São Paulo, domingo, 30 de agosto de 1998

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Juiz enfrentou pressões e desconfiança

de Buenos Aires

"Era uma empreitada difícil, arriscada e incerta." Assim o presidente do tribunal que condenou os comandantes militares em 1985, León Arslanián, 55, define o julgamento.
"Havia uma desconfiança geral. Lutamos contra a incredulidade das pessoas e contra o poder que as Forças Armadas ainda tinham", lembra Arslanián.
Atual ministro da Justiça da Província de Buenos Aires, ele leu em 9 de dezembro a sentença de prisão perpétua para os nove militares que dirigiram o país.
"Foi uma satisfação terminar o julgamento que parecia impossível. Foi o tribunal mais importante do século na América Latina", diz.
"Quando vi o documentário, recordei o momento e cheguei à conclusão de que esse fato se torna cada dia mais importante. O depoimento das vítimas é dramático", afirma Arslanián.
No julgamento, que começou em abril, Videla, Massera e seus colegas foram condenados por sequestros, homicídios, tortura e outros crimes.
Em 1990, o presidente Carlos Menem indultou a todos. Hoje, as entidades de direitos humanos tentam voltar a condenar os militares com processos pelo sequestro de bebês, filhos de desaparecidos nascidos na prisão.
"Há uma reação negativa das pessoas, porque os culpados, no final, não foram punidos", afirma Arslanián.
"Acredito que foi isso que fez o documentário ter tanta audiência. As pessoas tiveram a satisfação de ver os militares condenados, um contraste com a sorte que eles tiveram depois."
Ele conta que, na época, a Corte Suprema de Justiça impediu a transmissão pela TV. "Havia uma clara pressão dos militares."
Para Arslanián, o tema vai seguir vivo na Argentina, enquanto não se conhecer o destino final dos milhares de desaparecidos. "As pessoas têm o direito de saber a verdade." (AG)



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