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Putin evoca medo de oligarcas ao pedir voto
Discurso eleitoreiro é televisionado no mesmo dia em que Berezovski é condenado "in absentia" a seis anos de prisão
Presidente, que concorre a cargo de deputado neste domingo, diz que tirou Rússia do fundo do "poço" e ganha elogio de Gorbatchov
IGOR GIELOW
ENVIADO ESPECIAL A MOSCOU
O presidente russo, Vladimir
Putin, foi à TV ontem pedir votos para o partido que lidera
nas eleições parlamentares de
domingo e falou sobre a ameaça da volta ao poder dos chamados oligarcas -os empresários
que fizeram fortuna escusa
com os espólios da União Soviética nos anos 90 e depois caíram em desgraça.
Na filial da rua Krasnaia
Pressia da rede russa de pubs-de-mentirinha John Bull, um
cliente no balcão estava interessado no que Putin ia dizer e
perguntou para a garçonete se
havia uma televisão disponível,
ontem às 12h de Moscou.
"Niet", respondeu sem mais
delongas a moça, vestida com a
tradicionalmente diminuta minissaia que os estabelecimentos russos que atendem a estrangeiros costumam impor,
embora um aparelho estivesse
desligado junto ao caixa. Ele
não protestou.
Sentado à mesa anexa com a
reportagem, o diretor de comunicações de uma grande empresa do setor militar russo
reafirmou o veredicto mais freqüente entre analistas políticos: "Ninguém dá bola para essa eleição".
Putin, significativamente, falou no canal público ORT e na
rede privada NTV -que pertencia a um oligarca que virou
adversário do presidente, e teve
o controle comprado pela estatal do gás em 2001.
"Lembrem o que nós tínhamos oito anos atrás, o poço do
qual nós tivemos que tirar o
nosso país. Se nós queremos viver vidas decentes, nós devemos impedir aqueles que uma
vez lideraram de forma malsucedida o país de retornar para o
poder", disse Putin.
Berezovski
Um dos destinatários da
mensagem é Boris Berezovski,
mais conhecido no Brasil por
seu envolvimento com o escândalo MSI-Corinthians. Exilado
em Londres, ele fala abertamente em derrubar Putin e envia ajuda financeira a candidatos de oposição.
Ontem, também num movimento simbolicamente importante, o mesmo Berezovski foi
condenado, "in absentia", a seis
anos de cadeia acusado de desviar o equivalente a cerca de R$
16 milhões da aerolinha estatal
Aeroflot, nos anos 90. Berezovski enfrenta 11 processos na
Justiça russa, todos "in absentia", e os considera uma "farsa".
A ameaça de Putin aos oligarcas é retórica. Não há no horizonte imediato a possibilidade
política de algum deles retornar -sob Putin, tiveram seus
negócios desestruturados, foram obrigados a se exilar ou
acabaram presos. Santos nunca
foram, mas muitos citam abusos na campanha contra eles.
Ainda assim, ele disse: "Agora eles querem alterar o curso
de desenvolvimento apoiado
pela nação e trazer de volta o
tempo de humilhação". Por
fim, repetiu que a Rússia tem
que ter a capacidade de defesa
fortalecida, "e melhorar a imagem do país no mundo".
Putin está numa posição peculiar. É presidente e candidato
a deputado e escolheu um partido aliado para fortalecer sua
posição quando deixar o cargo,
em março de 2008. Poderá ser
premiê ou ocupar uma posição
ainda a ser definida, mas seguirá mandando.
Desde 2006, a Lei Eleitoral
acabou com o sistema de voto
distrital misto e aumentou a
cláusula de barreira para 7%
dos votos para garantir entrada
na Duma (Câmara dos Deputados), o que deverá assegurar ao
partido Rússia Unida uma
maioria absoluta. Curiosidade:
Putin o lidera sem ser filiado.
O desprezo pela instituição
partidária veio também do último presidente soviético, Mikhail Gorbatchov. Dizendo ontem apoiar Putin, "que fez muito pelo país", afirmou não ter a
Duma "em grande conta" e
"não gostar do Rússia Unida".
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