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São Paulo, sexta-feira, 31 de janeiro de 2003

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Carta de líderes em apoio aos EUA expõe racha na Europa

DA REDAÇÃO

Uma carta conjunta assinada por oito líderes europeus apoiando os EUA na crise com o Iraque colocou ontem em destaque as divisões na política externa da União Européia (UE).
O Parlamento Europeu aprofundou a crise ao declarar que a resposta iraquiana aos inspetores de armas da ONU até agora não justifica uma ação militar.
Em artigo publicado em vários jornais europeus e no americano "The Wall Street Journal", os líderes de Espanha, Dinamarca, Itália, Portugal e Reino Unido, membros da UE, e os de Hungria, Polônia e República Tcheca, futuros membros, disseram que o tempo do ditador Saddam Hussein se esgotou e apelaram por união.
Mas eles não consultaram a maior parte de seus parceiros e candidatos à UE quanto à iniciativa, lançada dias depois de os chanceleres do bloco tentarem atenuar as divergências por meio de uma declaração conjunta em apoio às inspeções da ONU.
O premiê britânico, Tony Blair, e o italiano, Silvio Berlusconi, dois dos principais proponentes da idéia, mantiveram a Grécia, que ocupa a presidência rotativa da UE, no escuro, durante conversas telefônicas com o premiê grego, Costas Simitis, anteontem.
"Uma simples questão de cortesia ditaria que fôssemos consultados previamente", disse um furioso funcionário grego.
Os funcionários da UE disseram que nem o chefe da diplomacia do bloco, Javier Solana, nem seu comissário de Relações Exteriores, Chris Patten, foram consultados.
"Não vivemos em um mundo perfeito", disse Jonathan Faull, porta-voz da Comissão Européia (órgão executivo da UE), acrescentando que "todos nós concordamos em que ainda há muito a fazer para reforçar os mecanismos de nossa política externa e de segurança comum".
Um importante funcionário disse que a iniciativa havia demolido uma semana de esforço de controle de danos por parte da UE, no sentido de construir um consenso em favor das inspeções de armas e do respeito à primazia do Conselho de Segurança.
Segundo o diário espanhol "El País", a idéia da carta surgiu após o "Wall Street Journal" pedir um texto ao premiê espanhol, José María Aznar, explicando sua posição pró-EUA. Pediriam o mesmo a Berlusconi, mas, segundo fontes do diário americano ouvidas pelo "El País", Aznar decidiu fazer uma carta conjunta de líderes europeus e pediu ajuda de Blair na empreitada.

Parlamento Europeu
O Parlamento Europeu adotou por 287 a 209 votos, com 26 abstenções, uma resolução não compulsória que afirma que "as violações da Resolução 1.441 do Conselho de Segurança da ONU atualmente identificadas pelos inspetores com respeito a armas de destruição em massa não justificam ação militar".
Diplomatas da UE disseram que a carta da "gangue dos oito" parecia ser uma tentativa de isolar a França e a Alemanha, que advertiram Washington quanto a uma decisão apressada de ir à guerra, e de reforçar a posição de Blair em seu encontro hoje com o presidente dos EUA, George W. Bush.
As relações entre EUA e França e Alemanha sofrem sua pior crise em décadas. O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, chamou o eixo franco-alemão de "velha Europa" e disse que o núcleo de poder do continente estava indo para o leste.
"A relação transatlântica não deve se tornar vítima das persistentes tentativas do atual governo iraquiano de ameaçar a segurança mundial", diz a carta dos líderes, ressaltando a identidade de princípios entre a Europa e os EUA.
Mas o fato de que apenas cinco dos 15 chefes de governo dos atuais membros da UE tenham assinado o texto, enquanto um deles -o premiê holandês, Jan-Peter Balkenende- se recusou, demonstra o quanto a divisão do bloco é profunda.
Embora apenas a Alemanha tenha declarado oposição incondicional a uma ação militar, até agora, Áustria, Bélgica, Finlândia, França, Grécia e Suécia instaram que os inspetores recebam mais prazo e insistem em que todas as possibilidades de uma solução pacífica sejam exploradas.
A França minimizou o alcance da carta, afirmando que ela "não traz surpresas". Um comunicado da Presidência diz que o país concorda com o objetivo de desarmar o Iraque, mas que "outras opções" devem ser testadas antes da guerra. O chanceler Dominique de Villepin lembrou que a posição da França se inspira em dois princípios: "firmeza em relação ao Iraque e preocupação em buscar uma solução dentro da ONU".
"Além da Europa, só a unidade da comunidade internacional pode garantir a eficácia, a legitimidade e a responsabilidade da comunidade internacional", disse.
O governo alemão reafirmou "a importância de impulsionar uma posição européia comum para uma solução pacífica da crise".


Com agências internacionais


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