|
Próximo Texto | Índice
BÁLCÃS
Condição do ex-ditador era ignorada; ação coroa dia confuso, em que sua prisão foi divulgada pelo governo e negada por aliados
Polícia iugoslava invade a casa de Milosevic
DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS
A polícia iugoslava invadiu ontem a casa do ex-ditador Slobodan Milosevic, 59, no subúrbio de
Belgrado. Houve um tiroteio e, até
a 1h (horário de Brasília), não havia informações oficiais sobre a
condição de Milosevic.
A invasão foi o ápice de um dia
de confusão envolvendo do ex-ditador. Horas antes, funcionários
do Departamento de Estado dos
EUA disseram ter sido informados pelo governo iugoslavo de
que Milosevic havia sido preso.
O presidente dos EUA, George
W. Bush, o premiê britânico,
Tony Blair, e autoridades da Otan
e da ONU chegaram a fazer comentários sobre a prisão do ex-ditador -reiteradamente negada
por aliados de Milosevic.
Mais tarde, Milosevic deu entrevista por telefone a uma rádio e
apareceu na porta de sua casa saudando simpatizantes.
"Estou tomando um café com
meus camaradas e estou muito
bem", disse Milosevic à rádio independente B92. "Diante da minha casa se reuniu um grande número de simpatizantes, empenhados em salvar nosso povo e
nossa dignidade", afirmou o ex-ditador.
A informação sobre a prisão de
Milosevic fora divulgada ao final
do prazo estipulado por uma lei
do Congresso dos EUA para o novo governo da Iugoslávia mostrar
que está cooperando com o tribunal da ONU para a ex-Iugoslávia,
que indiciou o ex-ditador e expediu mandado de prisão contra ele.
Se o governo norte-americano
considerar que Belgrado não está
cooperando, irá reter ajuda financeira de US$ 100 milhões e barrar
verbas de organismos internacionais como o Banco Mundial e o
Fundo Monetário Internacional.
O Tribunal Penal Internacional
quer a extradição de Milosevic para Haia (Holanda) para julgá-lo
por crimes de guerra. O governo
do presidente Vojislav Kostunica
diz que a Constituição da Iugoslávia não prevê extradição, mas já
indicou que pode julgar Milosevic
no país sob acusação de corrupção e abuso de poder.
Confusão
Deputados do Partido Socialista
da Sérvia, presidido por Milosevic, e dezenas de simpatizantes foram à porta da casa do ex-ditador,
no luxuoso bairro de Dedinje,
após os primeiros rumores da prisão, causados pela chegada ao local de uma ambulância, um carro
da polícia e outros veículos sem
identificação.
Durante várias horas, especulou-se sobre a prisão, com fontes
do governo confirmando-a e aliados de Milosevic negando-a.
A TV privada sérvia BK disse no
final da tarde que havia um mandado de prisão contra Milosevic e
que a polícia estava dentro da casa
negociando sua rendição. Depois,
a emissora disse que Milosevic estava em um dos veículos pretos
que saíram da casa do ex-ditador,
com vidros escuros, e se dirigiram
ao Palácio da Justiça, onde ele seria interrogado.
Imagens de TV mostraram o
ex-ditador saudando os simpatizantes do lado de fora de sua casa,
pouco depois da meia-noite, o
que indica que ele pode ter sido
preso e liberado após um breve
interrogatório.
Membros da "guarda do povo",
que fazia a vigília pró-Milosevic
diante de sua casa, disseram que
viram vários homens armados
descerem dos carros sem identificação e entrarem na casa do ex-ditador, que controlou o poder na
Iugoslávia por 13 anos.
O governo norte-americano havia admitido que seria improvável
que Belgrado entregasse Milosevic ao tribunal da ONU no prazo
estipulado. Mas sugeriram que, se
ele estivesse atrás das grades, o
país teria mais chances de ter a
aprovação dos EUA.
"Sempre dissemos que Milosevic deveria ser levado à Justiça",
disse ontem o presidente dos
EUA, George W. Bush. "Estamos
acompanhando a situação bem
de perto e daremos qualquer ajuda solicitada (por Belgrado)."
O Departamento de Estado dos
EUA disse que não anunciaria antes da segunda-feira sua decisão
sobre a ajuda a Belgrado.
O tribunal da ONU em Haia indiciou Milosevic por crimes contra a humanidade por causa das
acusações de atrocidades cometidas pelas forças iugoslavas sob
seu comando contra a população
de origem albanesa em Kosovo,
em 1999. Milosevic dizia combater a ameaça à integridade territorial do país representada pelos
guerrilheiros do Exército de Libertação de Kosovo (UCK). Em
março, após Milosevic se negar a
assinar acordo com o UCK, a
Otan lançou seu ataque contra a
Iugoslávia.
Depois de 78 dias de bombardeios, Belgrado aceitou retirar
suas tropas de Kosovo, que passou a ser administrada pela ONU
sob proteção de tropas da Otan.
Milosevic foi deposto em outubro numa revolta popular pacífica, após denúncias de fraude nas
eleições gerais, que teriam sido
vencidas já no primeiro turno por
Kostunica.
Próximo Texto: Ação foi resposta aos EUA, diz analista Índice
|