São Paulo, segunda-feira, 30 de dezembro de 2002

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CRISE NUCLEAR

Medidas para forçar país comunista a abandonar programa atômico incluiriam sanções políticas e econômicas

EUA esboçam plano contra Coréia do Norte

Ahn Young-joon/Associated Press
Sul-coreanos protestam em Seul (capital) contra reativação do programa nuclear norte-coreano


DO "THE NEW YORK TIMES"

O governo Bush prepara uma ampla estratégia para aumentar a pressão política e financeira sobre a Coréia do Norte caso o país asiático não abandone seus planos para desenvolver armas nucleares, afirmou um alto funcionário do governo norte-americano.
Segundo esse plano, o Conselho de Segurança da ONU poderia retaliar com sanções econômicas, e forças militares dos EUA poderiam interceptar carregamentos marítimos de mísseis norte-coreanos, para privar o país das receitas da venda de armas.
Os países vizinhos à Coréia do Norte, segundo o plano, também poderiam reduzir as alianças com o governo de Pyongyang, embora Washington não os esteja pressionando no momento.
Declarações dadas ontem pelo secretário de Estado dos EUA, Colin Powell, também fazem supor que há possibilidade de ser verídica essa estratégia.
"Não estamos planejando um ataque. Os EUA dispõem de um leque completo de possibilidades -políticas, econômicas, diplomáticas e, sim, militares. Mas não estamos tentando criar uma atmosfera de crise." E concluiu: "Estamos monitorando [a situação" cuidadosamente... Temos meses para observar seu desenrolar, para ver o que acontece".
Segundo fontes do governo Bush, a ameaça de isolamento crescente é a melhor maneira de forçar a Coréia do Norte a abandonar suas ambições nucleares.
"É a chamada "prevenção sob medida", pois é uma situação inteiramente diferente da de Iraque e Irã. Há muita pressão política e econômica. Isso também requer o máximo possível de cooperação internacional", disse uma fonte.
Mas a nova política de prevenção de Bush está sofrendo críticas de especialistas. Eles dizem que as nações aliadas dificilmente fariam a pressão necessária para prejudicar a economia norte-coreana. Afirmam também que essa política carece de um elemento vital: um canal diplomático aberto entre EUA e Coréia do Norte.
"Essa política é um jogo, segundo o qual o regime norte-coreano entrará em colapso antes que tenha podido adquirir um arsenal nuclear substancial que possa ameaçar a estabilidade no leste da Ásia", afirmou Robert Einhorn, um ex-membro do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, em Washington, que negociou com os norte-coreanos durante o governo de Bill Clinton.
Ontem à noite, um comunicado do Ministério das Relações Exteriores norte-coreano acusou os EUA de "nos ameaçar, chantagear e destruir com armas nucleares, impulsionado pela atitude da Guerra Fria e contra a tendência básica do novo século, a favor da reconciliação e da paz".
O esforço da Coréia do Norte em desenvolver um programa nuclear provocou a mais séria crise já ocorrida no nordeste asiático nos últimos dez anos.
No sábado, a AIEA (Agência Internacional de Energia Atômica), que é vinculada à ONU, afirmou que irá retirar seus inspetores da Coréia do Norte amanhã. Pyongyang, que anunciou no dia 12 que retomaria as atividades de seu reator nuclear, fechado após um acordo feito em 1994 com os EUA, havia exigido anteontem a saída dos inspetores da AIEA do país.
Conforme o acordo de 1994, Washington se comprometia a, em troca do fim das atividades nucleares no país comunista, fornecer petróleo para a produção alternativa de energia.
Em outubro os EUA anunciaram que o governo norte-coreano reconhecera, num encontro com o subsecretário de Estado James Kelly, que mantinha um programa nuclear secreto. No mês seguinte, Washington suspendeu o envio de petróleo, dizendo que o acordo não tinha mais validade.
Talvez o mais fechado regime do mundo, a Coréia do Norte foi qualificada por Bush de membro do que chamou de "eixo do mal", ao lado de Iraque e Irã.
Pyongyang porém nunca reconheceu, perante a comunidade internacional, ter tal programa secreto. Apenas disse ter o direito de tê-lo. Os norte-coreanos afirmam que a reativação do complexo nuclear de Yongbyon é essencial para que o fornecimento de energia do país não entre em colapso.
Washington teme que o reator de Yongbyon possa fornecer plutônio para armas nucleares.


Com agências internacionais


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