São Paulo, sexta-feira, 30 de novembro de 2007

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Putin evoca medo de oligarcas ao pedir voto

Discurso eleitoreiro é televisionado no mesmo dia em que Berezovski é condenado "in absentia" a seis anos de prisão

Presidente, que concorre a cargo de deputado neste domingo, diz que tirou Rússia do fundo do "poço" e ganha elogio de Gorbatchov

IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU

O presidente russo, Vladimir Putin, foi à TV ontem pedir votos para o partido que lidera nas eleições parlamentares de domingo e falou sobre a ameaça da volta ao poder dos chamados oligarcas -os empresários que fizeram fortuna escusa com os espólios da União Soviética nos anos 90 e depois caíram em desgraça.
Na filial da rua Krasnaia Pressia da rede russa de pubs-de-mentirinha John Bull, um cliente no balcão estava interessado no que Putin ia dizer e perguntou para a garçonete se havia uma televisão disponível, ontem às 12h de Moscou.
"Niet", respondeu sem mais delongas a moça, vestida com a tradicionalmente diminuta minissaia que os estabelecimentos russos que atendem a estrangeiros costumam impor, embora um aparelho estivesse desligado junto ao caixa. Ele não protestou.
Sentado à mesa anexa com a reportagem, o diretor de comunicações de uma grande empresa do setor militar russo reafirmou o veredicto mais freqüente entre analistas políticos: "Ninguém dá bola para essa eleição".
Putin, significativamente, falou no canal público ORT e na rede privada NTV -que pertencia a um oligarca que virou adversário do presidente, e teve o controle comprado pela estatal do gás em 2001.
"Lembrem o que nós tínhamos oito anos atrás, o poço do qual nós tivemos que tirar o nosso país. Se nós queremos viver vidas decentes, nós devemos impedir aqueles que uma vez lideraram de forma malsucedida o país de retornar para o poder", disse Putin.

Berezovski
Um dos destinatários da mensagem é Boris Berezovski, mais conhecido no Brasil por seu envolvimento com o escândalo MSI-Corinthians. Exilado em Londres, ele fala abertamente em derrubar Putin e envia ajuda financeira a candidatos de oposição.
Ontem, também num movimento simbolicamente importante, o mesmo Berezovski foi condenado, "in absentia", a seis anos de cadeia acusado de desviar o equivalente a cerca de R$ 16 milhões da aerolinha estatal Aeroflot, nos anos 90. Berezovski enfrenta 11 processos na Justiça russa, todos "in absentia", e os considera uma "farsa".
A ameaça de Putin aos oligarcas é retórica. Não há no horizonte imediato a possibilidade política de algum deles retornar -sob Putin, tiveram seus negócios desestruturados, foram obrigados a se exilar ou acabaram presos. Santos nunca foram, mas muitos citam abusos na campanha contra eles.
Ainda assim, ele disse: "Agora eles querem alterar o curso de desenvolvimento apoiado pela nação e trazer de volta o tempo de humilhação". Por fim, repetiu que a Rússia tem que ter a capacidade de defesa fortalecida, "e melhorar a imagem do país no mundo".
Putin está numa posição peculiar. É presidente e candidato a deputado e escolheu um partido aliado para fortalecer sua posição quando deixar o cargo, em março de 2008. Poderá ser premiê ou ocupar uma posição ainda a ser definida, mas seguirá mandando.
Desde 2006, a Lei Eleitoral acabou com o sistema de voto distrital misto e aumentou a cláusula de barreira para 7% dos votos para garantir entrada na Duma (Câmara dos Deputados), o que deverá assegurar ao partido Rússia Unida uma maioria absoluta. Curiosidade: Putin o lidera sem ser filiado.
O desprezo pela instituição partidária veio também do último presidente soviético, Mikhail Gorbatchov. Dizendo ontem apoiar Putin, "que fez muito pelo país", afirmou não ter a Duma "em grande conta" e "não gostar do Rússia Unida".


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