São Paulo, terça-feira, 30 de novembro de 2004

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AMÉRICA LATINA

Documentos recém-liberados pela CIA mostram que Washington monitorava movimentação de golpistas

EUA souberam antes de golpe anti-Chávez

CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO

Documentos da CIA (agência de inteligência americana) recém-liberados revelam que os EUA sabiam com cinco dias de antecedência que haveria uma tentativa de golpe contra o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, ocorrida em abril de 2002.
Datado de 6 de abril de 2002 e intitulado "Condições Amadurecendo para uma Tentativa de Golpe", um dos documentos afirma que "facções militares dissidentes, incluindo altos oficiais descontentes e um grupo de jovens oficiais radicais, estão montando esforços para organizar um golpe contra o presidente Chávez, possivelmente neste mesmo mês".
"O nível de detalhamento dos planos reportados - [TRECHO APAGADO] com alvo de prisão em Chávez e dez outros altos oficiais- dá credibilidade à informação. Mas os contatos civis e militares disseram que nenhum grupo parece pronto para liderar um golpe com êxito e poderia arruinar a tentativa caso se movam rápido demais", prossegue.
O mesmo informe chega a detalhar a maneira como o golpe começaria. "Para provocar ação militar, os golpistas podem tentar explorar as intranqüilidades originadas nos protestos da oposição marcadas para o fim do mês ou das greves em andamento na companhia petrolífera estatal PDVSA", diz a CIA. À época, funcionários da PDVSA haviam começado greves em 11 dos 23 Estados venezuelanos contra iniciativas de Chávez de interferência política na empresa.
Mas, como consta nos informes, a CIA avaliou que as chances de sucesso dos golpistas eram poucas. "As perspectivas de um golpe exitoso neste momento são limitadas. Os golpistas ainda carecem de cobertura política para encenar um golpe," diz .
Os documentos foram obtidos pela advogada americana-venezuelana Eva Golinger, após solicitação formal ao governo dos EUA em novembro de 2003, com base na Lei sobre a Liberdade de Informação dos EUA. Golinger também investiga o apoio financeiro que o governo dos EUA teria dado a grupos antichavistas na Venezuela antes e depois do golpe.
"O ponto mais importante é que os EUA tinham esse conhecimento nos dias anteriores ao golpe, e não somente um conhecimento geral, mas detalhado", disse Golinger à Folha por telefone, de Caracas. "E que as coisas saíram como eles disseram que iam sair."
Para Golinger, simpatizante de Chávez, os documentos mostram que os EUA colaboraram com a oposição golpista. "Para [os EUA] terem acesso a esses planos detalhados, tinham de ter vinculações bastante próximas aos golpistas. Eles tinham conhecimento íntimo dos planos e não os pararam."
Em 11 de abril de 2002, Hugo Chávez enfrentou uma tentativa frustrada de golpe de Estado por parte da oposição e de oficiais militares, com apoio na mídia. Dois dias depois, apoiado por militares legalistas, voltou ao poder.
Quando houve a derrubada, Washington se limitou a dizer que esperava a "normalização" da Venezuela, enquanto outros países condenaram o levante. Mas os EUA sempre negaram ter apoiado o golpe -o que voltaram a fazer na semana passada, quando os documentos foram liberados.
"Alertamos Chávez de planos de golpe e lhe advertimos sobre uma ameaça de assassinato considerada séria", disse Adam Ereli, porta-voz adjunto do Departamento de Estado dos EUA. Segundo Ereli, não foi encontrado nada que "indique que o departamento ou a embaixada em Caracas tenham planejado, participado, colaborado ou alentado a breve derrubada" de Chávez.


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