São Paulo, sexta-feira, 30 de novembro de 2007

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Recusa da China em receber navios dos EUA causa crise

Pequim cita homenagem americana ao dalai lama e venda de armas a Taiwan como razões

Ações dos EUA deterioraram relações entre os países, dizem chineses; para Bush, acontecimento representa um "pequeno incidente"

DO "FINANCIAL TIMES"

Duas recentes decisões chinesas de negar a navios da Marinha dos EUA acesso ao porto de Hong Kong suscitaram novas questões sobre o futuro do relacionamento militar entre as duas potências. Os elos entre Washington e Pequim vinham melhorando firmemente desde a crise causada em 2001 pela colisão entre um avião norte-americano de espionagem naval e um caça chinês.
A China negou ao porta-aviões USS Kitty Hawk permissão de atracar em Hong Kong, na semana passada, para o Dia de Ação de Graças, mesmo que as famílias dos marinheiros tivessem viajado de avião para lá a fim de celebrar o feriado. Pequim reverteu sua decisão no dia seguinte, mas foi tarde demais, porque o Kitty Hawk já havia partido de volta para seu porto de origem, no Japão. Poucos dias antes do incidente com o porta-aviões, a China havia recusado permissão a dois caça-minas americanos para que se refugiassem de uma tempestade no porto de Hong Kong.
Ontem, após muitas especulações sobre a decisão chinesa -inicialmente atribuída, pela Casa Branca, a um "engano"-, o porta-voz do Ministério do Exterior chinês, Liu Jianchao, justificou os atos ao dizer que os laços entre os dois países foram "danificados" por ações "errôneas" dos EUA.
Ele citou as honras dadas pelo Congresso americano ao dalai lama (inimigo de Pequim por defender a independência do Tibete) e as vendas de armas dos EUA para Taiwan, que a China considera uma Província rebelde.
Ontem o presidente dos EUA, George W. Bush, classificou a decisão chinesa como um "pequeno incidente", segundo a assessora da Casa Branca Dana Perino. "O presidente acredita que temos boas relações com a China, nós temos trabalhados em cooperação com a China em várias questões diferentes", disse Perino. Os EUA continuam esperando uma explicação da China sobre um teste de míssil anti-satélites conduzido pelo país em 2006. Os incidentes recentes aumentaram dúvidas quanto ao respeito pela hierarquia de comando em Pequim.
Inicialmente, especialistas especularam que os chineses estivessem zangados com o recente anúncio de que os EUA pretendem vender a Taiwan versões atualizadas do sistema de defesa de mísseis que equipa o país, ou que Pequim talvez tivesse procurado retaliar porque o Kitty Hawk estava observando um grande exercício da Marinha chinesa.
O almirante reformado Dennis Blair disse que a decisão chinesa pode refletir uma nova liderança no comando das Forças Armadas de Pequim. Ele teme que os incidentes prejudiquem a evolução no relacionamento entre as duas Marinhas. Para tratar da cooperação naval entre os dois países, aliás, o Colégio de Guerra Naval norte-americano havia marcado uma conferência na semana que vem. A presença de um almirante chinês é esperada.


Tradução de PAULO MIGLIACCI


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