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Mesmo considerado autoritário, Kirchner agrada
Pesquisa revela que número de argentinos que vêem o presidente como democrático diminuiu, mas sua aprovação aumentou
BRUNO LIMA
DE BUENOS AIRES
Pela primeira vez desde o início do mandato do presidente
da Argentina, Néstor Kirchner,
o número de argentinos que dizem considerá-lo autoritário
superou o dos que o acham democrático. Criticado pela imprensa, pela Igreja Católica e,
nesta semana, até pela Justiça,
o traço "autoritário" do estilo
presidencial, porém, é visto como positivo pela população.
A avaliação positiva da gestão
Kirchner chegou a 71,7% em fevereiro deste ano, segundo dados do Programa de Estudos de
Opinião Pública da Universidade Aberta Interamericana -em
fevereiro de 2006 era de 66,7%.
O mesmo estudo revela que,
entre agosto de 2006 e fevereiro de 2007, a porcentagem dos
que avaliam Kirchner como
"mais autoritário que democrático" (37,9%) ultrapassou a dos
que o crêem "democrático"
(34,3%). Em fevereiro de 2004,
a imagem de "democrático"
vencia por 63,9% a 9,8%.
"Entre os argentinos, a imagem de autoritário não é negativa. Parece incompatível, mas
o que as pessoas estão dizendo
ao presidente é que exerça a autoridade com força", explica o
professor Raúl Aragón, diretor
do programa, que entrevista
mil pessoas a cada três meses
para fazer as duas medições.
Segundo ele, a "crise de legitimidade que envolveu todo o
sistema de autoridade argentino e culminou com a renúncia
do presidente Fernando de la
Rúa [em dezembro de 2001]" é
o principal determinante desse
fenômeno. Outro fator apontado pelo professor é a tradição
política argentina, que sempre
foi caracterizada por caudilhos.
Para os governistas, os dados
indicam que Kirchner tem nas
mãos os elementos para, quem
sabe, liderar um terceiro movimento histórico na Argentina,
como já fizeram Juan Domingo
Perón (1895-1974) e o radical
Hipólito Yrigoyen (1852-1833).
Entre os partidários do presidente circula a tese de que, ao
eleger como sua sucessora a
primeira-dama, Cristina
Kirchner, o presidente teria
tempo para se dedicar à formação desse movimento, sem receber críticas por eventual "uso
da máquina pública". O embrião da nova tendência seria a
aliança já existente entre parte
do peronismo e os chamados
"radicais K" (governadores
que, embora membros da
União Cívica Radical, adversária histórica do peronismo, hoje apóiam o presidente).
Em outubro haverá eleições
presidenciais, e Kirchner faz
mistério sobre se ele ou Cristina será o candidato da situação.
A pesquisa também destaca
que, apesar de estar no último
ano de mandato, a imagem positiva de Kirchner está subindo.
Equilíbrio e prudência
No último dia 24, aniversário
do golpe que deu início à ultima
ditadura militar argentina, em
1976, Kirchner fez um discurso
inflamado e acusou a Justiça de
demorar muito para julgar os
processos contra ex-repressores, uma das principais bandeiras políticas de seu governo.
O presidente se dirigiu a um
tribunal de instância intermediária, mas suas reclamações
repercutiram na Corte Suprema. A corte pediu que Kirchner
atue com "equilíbrio e prudência" e "respeite a independência do Poder Judiciário".
O presidente respondeu:
"Não tenho a intenção de invadir nenhum poder. Imprudência são as causas [já julgadas em
primeira instância] paradas
[devido a recurso] há quase
quatro anos."
"Nos últimos 40 anos, incluindo os dos governos autoritários, nunca vi uma intromissão na Justiça como esta", rebateu Alfredo Bisordi, presidente do tribunal penal citado
expressamente por Kirchner.
O governo respondeu pedindo
que o juiz renunciasse.
Após o bate-boca, Bisordi
acabou pedindo licença por 30
dias. Ele e outros três juízes são
acusados -por 61 pessoas que
esperam decisões relacionadas
à violação de direitos humanos
na ditadura- de atrasar processos.
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