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Carta de líderes em apoio aos EUA expõe racha na Europa
DA REDAÇÃO
Uma carta conjunta assinada
por oito líderes europeus apoiando os EUA na crise com o Iraque
colocou ontem em destaque as divisões na política externa da
União Européia (UE).
O Parlamento Europeu aprofundou a crise ao declarar que a
resposta iraquiana aos inspetores
de armas da ONU até agora não
justifica uma ação militar.
Em artigo publicado em vários
jornais europeus e no americano
"The Wall Street Journal", os líderes de
Espanha, Dinamarca, Itália, Portugal e Reino Unido, membros da
UE, e os de Hungria, Polônia e República Tcheca, futuros membros, disseram que o tempo do ditador Saddam Hussein se esgotou
e apelaram por união.
Mas eles não consultaram a
maior parte de seus parceiros e
candidatos à UE quanto à iniciativa, lançada dias depois de os
chanceleres do bloco tentarem
atenuar as divergências por meio
de uma declaração conjunta em
apoio às inspeções da ONU.
O premiê britânico, Tony Blair,
e o italiano, Silvio Berlusconi, dois
dos principais proponentes da
idéia, mantiveram a Grécia, que
ocupa a presidência rotativa da
UE, no escuro, durante conversas
telefônicas com o premiê grego,
Costas Simitis, anteontem.
"Uma simples questão de cortesia ditaria que fôssemos consultados previamente", disse um furioso funcionário grego.
Os funcionários da UE disseram
que nem o chefe da diplomacia do
bloco, Javier Solana, nem seu comissário de Relações Exteriores,
Chris Patten, foram consultados.
"Não vivemos em um mundo
perfeito", disse Jonathan Faull,
porta-voz da Comissão Européia
(órgão executivo da UE), acrescentando que "todos nós concordamos em que ainda há muito a
fazer para reforçar os mecanismos de nossa política externa e de
segurança comum".
Um importante funcionário
disse que a iniciativa havia demolido uma semana de esforço de
controle de danos por parte da
UE, no sentido de construir um
consenso em favor das inspeções
de armas e do respeito à primazia
do Conselho de Segurança.
Segundo o diário espanhol "El
País", a idéia da carta surgiu após
o "Wall Street Journal" pedir um
texto ao premiê espanhol, José
María Aznar, explicando sua posição pró-EUA. Pediriam o mesmo a Berlusconi, mas, segundo
fontes do diário americano ouvidas pelo "El País", Aznar decidiu
fazer uma carta conjunta de líderes europeus e pediu ajuda de
Blair na empreitada.
Parlamento Europeu
O Parlamento Europeu adotou
por 287 a 209 votos, com 26 abstenções, uma resolução não compulsória que afirma que "as violações da Resolução 1.441 do Conselho de Segurança da ONU atualmente identificadas pelos inspetores com respeito a armas de
destruição em massa não justificam ação militar".
Diplomatas da UE disseram que
a carta da "gangue dos oito" parecia ser uma tentativa de isolar a
França e a Alemanha, que advertiram Washington quanto a uma
decisão apressada de ir à guerra, e
de reforçar a posição de Blair em
seu encontro hoje com o presidente dos EUA, George W. Bush.
As relações entre EUA e França
e Alemanha sofrem sua pior crise
em décadas. O secretário da Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld,
chamou o eixo franco-alemão de
"velha Europa" e disse que o núcleo de poder do continente estava indo para o leste.
"A relação transatlântica não
deve se tornar vítima das persistentes tentativas do atual governo
iraquiano de ameaçar a segurança
mundial", diz a carta dos líderes,
ressaltando a identidade de princípios entre a Europa e os EUA.
Mas o fato de que apenas cinco
dos 15 chefes de governo dos
atuais membros da UE tenham
assinado o texto, enquanto um
deles -o premiê holandês, Jan-Peter Balkenende- se recusou,
demonstra o quanto a divisão do
bloco é profunda.
Embora apenas a Alemanha tenha declarado oposição incondicional a uma ação militar, até agora, Áustria, Bélgica, Finlândia,
França, Grécia e Suécia instaram
que os inspetores recebam mais
prazo e insistem em que todas as
possibilidades de uma solução
pacífica sejam exploradas.
A França minimizou o alcance
da carta, afirmando que ela "não
traz surpresas". Um comunicado
da Presidência diz que o país concorda com o objetivo de desarmar
o Iraque, mas que "outras opções" devem ser testadas antes da
guerra. O chanceler Dominique
de Villepin lembrou que a posição
da França se inspira em dois princípios: "firmeza em relação ao Iraque e preocupação em buscar
uma solução dentro da ONU".
"Além da Europa, só a unidade
da comunidade internacional pode garantir a eficácia, a legitimidade e a responsabilidade da comunidade internacional", disse.
O governo alemão reafirmou "a
importância de impulsionar uma
posição européia comum para
uma solução pacífica da crise".
Com agências internacionais
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