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Polícia retoma métodos de controle social da era Mao
Para evitar protestos como o de 89, governo alia consultoria estrangeira a táticas tradicionais
Estratégia de Pequim inclui volta do monitoramento pelos comitês de vizinhança e visitas de agentes à casa de potenciais manifestantes
DE PEQUIM
Autoridades chinesas redesenharam a atuação de suas
forças de segurança nos últimos 20 anos, após o massacre
da praça da Paz Celestial. Como
em muitas outras áreas, da economia aos esportes, o governo
importou os melhores consultores de segurança do mundo
para impedir a possibilidade de
um novo 4 de junho de 1989.
A tragédia da praça da Paz
Celestial escancarou duas fraquezas: como os militares precisaram matar centenas de civis que faziam barricadas para
desocupar uma praça; e o fracasso prévio em impedir que
estudantes desarmados ocupassem o coração da capital,
diante da sede do governo, ao
longo de mais de seis semanas.
Um consultor europeu que
deu cursos para a liderança militar chinesa nos últimos sete
anos, contou à Folha que o sistema de controle social, usado
na era de Mao Tse-tung, foi
reabilitado nos anos 90.
Voltaram os comitês de vizinhança do Partido, onde o líder
comunitário reporta qualquer
atitude suspeita à polícia.
O sistema de inteligência foi
modernizado, e a polícia adotou uma atitude mais preventiva. Dissidentes e possíveis manifestantes recebem visitas periódicas em um esforço de confiança, contenção e persuasão.
De moradores despejados a
funcionários demitidos que
não receberam salários ou indenizações, a polícia visita os
aflitos, buscando evitar qualquer protesto. Dissidentes ouvidos pela Folha confirmam
que são convidados a jantar ou
almoçar com policiais com frequência, em tom amigável.
O consultor diz que o sistema tem funcionado, pois os
protestos na China raramente
descambam para violência. Ele
diz que o governo também tem
evitado grandes concentrações
em espaços públicos. Marchas,
shows em estádios ou grandes
eventos são desestimulados.
O que aconteceu em 1989, segundo o consultor europeu, foi
a ausência clara de comando,
com as divisões no Partido Comunista e na Segurança.
Em 1983, foi criada a Polícia
Armada do Povo, a força paramilitar com algumas funções
antes exclusivas do Exército -
de segurança pública a controle de incêndios. Polícia comum,
Exército e os paramilitares não
trabalharam juntos para evitar
a tomada da praça e o bloqueio
de avenidas em 1989.
As atribuições das três foram
reescritas nos anos 90. O treinamento para controle de distúrbios, antiterrorismo e resgate têm sido intensificados.
Com as exceções de regiões
de fronteiras ou de minorias
étnicas separatistas, como Tibete, Sichuan, Xinjiang e a costa vizinha a Taiwan, o Exército
foi retirado de questões de "ordem pública interna".
(RJL)
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