tivesse vencido."
Barry Posen, do MIT (Massachusetts Institute of Technology), concorda. "Obama não colherá muitos frutos. Não é uma vitória sua; estamos ainda no prazo programado pelo outro governo."
Além disso, não foi completamente comprado nem na imprensa nem entre a população o discurso de que a era dos combates acabou. E ninguém acha que deixar 50 mil soldados no Iraque configura uma "retirada".

PRESSA COLETIVA
Por outro lado, ainda que a situação piore, será difícil para a oposição criticar o governo por uma guerra iniciada sob gestão republicana.
Para Posen, o público está tão cansado do Iraque que só uma situação catastrófica tornaria minimamente aceitável falar em interromper a retirada ou de voltar ao país.
A pressa coletiva dos americanos em deixar para trás a operação que tanto custou em dinheiro -mais de US$ 740 bilhões para os EUA- e vidas -cerca de 4.400 americanos e ao menos 97 mil civis iraquianos- dificulta até mesmo a análise do legado da invasão de 2003.
Não foi sempre assim. Inicialmente, a guerra foi boa para Obama. Para Michael O'Hanlon, analista de segurança do Instituto Brookings, o Iraque ajudou inclusive a elegê-lo. Na campanha, ele pôde exercer toda sua oposição à guerra.
Para Bacevich, o impacto dos sete anos de guerra está nas Forças Armadas, que "se reconfiguraram de uma força especializada em batalhas convencionais para uma focada em contrainsurgência e contraterrorismo".
A principal lição da guerra, diz, é que "os EUA não têm a sabedoria e nem o dinheiro necessários para transformar outros países".


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