São Paulo, segunda-feira, 30 de outubro de 2006

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ELEIÇÕES NOS EUA/ ENTREVISTA

Republicanos perderão, diz ator

O democrata Tim Robbins, ativista liberal, diz que o partido de George W. Bush nunca foi maioria

Os neoconservadores venderam ao eleitor "um produto podre", que não será comprado mais uma vez, afirma Robbins

SÉRGIO DÁVILA
ENVIADO ESPECIAL A NOVA YORK

Os republicanos perderão as eleições do dia 7 porque nunca foram maioria. "Apenas tinham o megafone mais estridente e o púlpito mais alto", disse o ator e ativista liberal Tim Robbins. De acordo com o democrata, ele próprio uma das vozes mais estridentes de Hollywood em questões políticas, os neoconservadores "nos venderam um produto podre, e você não compra um produto podre duas vezes."
O ator recebeu quatro jornalistas estrangeiros em Nova York para falar de seu filme mais recente, "Catch a Fire", que estreou nos EUA na sexta e chega ao Brasil em janeiro, A película reconta a história de Patrick Chamusso e sua luta contra o apartheid sul-africano. Robbins começou a conversa dizendo: "Vamos ver se conseguimos evitar a palavra "política" até o final dessa entrevista". Instado pela Folha, porém, falou não só de política mas de como foi perseguido por se manifestar contra a Guerra do Iraque, já em 2003; criticou a imprensa de seu país e mesmo o silêncio de seu partido. Leia os principais tópicos da conversa:

CONSERVADORES
"O que os neoconservadores fizeram nesse país foi conseguir manobrar para que a maioria acreditasse que era minoria. E eles fizeram isso apenas porque tinham o megafone mais estridente, o púlpito mais alto e acesso a todo tipo de mídia, televisão, "talk shows" de rádio, jornais, igrejas. Mas representam a minoria, nunca tiveram a maioria.
Eles nos venderam um produto podre, e não se compra um produto podre duas vezes."

INTIMIDAÇÃO
"Ser intimidado por gritaria, por uma porção pequena de ideólogos, não me afeta. Se eu vivesse nos subúrbios, numa cidade não tão conectada quanto Nova York, poderia ter me calado, intimidado-me.
Você tem a impressão de que, quando discorda, vai ser perigoso -esse é o ponto da reação, eles querem que você e pessoas que podem pensar como você se calem."

GUERRA DO IRAQUE
"Antes da guerra, tudo o que eu disse foi: "Nós temos de dar mais tempo aos inspetores para acharem as armas de destruição em massa, assim teremos certeza antes de comprometer nossos cidadãos, arriscar nossas tropas numa guerra que vai ser longa". Você acha isso radical? É razoável, defende a paciência, não é antiamericano. Fui chamado de traidor, de apoiador de terroristas."

IMPRENSA
"Quando defendi a paciência antes da guerra, perguntaram-me: por que os democratas não estão fazendo essas perguntas? E onde está a imprensa? Segundo um estudo conduzido pela [ONG liberal] Fairness & Accuracy in Reporting (Fair), durante dois meses na programação da CNN, a emissora ouviu 530 especialistas que apoiavam a guerra, ante quatro que se opunham. Naquela época, a opinião pública estava dividida meio a meio sobre o assunto.
Depois, o estudo revelou que parte dos experts ouvidos que defendiam a guerra na verdade eram membros dos conselhos de empresas que lucrariam com o conflito. Se isso não é propaganda, eu não sei o que é."

"LEI DA TORTURA"
"Quando eu vejo soldados sendo indiciados por terem feito isso ou aquilo na guerra, e não os autores da política de governo, digo que isso é errado. Os soldados estão pagando por uma política imunda."


Texto Anterior: Cuba: Governo Raúl Castro estuda fazer correções na economia
Próximo Texto: Diário de campanha
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.