São Paulo, quinta-feira, 30 de novembro de 2006

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Casa Branca põe em xeque força de premiê iraquiano

Texto obtido pelo "Times" questiona habilidade de Maliki; Bush adia encontro, e políticos xiitas ligados a radical rompem com Bagdá

Pablo Martinez Monsivais/Associated Press
Bush acompanha o rei Abdullah 2º, da Jordânia, em Amã; reunião com Maliki foi adiada para hoje


DA REDAÇÃO

Sob a intensificação do debate sobre o Iraque estar ou não em guerra civil, a Casa Branca questiona se o premiê iraquiano, o xiita Nuri al Maliki, é capaz de conter a violência sectária que toma o país, segundo documento revelado pelo "New York Times". O presidente dos EUA, George W. Bush, adiou para hoje o encontro que teria ontem com Maliki na Jordânia.
Em memorando sigiloso do último dia 8, diz o "Times", o assessor de segurança nacional da Casa Branca, Stephen Hadley, questiona a fragilidade do premiê e recomenda que os EUA ajam para fortalecê-lo.
O texto, obtido pelo jornal por meio de um funcionário da Casa Branca, sugere que, se Maliki fracassar em uma série específica de medidas, será preciso pressioná-lo a redesenhar seu bloco parlamentar. Os EUA poderiam contribuir para isso com "ajuda financeira a grupos moderados" e o aumento de seu contingente em Bagdá.
Segundo o "Times", Hadley, que esteve com o premiê iraquiano no último dia 30, ressalta ainda o fato de Maliki amparar parte de sua base política em líderes xiitas radicais.
Tal estratégia pode se mostrar frágil, sobretudo após o anúncio ontem de que 30 parlamentares e 5 ministros ligados ao clérigo radical xiita Moqtada al Sadr suspenderam relações com o governo.
"Suas intenções podem parecer boas (...), e relatórios mais minuciosos indicam que ele está tentando forçar mudanças positivas. Mas a verdade das ruas de Bagdá indica que ou Maliki ignora o que está acontecendo ou sua capacidade ainda não é suficiente a ponto de transformar boas intenções em fatos, diz o texto.

Encontro adiado
Romper com Sadr -que encabeçou um levante contra os EUA em 2004 e lidera o Exército Mehdi, milícia acusada de promover ataques contra sunitas- era um pedido antigo dos americanos a Maliki. Mas foi o grupo do clérigo que acabou tomando a iniciativa, desgostoso com o encontro que o premiê teria com Bush ontem em Amã.
A reunião acabou sendo adiada para hoje. Dan Bartlett, conselheiro da Casa Branca, negou que se tratasse de uma "esnobada" ao líder iraquiano após o vazamento do memorando. "O presidente e o premiê Maliki terão um diálogo longo e intenso amanhã [hoje] pela manhã."
Bush chegou na noite de ontem a Amã vindo da Letônia, onde participou da cúpula da Otan. Desde que seu partido perdeu as eleições legislativas, no início do mês, o presidente tem se dito disposto a ouvir sugestões sobre o Iraque -que vive sua pior fase em termos de violência contra civis desde a invasão americana, em março de 2003.
Colin Powell, secretário de Estado de Bush na época da invasão, afirmou ontem que o Iraque está em guerra civil e exortou os líderes mundiais a "aceitarem a realidade" -endossando, assim, a nomenclatura adotada nesta semana por alguns dos principais órgãos de mídia dos EUA, como a rede de TV NBC. "Tenho usado esse termo porque gosto de encarar a realidade", disse em Dubai.
A agência Reuters afirmou que o Grupo de Estudos do Iraque, comissão bipartidária encarregada de avaliar a situação no país e sugerir medidas para melhorá-la, deve divulgar o relatório com suas recomendações finais no próximo dia 6. O vice-diretor do grupo, Lee Hamilton, disse que há consenso sobre as conclusões.
Segundo trechos vazados nos últimos dias, o grupo deve recomendar que Bush una esforços com o Irã e a Síria, países com os quais os EUA não têm elo diplomático, para conter a crise.
O presidente iraquiano, Jalal Talabani, anunciou ontem em Teerã que chegou a um acordo de segurança com o país vizinho, acusado pelos EUA de permitir que terroristas entrem no Iraque. Ele não deu detalhes.
Já seu colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, pediu que os países deixem de apoiar "terroristas" e exortou os EUA a saírem do Iraque.


Com agências internacionais

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