São Paulo, sábado, 30 de outubro de 2004

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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL

Campanha pode se voltar para temas que favorecem o presidente

Fita é um "presente" para Bush, dizem analistas dos EUA

LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK

Querendo ou não, Osama bin Laden acaba de ajudar George W. Bush em sua campanha para se reeleger presidente dos EUA. Com a corrida eleitoral empatada a apenas quatro dias do pleito, isso pode culminar na vitória do republicano, segundo analistas americanos.
"[A divulgação do vídeo] favorece Bush de modo tão claro que você tem de se perguntar quem Bin Laden quer que ganhe as eleições", disse à Folha Patrick Basham, especialista em opinião pública e eleições do Instituto Cato, em Washington. "A fita é sobre Bush ser um mau presidente, mas parece que ele [Bin Laden] foi mal orientado."
Mas para James Zogby, do Instituto Árabe-Americano, "não há dúvida de que Bin Laden prefere Bush na Casa Branca". "A Guerra do Iraque foi uma ferramenta fantástica de recrutamento [terrorista], e ele é inteligente o bastante para saber que [o vídeo] ajuda Bush", afirmou Zogby à agência Reuters de notícias.
Segundo analistas, o vídeo voltará toda a atenção da mídia e do público nos últimos dias de campanha para a guerra ao terror -exatamente o tema em que Bush tem o melhor desempenho sobre seu adversário, John Kerry.
Pode ser, como os democratas passaram meses temendo, a chamada "surpresa de outubro" -no jargão político americano, um fato que surge no noticiário nos últimos dias de campanha para mudar a história da disputa.

Presente para Bush
"Os estrategistas da campanha de Bush podem não estar felizes com o fato de Bin Laden estar fazendo vídeos, mas, em termos políticos, é um presente para eles após uma semana tão difícil", afirmou Basham, referindo-se ao sumiço de 350 toneladas de explosivos no Iraque, repetida por Kerry em acusações contra Bush.
"O argumento de Kerry de que a guerra ao terror é contra Al Qaeda, e não o Iraque, tem sido efetivo em certa medida. Mas agora Bin Laden se colocou no centro da eleição. O que Kerry vai responder quando Bush disser que vai redobrar esforços e caçar Bin Laden? Vai dizer que concorda, que já havia avisado, mas isso não tem o mesmo peso que os argumentos sobre os erros cometidos no Iraque", disse.
"Se perguntássemos para ambos os comitês de campanha nesta manhã [ontem] em que eles preferiam que a mídia centralizasse o fim da campanha, os assessores de Kerry diriam que é na assistência médica ou nas coisas que deram errado no Iraque. A campanha de Bush diria sem pestanejar que era a guerra ao terror e a Al Qaeda."
De acordo com Basham, os eleitores se verão diante da opção de trocar de comandante-em-chefe ou não "quando o maior inimigo do país acaba de declarar nova guerra aos EUA". E, segundo o cientista político Michael Lewis-Beck, da Universidade de Iowa, "ameaças externas normalmente ajudam o comandante-em-chefe". "As pessoas se assustam e se enrolam na bandeira", disse à Reuters.
E, segundo os especialistas, nem seria preciso convencer muitos. "Como a eleição está muito apertada, Bush só precisa conquistar o apoio de uma porcentagem muito pequena, que isso já fará toda a diferença do mundo", afirmou Basham.


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