São Paulo, quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

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ANÁLISE

Cenário de paz assusta quase tanto quanto o de uma guerra

FÁBIO ZANINI
EDITOR DE MUNDO

Há algum tempo o Sudão é uma causa célebre em Hollywood, e o 9 de janeiro de 2011 pode dar mais um empurrãozinho para isso.
Neste dia, quando os moradores do sul do país forem às urnas para, muito provavelmente, declarar sua independência, vários cenários são possíveis. Quanto mais positivo, menos provável.
A pior situação, obviamente, é a guerra. O governo central árabe está obrigado, em razão de um acordo de paz de 2005, a respeitar o resultado e deixar o sul negro, com 10 milhões de habitantes, 25% do território e a maior parte das jazidas de petróleo do país, separar-se.
Não é o que se ouve com frequência inquietante em Cartum nos últimos dias.
Ministros linha-dura do entorno do ditador Omar al-Bashir (procurado por crimes de guerra em outro conflito, em Darfur, no oeste) sugerem que a independência nunca ocorrerá.
A justificativa é parecida com a do presidente da Costa do Marfim, Laurent Gbagbo, para se manter no cargo do outro lado do continente: não haveria condições para um voto "justo".
Nesse cenário, o sul, armado com tanques ucranianos de segunda mão, deve se rebelar, e uma nova guerra surgirá no país mais extenso da África, rico em petróleo, influente no Oriente Médio e abrigo de fundamentalistas.
A última, entre 1983 e 2005, deixou 2 milhões de mortos.
A pressão internacional pode fazer o norte deixar o sul partir. Nesse caso, a paz é também assustadora.
Nascerá um país onde, segundo a ONU, 90% das pessoas são pobres, 20% têm "risco crítico" de morrer de fome e 10% das crianças são vacinadas. O sul do Sudão já nasce um Estado fracassado.
Última hipótese: o referendo corre bem, o norte aceita o resultado e um governo limpo assume o poder atacando de imediato a pobreza aguda. Não prenda a respiração.


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