São Paulo, sábado, 31 de março de 2001

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ORIENTE MÉDIO

Governo israelense mantém planos para novos ataques; liderança palestina denuncia "crime bárbaro"

Israel mata 6 palestinos durante protestos

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Seis palestinos foram mortos ontem na Cisjordânia em confronto com soldados israelenses durante protestos pelo 25º aniversário do Dia da Terra. A data homenageia seis árabes israelenses mortos em 1976 durante manifestações contra a expropriação de terras por Israel. Nas comunidades árabes dentro do país, contudo, a data foi lembrada por meio de passeatas pacíficas.
A onda de protestos foi uma das maiores desde o início da atual revolta palestina.
Cinco das vítimas de ontem morreram em Nablus, onde cerca de 10 mil pessoas saíram às ruas exigindo o fim da ocupação -em torno de 50 pessoas ficaram feridas em confrontos contra as tropas de Israel, que chegaram a usar munição comum.
O sexto palestino foi morto em Ramallah. Cerca de mil pessoas marcharam contra uma barreira de segurança israelense instalada na cidade, e houve troca de tiros entre soldados e forças palestinas.
A Autoridade Nacional Palestina (ANP), presidida pelo líder palestino Iasser Arafat, acusou Israel de ter cometido ontem "um crime bárbaro, que envergonha a humanidade".
Na Esplanada das Mesquitas -ou Monte do Templo, para os judeus-, na Cidade Velha de Jerusalém, policiais entraram em choque com palestinos que arremessavam pedras contra judeus que estavam em oração no Muro das Lamentações.
Em Hebron, sacudida pela violência desde a morte de um bebê israelense, atingido por uma bala na cabeça na segunda-feira, tanques de Israel voltaram a bombardear uma região de onde palestinos estariam atacando os colonos judeus. Prédios e casas em outras áreas palestinas foram atingidos ontem.
Vários manifestantes foram feridos também em Gaza, durante protestos com 5.000 pessoas. Bandeiras de Israel e dos EUA foram queimadas, e o grupo extremista islâmico Hamas convocou a população a realizar mais ataques em solo israelense.
Os choques de ontem nos territórios palestinos fizeram quase cem feridos. Uma série de atentados terroristas em Israel e o bombardeio aéreo contra Ramallah e Gaza fizeram desta semana uma das mais violentas da revolta.
Ao menos 365 palestinos, 13 árabes israelenses e 69 judeus foram mortos na nova Intifada (levante), iniciada em 28 de setembro, após a visita de Ariel Sharon a lugar disputado em Jerusalém Oriental -o líder conservador foi eleito premiê em fevereiro.

Tentativas de contenção
Em novas medidas para tentar reprimir a revolta, Israel impediu que ministros palestinos de Gaza cruzassem o território do país em direção à Cisjordânia. "Israel não permitirá a passagem da liderança palestina porque a violência é promovida por ela", disse um porta-voz da administração israelense nos territórios ocupados.
A determinação frustrou a reunião semanal do gabinete palestino em Ramallah. Antes os ministros atravessavam o bloqueio imposto a Gaza e à Cisjordânia com vistos de Israel.
O governo israelense anunciou ainda que estava determinado a prosseguir com as operações militares contra os palestinos.
Os EUA, tradicional aliado de Israel, expressaram anteontem apoio ao governo do premiê Sharon na pressão sobre a ANP e fez eco às acusações do líder direitista contra Arafat.
O presidente George W. Bush, que criticara o envolvimento "excessivo" do ex-presidente Bill Clinton no conflito do Oriente Médio e dissera pretender "facilitar a paz, em vez de forçá-la", culpou Arafat pela escalada e o pressionou a refreá-la. "A mensagem que estou enviando aos palestinos é que detenham a violência. Não posso ser mais claro do que isso e espero que Arafat ouça bem", declarou.
O ministro palestino do Planejamento pediu que os EUA voltassem à posição de "verdadeiro patrocinador da paz" e "ficassem do lado das vítimas, só para variar".
A ANP criticou ainda o veto norte-americano a uma resolução da ONU que determinaria o envio de observadores estrangeiros aos territórios palestinos para a proteção de civis. "A decisão representa um claro encorajamento ao governo Sharon, para que ele continue com seu plano militar e sua guerra agressiva contra nosso povo pacífico", afirmou nota da organização.
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, reiterou seu apelo ao início imediato de negociações.

Luto do Dia da Terra
Em Sakhnin, no norte de Israel, cerca de 10 mil homens, mulheres e crianças caminharam da mesquita no centro da cidade até o cemitério onde estão enterrados os seis homens mortos por Israel em 1976. No local estão também os túmulos de dois árabes israelenses mortos no início da nova Intifada. Durante todo o dia de ontem, lojas e escolas permaneceram fechadas.
"Esta é uma recordação do dia em que perdemos nosso povo para o governo israelense, para o Exército de Israel, para a ocupação", disse um palestino de 35 anos.



Texto Anterior: Europa: ETA ameaça atacar pontos turísticos na Espanha
Próximo Texto: Aventura: Britânico cruza o Pacífico sozinho em barco a remo
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.