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TERROR EM LONDRES
Em encontro com comissão que investiga caso, família se "angustia" e reitera que polícia britânica mentiu
Pais vêem filme da morte de Jean Charles
FÁBIO VICTOR
DE LONDRES
Em seu terceiro dia em Londres,
a família de Jean Charles de Menezes, o brasileiro morto por engano pela polícia britânica em julho passado, se reuniu ontem por
quase quatro horas com a direção
da IPCC (Comissão Independente de Reclamações contra a Polícia), que investiga o caso.
Maria Otone de Menezes e Matozinhos Otone da Silva, pais de
Jean Charles, e Giovani, irmão dele, assistiram às imagens do circuito interno de TV da estação de
metrô de Stockwell, onde o eletricista mineiro foi confundido com
um terrorista e baleado sete vezes
na cabeça. "Foi muito angustiante
ver como o Jean Charles estava relaxado e normal, especialmente à
luz do comunicado feito imediatamente após a morte", afirmaram os familiares numa nota divulgada depois do encontro.
As imagens do circuito interno
são uma peça crucial da investigação, pois põem por terra a versão
inicial da polícia de que a vítima
foi alvejada porque vestia um casaco grosso e entrou apressada e
nervosa na estação, pulando as
catracas na entrada. Vazado possivelmente por algum funcionário da IPCC, o único órgão além
da polícia a ter acesso ao seu conteúdo, o vídeo foi a base da reportagem da emissora britânica ITV,
que mudou o rumo do caso.
Questionada se reconheceu facilmente o filho nas imagens, Maria de Menezes balançou a cabeça
positivamente e chorou. Já Giovani disse estar ainda mais convicto
de que a polícia mentiu. "Agora
tenho certeza disso." A nota que
divulgaram diz ainda que a família ainda tem muitas perguntas a
fazer e que o encontro de ontem
foi o primeiro de uma série.
Também num comunicado
curto, o diretor da IPCC, Nick
Hardwick, afirmou ter explicado
aos familiares de Jean Charles como a investigação está sendo conduzida e que lhes passou as informações atualizadas sobre o processo, acrescentando que esses
dados são confidenciais.
O caso do brasileiro é a maior
investigação já produzida pela
IPCC, órgão criado no ano passado para investigar reclamações
contra a polícia no Reino Unido.
A comissão espera concluir o
trabalho até dezembro. A partir
do resultado do seu relatório é
que a Promotoria definirá se vai
levar o caso aos tribunais.
A família do eletricista foi à capital britânica por articulação do
escritório de advocacia londrino
que a representa no caso, mas a
viagem foi paga pela Scotland
Yard, que já dera 15 mil libras
(cerca de R$ 65 mil) para ajudar a
custear o enterro. Chegou-se a divulgar que a oferta foi rejeitada,
mas parentes disseram à Folha
que o dinheiro foi recebido. Veículos da mídia britânica também
têm dado nas últimas semanas
contribuições financeiras aos familiares de Jean Charles, normalmente em troca de entrevistas.
Outras reuniões estão previstas
para os próximos dias, entre elas
um ato público com a presença de
parlamentares. Não está descartado um encontro com representantes da polícia, desde que, exige
a família, sem a presença de Ian
Blair, o comissário policial.
Jornais londrinos publicaram
ontem que seis policiais envolvidos na operação que resultou na
morte do brasileiro deverão enfrentar um processo disciplinar,
algo que facilitaria um futuro indiciamento criminal deles.
Numa entrevista ao "Guardian", o encarregado por operações antiterrorismo da Scotland
Yard, Andy Hayman, disse que
investigações da polícia revelam
que novas células, sem conexões
com as que executaram os atentados de 7 de julho, duas semanas
antes da morte de Jean Charles,
planejam novos ataques à cidade,
considerada por ele alvo prioritário de extremistas.
O valor das primeiras indenizações aos feridos nos atentados deverá ser divulgado hoje pelo fundo governamental responsável
pelos pagamentos. A iniciativa
surgiu depois de a mídia britânica
divulgar dramas pessoais de vítimas mutiladas que passam por
dificuldades financeiras.
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