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O IMPÉRIO VOTA - RETA FINAL
Kerry e Bush recorrem a astros da música, do cinema e do esporte para tentar romper o cenário de igualdade às vésperas da votação
Empate leva candidatos a apelo populista
CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL À FILADÉLFIA
Como nem a economia produz
notícias que desfaçam o persistente empate que as pesquisas
mostram entre o presidente George W. Bush e o senador John
Kerry, as duas partes lançaram
mão do velho e bom populismo
na reta final da campanha.
Bush arrastou para seu palanque (em Columbus, capital de
Ohio) o ator e governador da Califórnia Arnold Schwarzenegger.
Na véspera, também em Columbus, Kerry exibira ao seu lado
o astro do rock Bruce Springsteen, mais conhecido como "The
Boss" (o patrão). Piada pronta:
"Quando Bush soube que eu estava aqui com "o patrão", ele pensou
que era o Dick Cheney", brincou
Kerry. É uma alusão ao fato de
que o vice-presidente é tido, nas
fofocas políticas, como quem de
fato manda na Casa Branca.
Sobre a economia, a notícia da
sexta-feira foi usada por ambos os
lados para festejar, o que parece
contraditório, mas não é. Acontece que o crescimento no terceiro
trimestre foi de 3,7%. É tão empate quanto o das pesquisas eleitorais, porque foi maior que o do
trimestre anterior (3,3%), mas
menor que os 4,3% esperados pela maioria dos analistas.
De todo modo, economia está
longe de ser o tema central na
campanha. O que predomina é o
combate ao terrorismo e, por extensão, a Guerra do Iraque. Em
segundo lugar, vêm as chamadas
questões morais (aborto, casamento gay, células-tronco).
É por isso que o efeito Schwarzenegger, apesar da enorme popularidade do ator, pode ser pequeno ou até contraproducente
para Bush. Ele é tido como republicano moderado, que não compartilha da resistência do presidente à pesquisa com células-tronco. Ao contrário, ele a apóia.
O populismo na reta final não se
limitou a astros pop. A exemplo
do que ocorre no Brasil com os
grandes esportistas, Bush e Kerry
aproveitaram a final do campeonato de beisebol para fazer propaganda, até com ares de cabala, pelo menos da parte do senador.
Quem ganhou foi o time de
Kerry (o Red Socks, de Boston),
depois de ficarem 86 anos na fila.
Kerry não deixou de lembrar que,
no início da campanha, um ouvinte de rádio dissera que o senador só seria presidente depois que
o Red Socks fosse campeão.
"Bom, estamos a caminho",
brincou o senador, boné com o
"B" (de Boston) na cabeça, em comício em Toledo (Ohio).
Aliás, Ohio é tema para outro
cabala, embora meio forçada. A
mídia americana lembra constantemente que o Estado dá maioria,
sempre, para o candidato que
acaba ganhando a eleição. Não é
bem verdade: em 1960, os eleitores de Ohio preferiram Richard
Nixon, e quem ganhou a Presidência foi John Kennedy.
Em todo o caso, Bush está à
frente nas pesquisas, dentro de
margem de erro, o que para ele é
bom sinal: jamais um republicano
se elegeu sem ganhar em Ohio.
Esse tipo de superstição, tradicional em políticos de todos os
países, mas exacerbado numa
eleição tão apertada como a norte-americana, explica outro tipo
de apelo de ambas as partes, este
para pregadores religiosos -território em que Bush leva enorme
vantagem sobre Kerry.
"Com todo o esforço dos músicos para atrair eleitores para os
democratas, os pregadores estão
fazendo um trabalho melhor que
as estrelas do rock", disse ao jornal "Philadelphia Inquirer" Jonathan Trichter, da Pace University,
de Nova York.
Religiosidade, aliás, é dos muitos territórios em que a sociedade
norte-americana está dividida, de
acordo com os dados ontem divulgados por John Zogby, presidente da Zogby International, um
dos principais institutos de pesquisa. "Nos Estados vermelhos
[maioria republicana], 54% dos
eleitores nos dizem que freqüentam um local de oração pelo menos uma vez por semana. Nos Estados "azuis" [democratas], 32%
dizem a mesma coisa. É uma diferença de 22 pontos percentuais."
As cenas explícitas de populismo prosseguem hoje, na caça a
outro público: a comunidade latina, cada vez mais numerosa.
Os dois candidatos deram entrevistas ao "Sábado Gigante",
uma mistura de Faustão com
Chacrinha, que vai ao ar pela Univisión, a rede hispânica dos EUA,
que diz ser vista por 100 milhões
de pessoas, nos próprios EUA,
mas também na América Latina.
Para Bush, é um público interessante porque a maioria dos
hispânicos vota com Kerry, conforme mostra pesquisa recente do
jornal "The Washington Post" e
da própria Univisión (59%, contra 30% que preferem Bush).
Esse gigantesco esforço mesmo
nos dias finais da campanha é fácil de explicar: a mais recente pesquisa da Zogby dá empate literal
(47% a 47%) entre os dois candidatos. Vale tudo, portanto, para
tentar desfazer o empate.
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