São Paulo, domingo, 30 de agosto de 1998

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GUERRA SUJA
Cenas de 1985 com áudio original são exibidas pela primeira vez
TV mostra o julgamento de líderes militares argentinos

AUGUSTO GAZIR
de Buenos Aires

Livros, documentários na TV e no cinema. O período do último regime militar argentino (1976-83) é sucesso de público. Pendências judiciais e a recente prisão do ex-general Jorge Rafael Videla mantêm o tema aberto no país.
Na semana passada, os tradicionais programas de variedades perderam o posto de campeões de audiência na TV para o documentário Esma: o Dia do Julgamento".
Veiculado pelo Canal 13, exibiu pela primeira vez na TV o julgamento em que os comandantes do regime militar foram condenados a prisão perpétua, em 1985. A repercussão foi tanta que o canal repetiu o programa dois dias depois.
"Na época, a TV mostrou imagens editadas com o áudio de um locutor em estúdio. As rádios transmitiram somente a sentença final", disse a jornalista Magdalena Ruiz Guinazu, produtora e apresentadora do documentário.
Os trechos selecionados das 500 horas de gravação do julgamento se referem à repressão na Esma (Escola de Mecânica da Marinha).
A reportagem intercala as imagens do tribunal com o depoimento atual de Emiliano Hueravilo, 21, filho de desaparecidos políticos, nascido na Esma. "Fazer um resumo geral tornaria o trabalho disperso. Focalizamos a Esma, porque o lugar simboliza a repressão", disse Guinazu.
Uma das passagens marcantes é o discurso de defesa do ex-almirante Emilio Massera. Junto com Videla, ele liderou o golpe e dirigiu o país no início do regime.
Estamos aqui porque ganhamos a guerra das armas e perdemos a guerra psicológica. Não vim me defender. Ninguém tem de se defender por ganhar uma guerra justa contra o terrorismo subversivo", afirmou Massera na época.
Calcula-se que 30.000 pessoas desapareceram durante o regime militar.
Livrarias e cinemas também revivem o período do governo militar. Os livros sobre o assunto têm procura constante. Este ano registrou lançamentos como "O Terror e a Glória", de Abel Gilbert e Miguel Vitagno, e "O Esquadrão Perdido", de José Luis Mohr.
O primeiro relaciona o governo militar com a Copa do Mundo de 1978, disputada na Argentina. O segundo relata os casos de soldados sequestrados e desaparecidos durante o regime.
No cinema, o filme uruguaio "Por Esses Olhos", da produtora e diretora Virginia Martínez, conta a história de Mariana Zaffaroni, nascida no Uruguai em 1975.
Com um ano, ela foi presa junto com os pais em Buenos Aires. Os pais desapareceram, e Mariana foi entregue à família do militar Miguel Furci. A Justiça comprovou que a filha dos Furci era Mariana. A menina virou símbolo internacional da luta para recuperar crianças desaparecidas. O militar foi condenado a sete anos.
Final da história: Mariana conheceu a avó, mas se recusou a viver com parentes sanguíneos. Hoje, usa o nome de Daniela e vive com o pai adotivo que já cumpriu a pena. Ela pediu indenização do Estado pelo sequestro.



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