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São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2003

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DRAMA

11 são resgatados, 1 é encontrado morto, e outro continua desaparecido; Putin pensa em condecorar sobreviventes

Mineiros russos são salvos após seis dias

DA REDAÇÃO

Após seis dias presos a 800 m da superfície, 11 mineiros de carvão foram resgatados ontem em Novoshakhtinsk (sul da Rússia). Um outro já estava morto. A equipe de salvamento conseguiu chegar até o grupo por meio de um túnel que teve de ser perfurado e dinamitado a partir de um poço vizinho.
Um último mineiro seguia desaparecido. Na última quinta-feira, 46 ficaram presos quando a inundação do poço em que estavam pela água que vazou de um lago subterrâneo bloqueou a saída. No sábado, 33 foram resgatados, sem a necessidade de um túnel. Os 13 restantes haviam sido dados como desaparecidos, já que não se tinha contato com eles.
A equipe de salvamento alcançou, primeiro, um lugar em que os últimos mineiros deveriam estar refugiados para escapar da inundação. Ao entrarem no local, encontraram um rabisco num duto de ventilação indicando para onde o grupo havia se deslocado.
Segundo Vasily Karlov, as condições haviam se tornado desesperadoras nas últimas horas. "Sentíamos que o nível da água subia, que havia pouco oxigênio e que as pessoas não estavam se sentindo bem", disse, no hospital.
"Quando vimos a equipe de salvamento, foi como a aparição de Cristo", afirmou Vasily Avdeyev, diretor da mina. "Não tínhamos comida. Discursei dizendo que um jejum de 20 dias nunca matou ninguém, e é bom para a saúde."
Outro problema era a água para beber. "Usávamos um ou dois filetes de água vindos do poço, mas não dava para tomar, era muito ruim", disse Vladimir Mikhailov. "No final, só restava uma lâmpada das 12 que tínhamos. Então, apagávamos sempre. Nas últimas horas, nós tateamos no escuro."
"Eles pareciam bem para quem estava preso numa mina por seis dias", disse Alexander Smetalin, que testemunhou o resgate. Segundo ele, os mineiros haviam escalado um declive do poço que os deixou acima do nível da água. O colega desaparecido havia deixado o grupo para buscar uma saída e continuaria a ser procurado.
A maioria deles caminhou por conta própria ao chegar na superfície após um trajeto subterrâneo de cerca de 3 km em que foram escoltados ou carregados. Um pó negro cobria seus rostos. Assim que deixaram o poço, os parentes que faziam vigília do lado de fora gritaram os nomes dos mineiros.
O chefe do hospital para onde foram levados, Yuri Grishchenko, disse que os resgatados sofriam de séria tensão e de estresse.
Também ontem, cinco mineiros morreram numa explosão em Partizansk (leste da Rússia). Outros 66 foram salvos. Após mais esse caso, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que acidentes em minas no país estão se tornando "sistemáticos" e falou em condecorar os 11 resgatados.
Segundo a agência de notícias Itar-Tass, a inundação na mina de Novoshakhtinsk foi a segunda do ano no local. Na outra, ninguém trabalhava na hora. Autoridades afirmaram que o poço inundado será fechado. Os mineiros dizem que não recebem há sete meses.
Os acidentes são comuns na indústria de carvão russa, com protestos frequentes contra salários atrasados e condições de seguranças. Segundo o sindicato dos mineiros do setor, 68 morreram no trabalho em 2002, e 98, em 2001.


Com agências internacionais

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