São Paulo, terça, 31 de março de 1998

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DIREITOS HUMANOS
Após denúncia de jornal chinês, polícia liberta o lavrador Deng Qilu, detido sem acusação formal
China solta homem enjaulado havia 3 anos

Divulgação


das agências internacionais

Em um episódio raro na história da China, as autoridades do país se curvaram frente a pressões da mídia para libertar um homem detido em condições desumanas -Deng Qilu estava havia três anos em uma pequena jaula, nu e com os pés acorrentados.
O caso do lavrador de 43 anos de idade de Xuwen, na Província de Guangdong (sudeste da China), foi denunciado na edição de sábado do jornal "Yangcheng".
Na capa da publicação, a foto de Deng, dentro da jaula pequena demais para que ele ficasse em pé, causou embaraço às autoridades chinesas, que tentam apagar a imagem de que o país não respeita os direitos humanos.
Segundo os dois jornalistas que encontraram Deng -Wang Hongchao e Zheng Jie-, o lavrador estava faminto e afirmou que não comia havia três dias.
Deng Qilu vivia com o que seu pai, periodicamente, lhe levava de comida.
"Esta ação viola a lei e mostra desprezo pelos direitos humanos", disse ao jornal Wang Zhongxing, do Departamento de Direito da Universidade Zhongsha, em Guangdong.
"Colocar um homem numa jaula é uma ação muito selvagem", acrescentou o professor de direito.
O lavrador foi libertado anteontem. A cela, que não tinha portas e foi construída com canos de metal e barras de ferro, teve de ser aberta com serras mecânicas. Fraco demais para andar, o homem que passara três anos enjaulado foi carregado por dois enfermeiros.
Segundo um médico do hospital do Povo Número Três, o lavrador foi levado para uma clínica psiquiátrica da cidade de Zhanjiang, próxima a Xuwen.
Histórico de violência
Deng Qilu foi sentenciado em 1984 a três anos de prisão após ser condenado por agressão. Em liberdade, segundo pessoas próximas a ele, o lavrador se tornou uma ameaça para a vila onde morava devido a sua violência. Os médicos diagnosticaram que Deng era deficiente mental.
Em 1988, ele recebeu um tiro na perna quando tentava entrar em uma repartição do governo com uma arma na mão. Deng não recebeu nenhuma punição.
No ano seguinte, porém, ele foi detido sem ser julgado formalmente após ter ferido gravemente uma autoridade policial.
Ele foi transferido para a jaula que ocupava até o início desta semana em 1995, quando o centro de detenção em que estava começou a ser reformado.

Nova tendência
A reportagem do "Yangcheng" e a subsequente libertação de Deng Qilu apontam para uma nova mídia chinesa, que nasce em meio a um país que apenas economicamente se dispõe a mudanças.
Há cerca de duas décadas, o governo comunista chinês vem realizando reformas pró-capitalismo, mas se nega a flexibilizar seu rígido sistema político e de censura.



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