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Republicano vê lado útil em derrota de McCain
Ex-embaixador na ONU fala em "recarregar baterias"
ANDREA MURTA
DE NOVA YORK
Para John Bolton, ex-embaixador dos EUA nas Nações
Unidas, uma eventual derrota
republicana neste ano pode ser
útil ao partido: "poderemos recarregar as "baterias intelectuais", nos reagruparmos após
oito anos de Presidência e basicamente pensar um pouco".
Mas ele externa preocupação
com a chance de vitória de Barack Obama, a quem acusa de
"não avaliar bem as ameaças
externas". Criticado por seu estilo abrasivo, Bolton nunca foi
aprovado pelo Congresso como
representante permanente na
ONU e renunciou no fim de
2006, um ano e meio após
George W. Bush tê-lo indicado.
FOLHA - Como vê a campanha republicana à Presidência?
JOHN BOLTON - É obviamente
um ambiente muito difícil para
os republicanos. A economia
está péssima, a popularidade
do presidente em baixa e, após
oito anos de um governo, os
americanos têm a tendência de
dizer que é hora de dar uma
chance ao outro lado. Os republicanos vão ter algumas perdas na Câmara e no Senado,
mas não serão enormes. Acho
que é útil de tempos em tempos
ficar fora do poder. Podemos
recarregar as "baterias intelectuais". Será uma chance de nos
reagruparmos após oito anos
de Presidência e, basicamente,
nos revitalizarmos.
FOLHA - Como avalia os últimos oito anos ?
BOLTON - O resultado é misto.
A resposta aos ataques do 11 de
Setembro provavelmente será
a maior marca de seu governo.
Mas a forma como Bush lidou
com a ameaça da proliferação
nuclear, com a invasão da
Geórgia pela Rússia e com [o
presidente da Venezuela,] Hugo Chávez não entrará favoravelmente na história.
FOLHA - Com o que sabemos hoje,
a reação ao 11/9 foi correta?
BOLTON - Não tenho a menor
dúvida. Parte da dificuldade
que Bush vem tendo é que não
continuou a mesma linha de
ação e não abordou o problema
[do terrorismo] mais amplamente. Como os EUA só foram
atacados uma vez, caímos numa sensação de segurança que
não tem nenhuma garantia. O
próximo presidente vai enfrentar desafios terroristas que serão muito difíceis de contrabalançar. A "guerra ao terror" tem
que continuar prioritária.
FOLHA - Os EUA devem manter
ataques preventivos?
BOLTON - Essa não é, como dizem, uma "doutrina Bush".
Surgiu há centenas de anos e
não é nem mesmo uma doutrina particularmente americana.
O que Bush fez foi se apropriar
dessa posição antiga e aplicá-la
à ameaça de armas de destruição em massa. E ainda acho que
esta é exatamente a coisa certa
a fazer. Não podemos deixar as
armas mais poderosas do mundo caírem nas mãos das pessoas
mais perigosas do mundo. Se isso significa o uso de força preventiva, então é isso mesmo.
FOLHA - O que está em jogo nesta
eleição na área da política externa?
BOLTON - John McCain e Barack Obama têm visões muito
diferentes sobre como nossa
política externa deve ser. Estou
muito preocupado com Obama, ele é ingênuo, inexperiente
e não dá o valor correto aos desafios que os EUA e seus aliados
enfrentam no mundo. Estamos
em meio à proliferação de armas de destruição em massa,
da ameaça do terrorismo, do
aumento da beligerância na
Rússia, dos problemas causados por Hugo Chávez, pelo Irã e
pela Coréia do Norte... Obviamente, este não é o mundo da
Guerra Fria, mas tem suas
ameaças e desafios e não acho
que Obama tem o histórico necessário para lidar com eles.
FOLHA - O que acha que deve ser
feito nas relações dos EUA com a
América Latina e o Brasil?
JOHN BOLTON - Todo presidente
chega ao poder dizendo que vai
melhorar as relações e que a
América Latina é uma prioridade, mas acaba distraído no
meio do caminho. Dada a
ameaça apresentada por Chávez e as dificuldades econômicas gerais do mundo, é ainda
mais importante desta vez que
o próximo presidente preste
mais atenção na região. E pela
relevância do Brasil nela, essas
relações têm que ser prioridade. Não é difícil. Lula e Bush
trabalharam bem juntos, apesar de terem filosofias diferentes de governo.
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