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ELEIÇÕES NOS EUA/ ENTREVISTA
Republicanos perderão, diz ator
O democrata Tim Robbins, ativista liberal, diz que o partido de George W. Bush nunca foi maioria
Os neoconservadores venderam ao eleitor "um produto podre", que não será comprado mais uma vez, afirma Robbins
SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK
Os republicanos perderão as
eleições do dia 7 porque nunca
foram maioria. "Apenas tinham o megafone mais estridente e o púlpito mais alto",
disse o ator e ativista liberal
Tim Robbins. De acordo com o
democrata, ele próprio uma das
vozes mais estridentes de
Hollywood em questões políticas, os neoconservadores "nos
venderam um produto podre, e
você não compra um produto
podre duas vezes."
O ator recebeu quatro jornalistas estrangeiros em Nova
York para falar de seu filme
mais recente, "Catch a Fire",
que estreou nos EUA na sexta e
chega ao Brasil em janeiro, A
película reconta a história de
Patrick Chamusso e sua luta
contra o apartheid sul-africano. Robbins começou a conversa dizendo: "Vamos ver se conseguimos evitar a palavra "política" até o final dessa entrevista". Instado pela Folha, porém,
falou não só de política mas de
como foi perseguido por se manifestar contra a Guerra do Iraque, já em 2003; criticou a imprensa de seu país e mesmo o
silêncio de seu partido. Leia os
principais tópicos da conversa:
CONSERVADORES
"O que os neoconservadores
fizeram nesse país foi conseguir manobrar para que a maioria acreditasse que era minoria.
E eles fizeram isso apenas porque tinham o megafone mais
estridente, o púlpito mais alto e
acesso a todo tipo de mídia, televisão, "talk shows" de rádio,
jornais, igrejas. Mas representam a minoria, nunca tiveram a
maioria.
Eles nos venderam um produto podre, e não se compra
um produto podre duas vezes."
INTIMIDAÇÃO
"Ser intimidado por gritaria,
por uma porção pequena de
ideólogos, não me afeta. Se eu
vivesse nos subúrbios, numa cidade não tão conectada quanto
Nova York, poderia ter me calado, intimidado-me.
Você tem a impressão de que,
quando discorda, vai ser perigoso -esse é o ponto da reação,
eles querem que você e pessoas
que podem pensar como você
se calem."
GUERRA DO IRAQUE
"Antes da guerra, tudo o que
eu disse foi: "Nós temos de dar
mais tempo aos inspetores para
acharem as armas de destruição em massa, assim teremos
certeza antes de comprometer
nossos cidadãos, arriscar nossas tropas numa guerra que vai
ser longa". Você acha isso radical? É razoável, defende a paciência, não é antiamericano.
Fui chamado de traidor, de
apoiador de terroristas."
IMPRENSA
"Quando defendi a paciência
antes da guerra, perguntaram-me: por que os democratas não
estão fazendo essas perguntas?
E onde está a imprensa? Segundo um estudo conduzido pela
[ONG liberal] Fairness & Accuracy in Reporting (Fair), durante dois meses na programação da CNN, a emissora ouviu
530 especialistas que apoiavam
a guerra, ante quatro que se
opunham. Naquela época, a
opinião pública estava dividida
meio a meio sobre o assunto.
Depois, o estudo revelou que
parte dos experts ouvidos que
defendiam a guerra na verdade
eram membros dos conselhos
de empresas que lucrariam
com o conflito. Se isso não é
propaganda, eu não sei o que é."
"LEI DA TORTURA"
"Quando eu vejo soldados
sendo indiciados por terem feito isso ou aquilo na guerra, e
não os autores da política de governo, digo que isso é errado.
Os soldados estão pagando por
uma política imunda."
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