São Paulo, sexta-feira, 31 de maio de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Cerimônia de 30 minutos, presenciada por 5.000 pessoas, encerra oficialmente os trabalhos no local

Em silêncio, termina o resgate no WTC

Reuters
Cerimônia marca o fim oficial do trabalho de limpeza e resgate no "Ponto Zero", local onde ficavam as torres do World Trade Center


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

Acabou em silêncio o trabalho oficial de resgate e limpeza do lugar que um dia foi o World Trade Center, numa cerimônia de 30 minutos cheia de simbolismos que nem sempre foram entendidos pelos cerca de 5.000 presentes ontem de manhã em Nova York.
A homenagem organizada pela prefeitura começou com um membro do Corpo de Bombeiros tocando um sino 20 vezes em memória dos soldados mortos, às 10h29 locais (11h29 de Brasília), mesmo horário em que desabou a segunda torre do complexo de prédios em 11 de setembro.
Na presença do atual prefeito, Michael Bloomberg, e de seu antecessor, Rudolph Giuliani, parentes das vítimas, políticos, jornalistas e representantes de todas as agências que trabalharam ali nos 260 dias encerrados ontem escoltaram uma bandeira dobrada numa maca, alusão aos corpos não encontrados (dos 2.823 mortos, só 1.081 foram identificados).
O cortejo terminou numa ambulância, que se retirou do local ao som de tambores. Em seguida, um caminhão também foi escoltado enquanto carregava a última viga de aço da torre sul do WTC, que havia sido cortada na antevéspera, desta vez em homenagem aos trabalhadores.
Então, um helicóptero da polícia fez um vôo rasante, uma banda de gaitas de foles tocou "America the Beautiful" e os presentes foram saindo do chamado "Ponto Zero" em direção à rua Canal, em Manhattan, sob aplausos. Num dos prédios ao lado, havia uma faixa com os dizeres: "Nunca esqueceremos".
"É difícil desvincular 11 de setembro de todo aquele ferro retorcido", disse Bloomberg. "Mas o fato é que agora são as pessoas que sobreviveram que devem levar sua vida." Em Washington, o presidente George W. Bush agradeceu aos que trabalharam na área e ofereceu suas preces.
"Isso foi duro", afirmou o bombeiro Joseph Pfeiffer enquanto seguia a procissão. "Quatro meses atrás eu estava aqui carregando o corpo de meu irmão." Dos 343 bombeiros que morreram naquele dia, 193 tiveram seus corpos encontrados.
"Como meu marido não teve direito a um caixão, porque seu corpo nunca foi achado, a bandeira sendo carregada foi um símbolo forte para mim", disse Hayley Lehrfeld, que estava com a filha do casal, Laura, 2.
Se o resgate e a limpeza acabaram de fato no "Ponto Zero", o mesmo não se pode dizer do trabalho em geral. Agora, os operários tem de reparar as estações de metrô e do trem que liga Nova York a Nova Jersey, que foram destruídas com a queda, além da eletricidade e telefonia.
Têm ainda de reforçar o muro de concreto que separa o local do rio Hudson, vizinho da área. Será o pontapé inicial para o que quer que seja feito na área de 64 mil m2 onde antes ficavam os prédios.
Bloomberg pede paciência. "Ao fazer o memorial, tenho de ter a certeza de ter ouvido a opinião de todas as famílias das vítimas, e isso leva tempo."
O terreno foi devolvido a seu dono original, a Autoridade Portuária da cidade, que tem US$ 2 bilhões de verbas federais para a reconstrução.
Na semana passada, o órgão anunciou que o escritório de arquitetura Beyer Blinder Belle será o consultor oficial para o planejamento urbano da área. A empresa tem até julho para apresentar seis propostas. A vencedora será anunciada no início de dezembro.



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