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Governadores rejeitam acordo com Morales
Presidente diz que quer diálogo, mas oposição o chama de cínico e exige que antes ele recue sobre projeto de nova Carta
Para a socióloga Ximena Costa, proposta de Morales cairá no vazio porque ele não tocou nas demandas feitas por departamentos
Martín Alipaz/Efe
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Evo Morales (dir.) em reunião com os embaixadores de países da UE, que lhe pediram que respeite os princípios democráticos |
FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A LA PAZ
O presidente boliviano, Evo
Morales, chamou ontem os governadores e prefeitos oposicionistas ao diálogo, mas o impasse continua, já que ao menos dois dos principais departamentos (Estados) que fizeram greve anteontem, Santa
Cruz e Cochabamba, rejeitaram a proposta, por considerá-la insuficiente.
"Somos da cultura do diálogo
e convocamos os governadores
ao diálogo", disse Morales em
discurso no Palácio Quemado,
no qual também criticou os
oposicionistas pela paralisação.
"Os empresários não param. As
empresas seguem produzindo,
só os mais pobres perdem."
Momentos depois, o governador Rubén Costas, de Santa
Cruz, pólo econômico da Bolívia e principal bastião oposicionista, respondeu: "Depois de
matar gente nos convoca ao
diálogo? Primeiro tem de pedir
perdão ao povo de Chuquisaca", disse, em referência aos
três mortos nos confrontos
com a Polícia Nacional durante
a aprovação do texto geral da
nova Constituição no último
fim de semana, na cidade de Sucre, capital do departamento de
Chuquisaca. A oposição considera a sessão ilegal.
Autonomia e Carta
Segundo Costas, antes de
conversar, o governo tem de recuperar "a democracia depois
que a matou". "Não seja cínico,
senhor presidente. O senhor
tem de voltar este país à legalidade. O presidente tem que reconhecer que esse país não se
governa sem Santa Cruz."
Costas desafiou o presidente
a convocar um referendo revocatório de todos os cargos do
Executivo -de presidentes a
governadores. "O povo vai decidir quem tem as mãos manchadas de sangue."
Além da questão da nova
Carta, o governador também
considerou que o governo só
mostrará disposição real ao
diálogo quando revogar a lei do
Renda Dignidade, programa de
transferência de renda aos idosos. O benefício será financiado
com parte de um imposto sobre
hidrocarbonetos que é dividido
com os departamentos.
Até o fechamento desta edição, não se sabia o posicionamento dos demais departamentos que participaram da
paralisação de anteontem: Tarija, Pando, Beni e Chuquisaca.
Mas dirigentes de Santa Cruz e
Pando convocaram para segunda-feira uma greve de fome.
No discurso, Evo Morales
não mencionou a Carta boliviana -embora mais cedo tenha
convocado todos os partidos a
se reunir para votar a proposta
artigo por artigo. A aprovação
do texto geral se deu sem a presença da oposição.
Ontem, uma comissão da Assembléia Constituinte reuniu-se em um prédio da Loteria Nacional boliviana em La Paz para
decidir quando retomar as sessões e em que cidade.
Na madrugada de quarta, em
sessão também contestada pela
oposição, os governistas no
Congresso decidiram que a
Constituinte poderá concluir
seus trabalhos fora de Sucre,
sua sede oficial. Há propostas
para levar a instância para a capital ou ainda para El Alto, na
região metropolitana, onde é
forte o apoio ao governo.
Os departamentos de Santa
Cruz, Pando, Beni e Tarija querem que o governo lhes dê autonomia administrativa -em referendo em 2006, a população
desses departamentos disse
"sim" à proposta, que no entanto perdeu na votação geral.
Os oposicionistas preparam
um documento, chamado "Carta de Autonomia", para levar a
nova consulta popular caso o
governo não declare a autonomia até 15 de dezembro.
Diálogo de surdos
Para a socióloga Ximena Costa, a proposta do presidente
cairá no vazio porque ele não
tocou nas demandas dos departamentos. "É um diálogo de
surdos", afirmou.
"A greve de fome, de certa
maneira, é uma boa notícia para os bolivianos, porque dá
mais tempo à negociação, embora deva se tornar mais um
desgaste para a oposição do que
uma ferramenta que dê resultados concretos. O governo não
parece disposto a ouvir e deve
seguir com a Assembléia Constituinte", continua a analista.
Para ela, deve haver mais
confrontos e a violência é agora
uma "questão de tempo: não se
sabe se de curto, médio ou longo prazo". "O governo tem feito
atos à margem da legalidade,
autoritários, e o caminho é que
a oposição também os tome."
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