São Paulo, sábado, 30 de setembro de 2006

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RESENHA

Woodward descreve Casa Branca caótica

Ahmad Al-Rubaye/AFP
Poça de sangue em Bagdá: pedido de mais tropas foi ignorado


DAVID E. SANGER
DO "NEW YORK TIMES"

Em setembro de 2003, a Casa Branca ignorou um alerta urgente de um de seus principais consultores sobre o Iraque, que advertiu que milhares de soldados norte-americanos adicionais seriam necessários para debelar a insurgência naquele país, de acordo com o novo livro de Bob Woodward, jornalista do "Washington Post" e escritor. O livro descreve uma Casa Branca eivada de cisões quanto à guerra e de problemas de coordenação.
O alerta é descrito em "State of Denial" [estado de negação], que deve sair na segunda-feira pela editora Simon & Schuster.
O livro afirma que os principais assessores do presidente Bush freqüentemente estavam em desacordo e ocasionalmente mal se falavam, mas compartilhavam da tendência a desconsiderar, por excessivamente pessimistas, as avaliações dos comandantes militares e de outras fontes sobre o Iraque.
Em novembro de 2003, por exemplo, Bush teria supostamente dito, sobre a situação no Iraque: "Não quero que nenhum membro do gabinete a defina como insurgência. Não creio que tenhamos chegado a esse ponto ainda".

Rumsfeld protegido
O livro descreve o secretário da Defesa Donald Rumsfeld como não diretamente envolvido nos detalhes da ocupação e reconstrução do Iraque, tarefa que inicialmente deveria ser supervisionada pelo Pentágono, e o retrata como tão hostil a Condoleezza Rice, então assessora de Segurança Nacional, que Bush se viu obrigado a instruir o secretário a atender aos telefonemas dela.
O livro, adquirido por um repórter do "New York Times" a preço de varejo antes de sua data oficial de lançamento, é o terceiro que Woodward escreve para relatar os debates internos da Casa Branca desde os ataques do 11 de Setembro.
Como as obras anteriores de Woodward [que ganhou notoriedade ao revelar, com Carl Bernstein, o esquema de espionagem na sede do Partido Democrata que acabou levando à renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974], o novo livro inclui extensas citações textuais de conversas e descreve o que funcionários do governo pensavam, sem identificar as fontes dessas informações.
Robert D. Blackwill, então principal assessor do Conselho de Segurança Nacional para assuntos iraquianos, teria sido o responsável pelo alerta quanto à necessidade de até 40 mil soldados adicionais, em um longo memorando enviado a Rice. Segundo Woodward, a Casa Branca não fez nada em resposta.
O livro descreve a cisão entre Colin Powell, então secretário de Estado de Bush, e Rumsfeld.
Após as eleições de 2004, Powell disse a Andrew Card, chefe da Casa Civil da Casa Branca: "Se eu não sair, Don deveria sair", em referência a Rumsfeld. Card então empreendeu um esforço para derrubar Rumsfeld, no fim de 2005, mas suas atividades foram podadas por Bush, diz o livro.
Os primeiros dois livros de Woodward sobre o governo Bush, "Bush at War" [Bush em guerra] e "Plan of Attack" [plano de ataque], retratam um presidente no controle e uma equipe leal e bem coordenada. "State of Denial" segue uma linha bastante diferente.

Osama escapa
O livro de 537 páginas descreve as tensões entre funcionários de primeiro escalão do governo já desde seus primeiros dias. Woodward escreve que, nas semanas que antecederam o 11 de Setembro, o chefe dos serviços de inteligência, George J. Tenet, acreditava que Rumsfeld estivesse bloqueando os esforços para capturar ou matar Osama bin Laden.
Rumsfeld questionou os sinais eletrônicos de suspeitos de terrorismo que a Agência de Segurança Nacional (NSA) vinha interceptando, e mencionou a possibilidade de que fizessem parte de um grande plano da Al Qaeda para desviar as atenções dos EUA.
Em 10 de julho de 2001, diz o livro, Tenet e J. Cofer Black, o comandante das operações de combate ao terrorismo dos serviços de inteligência, se reuniram com Rice na Casa Branca para expressar a seriedade das informações que a Agência Central de Inteligência (CIA) vinha recolhendo sobre um ataque iminente. Mas os dois saíram da reunião com a sensação de que Rice não havia encarado os avisos seriamente.
O livro descreve um diálogo, no começo de 2003, entre o general Jay Garner, o oficial reformado que Bush apontou como administrador do Iraque no pós-guerra, o presidente e alguns de seus assessores. Depois que Garner concluiu sua apresentação, que incluía planos de usar até 300 mil soldados do antigo Exército iraquiano para ajudar a garantir a segurança no pós-guerra, diz o livro, ninguém fez perguntas. Mas Garner em breve terminou removido do posto, em favor de Bremer, cuja decisão de desmobilizar o Exército iraquiano e remover de seus cargos os membros do Partido Baath terminou sendo algo de pesadas críticas do governo, posteriormente.
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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