São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2008

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Republicano vê lado útil em derrota de McCain

Ex-embaixador na ONU fala em "recarregar baterias"

ANDREA MURTA
DE NOVA YORK

Para John Bolton, ex-embaixador dos EUA nas Nações Unidas, uma eventual derrota republicana neste ano pode ser útil ao partido: "poderemos recarregar as "baterias intelectuais", nos reagruparmos após oito anos de Presidência e basicamente pensar um pouco". Mas ele externa preocupação com a chance de vitória de Barack Obama, a quem acusa de "não avaliar bem as ameaças externas". Criticado por seu estilo abrasivo, Bolton nunca foi aprovado pelo Congresso como representante permanente na ONU e renunciou no fim de 2006, um ano e meio após George W. Bush tê-lo indicado.

 

FOLHA - Como vê a campanha republicana à Presidência?
JOHN BOLTON
- É obviamente um ambiente muito difícil para os republicanos. A economia está péssima, a popularidade do presidente em baixa e, após oito anos de um governo, os americanos têm a tendência de dizer que é hora de dar uma chance ao outro lado. Os republicanos vão ter algumas perdas na Câmara e no Senado, mas não serão enormes. Acho que é útil de tempos em tempos ficar fora do poder. Podemos recarregar as "baterias intelectuais". Será uma chance de nos reagruparmos após oito anos de Presidência e, basicamente, nos revitalizarmos.

FOLHA - Como avalia os últimos oito anos ?
BOLTON
- O resultado é misto. A resposta aos ataques do 11 de Setembro provavelmente será a maior marca de seu governo. Mas a forma como Bush lidou com a ameaça da proliferação nuclear, com a invasão da Geórgia pela Rússia e com [o presidente da Venezuela,] Hugo Chávez não entrará favoravelmente na história.

FOLHA - Com o que sabemos hoje, a reação ao 11/9 foi correta?
BOLTON
- Não tenho a menor dúvida. Parte da dificuldade que Bush vem tendo é que não continuou a mesma linha de ação e não abordou o problema [do terrorismo] mais amplamente. Como os EUA só foram atacados uma vez, caímos numa sensação de segurança que não tem nenhuma garantia. O próximo presidente vai enfrentar desafios terroristas que serão muito difíceis de contrabalançar. A "guerra ao terror" tem que continuar prioritária.

FOLHA - Os EUA devem manter ataques preventivos?
BOLTON
- Essa não é, como dizem, uma "doutrina Bush". Surgiu há centenas de anos e não é nem mesmo uma doutrina particularmente americana. O que Bush fez foi se apropriar dessa posição antiga e aplicá-la à ameaça de armas de destruição em massa. E ainda acho que esta é exatamente a coisa certa a fazer. Não podemos deixar as armas mais poderosas do mundo caírem nas mãos das pessoas mais perigosas do mundo. Se isso significa o uso de força preventiva, então é isso mesmo.

FOLHA - O que está em jogo nesta eleição na área da política externa?
BOLTON
- John McCain e Barack Obama têm visões muito diferentes sobre como nossa política externa deve ser. Estou muito preocupado com Obama, ele é ingênuo, inexperiente e não dá o valor correto aos desafios que os EUA e seus aliados enfrentam no mundo. Estamos em meio à proliferação de armas de destruição em massa, da ameaça do terrorismo, do aumento da beligerância na Rússia, dos problemas causados por Hugo Chávez, pelo Irã e pela Coréia do Norte... Obviamente, este não é o mundo da Guerra Fria, mas tem suas ameaças e desafios e não acho que Obama tem o histórico necessário para lidar com eles.

FOLHA - O que acha que deve ser feito nas relações dos EUA com a América Latina e o Brasil?
JOHN BOLTON
- Todo presidente chega ao poder dizendo que vai melhorar as relações e que a América Latina é uma prioridade, mas acaba distraído no meio do caminho. Dada a ameaça apresentada por Chávez e as dificuldades econômicas gerais do mundo, é ainda mais importante desta vez que o próximo presidente preste mais atenção na região. E pela relevância do Brasil nela, essas relações têm que ser prioridade. Não é difícil. Lula e Bush trabalharam bem juntos, apesar de terem filosofias diferentes de governo.


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