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Ação foi resposta aos EUA, diz analista
MÁRCIO SENNE DE MORAES
DA REDAÇÃO
A pressão dos EUA sobre o governo iugoslavo foi crucial para
que Belgrado tomasse uma atitude mais enérgica em relação ao
ex-ditador Slobodan Milosevic.
A análise é de William J. Buckley, professor na Universidade
de Georgetown e editor de "Kosovo: Contending Voices on Balkan
Interventions" (Kosovo: vozes
discordantes sobre intervenções
nos Bálcãs). Leia a seguir trechos
de sua entrevista à Folha.
Folha - A prisão de Milosevic, se
confirmada, fará a situação política ficar mais instável na Sérvia?
William J. Buckley - Não creio
que muitos sérvios pensem que
Milosevic possa ajudá-los agora.
O Partido Socialista da Sérvia
(PSS, presidido pelo ex-ditador)
não é mais muito poderoso e não
conseguirá realmente opor-se à
detenção de Milosevic. O PSS não
tem grande base popular, e as pessoas que o apóiam continuarão a
fazê-lo independentemente da
prisão de Milosevic.
Também não acredito que haja
instabilidade em Kosovo (Província da Sérvia) caso sua detenção
seja confirmada. Talvez haja protestos simbólicos na capital iugoslava (e sérvia), Belgrado, porém
nada de grande importância.
O presidente iugoslavo, Vojislav
Kostunica, está tentando convencer a população de que os próprios sérvios, não a comunidade
internacional, decidirão o que
acontecerá com Milosevic.
Na verdade, o premiê sérvio,
Zoran Djindjic, e Kostunica tentam encarnar os dois extremos do
centro na cena política iugoslava.
Kostunica desempenha o papel
mais conservador, dizendo que as
leis sérvias devem ser respeitadas.
Assim, o presidente diz o que os
iugoslavos desejam ouvir.
Já Djindjic diz à comunidade internacional que o processo democrático está em curso e que não
demorará até que ela consiga o
que quer (o julgamento de Milosevic pelo Tribunal Penal Internacional, de Haia). Djindjic tenta
agradar ao Ocidente.
Folha - A detenção de Milosevic
seria um sinal simbólico enviado à
comunidade internacional?
Buckley - É claro que o prazo que
os EUA haviam estipulado para
analisar a situação iugoslava (31
de março -hoje) foi crucial.
Contudo, em Washington, há
uma disputa entre dois campos.
De um lado, funcionários de
carreira do Departamento de Estado são favoráveis à extensão do
prazo ou a que os EUA considerem que as mudanças já ocorridas
na Iugoslávia são suficientes para
liberar a ajuda financeira da qual
Belgrado precisa, pois querem demonstrar que apóiam Kostunica.
Por outro lado, vários republicanos que fazem parte do governo
de George W. Bush ou do Congresso sustentam que os EUA devem bloquear o envio de fundos
até que Milosevic possa ser julgado em Haia. Na realidade, a ajuda
norte-americana não é tão vultosa. A verdadeira questão diz respeito à influência dos EUA sobre
o Fundo Monetário Internacional
e o Banco Mundial, que podem
oferecer muito mais dinheiro ao
governo iugoslavo.
Há, portanto, divisões dentro
dos governos dos EUA e da Iugoslávia. Há quatro partes envolvidas
na questão, não apenas duas, como poderíamos pensar.
Folha - O sr. crê que Milosevic
possa ser julgado em Haia?
Buckley - Provavelmente, ele deva ser julgado por corrupção ou
peculato dentro da própria Iugoslávia. Mas não podemos esquecer
que, nos EUA, na primeira metade do século 20, os gângsteres foram encarcerados por crimes financeiros, não por matar pessoas.
Assim, esse tipo de processo já
seria um começo e poderia agradar ao governo dos EUA a curto
prazo, pois as atenções estão mais
voltadas para a Macedônia hoje.
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