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DIPLOMACIA
Grupo encarregado de propor reforma do órgão executivo deve apresentar duas opções; Brasil quer assento permanente
Novo formato do CS da ONU gera impasse
LUCIANA COELHO
DE NOVA YORK
Refletindo disputas entre países-membros, o grupo encarregado de propor as reformas pelas
quais o Conselho de Segurança da
ONU passará em 2005 não conseguiu chegar a um consenso.
Depois de amanhã, serão apresentadas duas propostas para
reestruturar o órgão que, passados 60 anos, ainda reflete a geopolítica pós-Segunda Guerra. Não
serão feitas indicações para novas
vagas permanentes -uma das
quais o Brasil pleiteia.
Segundo um diplomata citado
pela agência France Presse, a falta
de consenso mostra que "o painel
não sabe como avançar e está passando a bola para os membros".
O relatório com as duas propostas, elaborado por um grupo de 16
"notáveis" nomeados pelo secretário-geral da ONU, Kofi Annan,
só irá a votação em 2005.
Ambas as propostas ampliam o
número de integrantes do conselho de 15 para 24, divididos igualitariamente entre Europa, África,
América e um bloco Ásia-Oceania. Mas só uma defende a ampliação das vagas permanentes.
Hoje o CS tem 15 membros. Dez
deles são rotativos -eleitos pela
Assembléia Geral por mandatos
não-renováveis de dois anos. Os
outros cinco -EUA, Rússia, China, França e Reino Unido- são
permanentes e têm poder de veto.
Segundo uma das propostas, a
preferida pelo Brasil, o CS passaria a ter 11 membros, mas os seis
novos integrantes não teriam poder de veto. Já os assentos não-permanentes subiriam para 13.
A outra proposta prevê a criação de mais uma vaga não-permanente e oito semipermanentes
-que também não dariam direito a veto, mas assegurariam um
mandato renovável de quatro
anos a seus detentores.
Segundo fontes diplomáticas citadas por agências de notícias, nenhuma das propostas estende a
outros países o poder de veto detido pelos atuais membros permanentes do CS, alvo principal das
críticas ao atual sistema.
Brasil
O Brasil neste ano intensificou
sua campanha por uma vaga permanente no CS. Em setembro, no
encontro anual da Assembléia
Geral, o chanceler Celso Amorim
formalizou uma aliança de mútuo
apoio com o Japão, a Índia e a Alemanha, autodenominada G-4.
Países como a França, o Reino
Unido e a Rússia declararam seu
apoio ao grupo, mas os EUA -
principais mantenedores da
ONU- têm se mostrado reticentes. Em visita ao Brasil no mês
passado, o secretário de Estado
Colin Powell disse que o país era
um "sólido candidato" ao CS, mas
não formalizou o apoio.
O Brasil não aprova o modelo
que cria assentos semipermanentes, defendido por países que disputam com o G-4 a influência sobre suas respectivas regiões. A
proposta foi tachada de "invenção acadêmica" por diplomatas
entrevistados pela Folha.
A questão de não dar poder de
veto aos possíveis novos membros permanentes não é um assunto que preocupe o Itamaraty.
Na avaliação de assessores do ministro Celso Amorim (Relações
Exteriores), brigar pelo direito ao
veto poderia atrapalhar a própria
reforma do conselho. O Brasil
prefere deixar a discussão sobre o
sistema de veto para o futuro.
Caso se torne um membro permanente da ONU, a fatia brasileira no orçamento anual da organização deve seguir a mesma -por
volta de US$ 28 milhões, ou cerca
de 1,5% do orçamento da instituição, segundo a chancelaria brasileira. A contribuição varia conforme o PIB do país e, no caso do
Brasil, supera a paga por Rússia e
China, membros permanentes.
Mas aumentarão as doações feitas para operações de paz, como a
mantida no Haiti. Para o Itamaraty, como já disse Amorim, "esse
é um preço mínimo a pagar para
ter uma influência efetiva nos
acontecimentos mundiais".
Colaborou a Sucursal de Brasília
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