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AMÉRICA LATINA
Documentos recém-liberados pela CIA mostram que Washington monitorava movimentação de golpistas
EUA souberam antes de golpe anti-Chávez
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
Documentos da CIA (agência
de inteligência americana) recém-liberados revelam que os EUA sabiam com cinco dias de antecedência que haveria uma tentativa
de golpe contra o presidente da
Venezuela, Hugo Chávez, ocorrida em abril de 2002.
Datado de 6 de abril de 2002 e
intitulado "Condições Amadurecendo para uma Tentativa de Golpe", um dos documentos afirma
que "facções militares dissidentes, incluindo altos oficiais descontentes e um grupo de jovens
oficiais radicais, estão montando
esforços para organizar um golpe
contra o presidente Chávez, possivelmente neste mesmo mês".
"O nível de detalhamento dos
planos reportados - [TRECHO
APAGADO] com alvo de prisão
em Chávez e dez outros altos oficiais- dá credibilidade à informação. Mas os contatos civis e
militares disseram que nenhum
grupo parece pronto para liderar
um golpe com êxito e poderia arruinar a tentativa caso se movam
rápido demais", prossegue.
O mesmo informe chega a detalhar a maneira como o golpe começaria. "Para provocar ação militar, os golpistas podem tentar
explorar as intranqüilidades originadas nos protestos da oposição
marcadas para o fim do mês ou
das greves em andamento na
companhia petrolífera estatal
PDVSA", diz a CIA. À época, funcionários da PDVSA haviam começado greves em 11 dos 23 Estados venezuelanos contra iniciativas de Chávez de interferência política na empresa.
Mas, como consta nos informes, a CIA avaliou que as chances
de sucesso dos golpistas eram
poucas. "As perspectivas de um
golpe exitoso neste momento são
limitadas. Os golpistas ainda carecem de cobertura política para encenar um golpe," diz .
Os documentos foram obtidos
pela advogada americana-venezuelana Eva Golinger, após solicitação formal ao governo dos EUA
em novembro de 2003, com base
na Lei sobre a Liberdade de Informação dos EUA. Golinger também investiga o apoio financeiro
que o governo dos EUA teria dado a grupos antichavistas na Venezuela antes e depois do golpe.
"O ponto mais importante é que
os EUA tinham esse conhecimento nos dias anteriores ao golpe, e
não somente um conhecimento
geral, mas detalhado", disse Golinger à Folha por telefone, de Caracas. "E que as coisas saíram como eles disseram que iam sair."
Para Golinger, simpatizante de
Chávez, os documentos mostram
que os EUA colaboraram com a
oposição golpista. "Para [os EUA]
terem acesso a esses planos detalhados, tinham de ter vinculações
bastante próximas aos golpistas.
Eles tinham conhecimento íntimo dos planos e não os pararam."
Em 11 de abril de 2002, Hugo
Chávez enfrentou uma tentativa
frustrada de golpe de Estado por
parte da oposição e de oficiais militares, com apoio na mídia. Dois
dias depois, apoiado por militares
legalistas, voltou ao poder.
Quando houve a derrubada,
Washington se limitou a dizer que
esperava a "normalização" da Venezuela, enquanto outros países
condenaram o levante. Mas os
EUA sempre negaram ter apoiado o golpe -o que voltaram a fazer na semana passada, quando
os documentos foram liberados.
"Alertamos Chávez de planos
de golpe e lhe advertimos sobre
uma ameaça de assassinato considerada séria", disse Adam Ereli,
porta-voz adjunto do Departamento de Estado dos EUA. Segundo Ereli, não foi encontrado
nada que "indique que o departamento ou a embaixada em Caracas tenham planejado, participado, colaborado ou alentado a breve derrubada" de Chávez.
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