São Paulo, Quinta-feira, 30 de Setembro de 1999
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TIMOR LESTE

País diz que conduzirá sua própria apuração sobre crimes contra os direitos humanos no território

Indonésia rejeita investigação da ONU

Reuters
Soldado australiano da força da ONU filma restos de corpos queimados em Tasi Tolu, no Timor Leste


RICARDO BONALUME NETO
enviado especial a Darwin



A Indonésia rejeitou ontem a criação de uma comissão da ONU para investigar a onda de violência em Timor Leste. O governo indonésio afirma que conduzirá suas próprias investigações.
"Rechaçamos a resolução, rechaçamos também a comissão", disse o ministro indonésio da Justiça, Muladi, após reunião de gabinete com o presidente Habibie.
Em resposta, a ONU afirmou que prosseguirá com as investigações, com ou sem a cooperação indonésia. A comissão internacional de investigação, aprovada na última segunda, é um possível embrião de um tribunal para crimes de guerra.
O secretário da Defesa dos EUA, William Cohen, passou ontem por Darwin, a cidade australiana de onde partiram as forças de paz para Timor, e, além de prometer mais auxílio para a missão, alertou para o risco de ataques de paramilitares pró-Indonésia a partir do oeste da ilha.
Cohen partiu em seguida para Jacarta para conversar com autoridades indonésias e deixar um recado curto e grosso para os militares desse país não apoiarem os paramilitares timorenses. Para ele, os indonésios "não podem ser cúmplices" dos paramilitares que "devastaram Timor".
A onda de violência começou com a divulgação do resultado do plebiscito de 30 de agosto, em que 78,5% da população votou pela independência em relação à Indonésia. A ex-colônia portuguesa foi invadida pelos indonésios em 75 e anexada em 76.
Os EUA também estão colocando ênfase em medidas econômicas para pressionar a Indonésia a aceitar o resultado do referendo e deixar de apoiar os paramilitares.
Após o desembarque da Interfet (força multinacional para Timor Leste) no território, composta em sua maioria por australianos, ficou claro o conluio entre militares indonésios e paramilitares de Timor. Documentos foram achados provando a cumplicidade.
O auxílio prometido pelos EUA não deve incluir tropas de terra, porém. Cohen afirmou que o pessoal de apoio norte-americano deverá receber mais 130 homens além dos 260 já prometidos.
Um porta-helicóptero com helicópteros pesados também estará disponível ao comando da força multinacional, que hoje tem em torno de 5.000 homens.
A decisão norte-americana de limitar sua ação em terra deixou frustrado o primeiro-ministro australiano, John Howard, que contava com essa participação para aliviar o fardo do Exército de seu país. A Austrália tem um Exército de apenas 25 mil soldados, dos quais 4.500 deverão ir para Timor Leste como parte da força total de 8.000 a ser constituída.
Um pelotão brasileiro de 51 homens embarcará para a ex-colônia portuguesa neste final de semana. A Interfet também incluirá tropas da Nova Zelândia, Reino Unido, França, Itália, Tailândia, Filipinas e Malásia.


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