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GUERRA SEM LIMITES
Petróleo aumentaria e, ao contrário da Guerra do Golfo, país teria de arcar com quase todos os custos
Ação no Iraque abalaria economia dos EUA
DO ""THE NEW YORK TIMES"
Um eventual ataque dos EUA ao Iraque pode afetar profundamente a economia americana, porque os EUA teriam que pagar a maior parte do custo e arcar
com a maior parte do choque que seria causado aos preços do petróleo e outras perturbações do mercado, disseram funcionários do governo americano, diplomatas e economistas.
Em 1991, a Guerra do Golfo, travada para expulsar as forças iraquianas que tinham invadido o Kuait, custou aos EUA e a seus aliados US$ 60 bilhões e ajudou a precipitar uma recessão econômica provocada em parte pela alta
dos preços do petróleo.
Os aliados dos EUA pagaram quase 80% da conta dessa guerra. Hoje, porém, enquanto a administração Bush traça planos para derrubar o ditador iraquiano,
Saddam Hussein, os EUA enfrentam a probabilidade de que, dessa
vez, tenham que arcar sozinhos com a conta considerável.
A não ser que as perspectivas
econômicas melhorem, é muito
possível que o governo se veja
gastando bilhões de dólares por
mês na guerra, justamente num
momento em que a economia começa a recuperar-se da recessão
do ano passado.
O déficit orçamentário federal já
está aumentando, o que significa
que a conta da guerra provocaria
ou um rombo maior ou cortes em
programas domésticos. Novas
iniciativas federais, tais como a
cobertura de medicamentos receitados por médicos, talvez precisassem ser reduzidas ou eliminadas, disseram alguns parlamentares.
Se a confiança dos consumidores e dos investidores permanecer
frágil, a ação militar pode exercer
efeitos psicológicos consideráveis
sobre os mercados financeiros, os
gastos no varejo, os investimentos, o turismo e outros setores-chave da economia, disseram
analistas e funcionários do governo. Se o fornecimento de petróleo
sofrer transtornos, como aconteceu durante a última Guerra do
Golfo, e os preços tiverem um aumento acentuado, os efeitos econômicos serão sentidos nos EUA
e em todo o mundo.
Tudo isso pode representar um
problema político complicado
para o presidente George W.
Bush, tanto para as eleições parlamentares de novembro quanto
para sua campanha de reeleição
em 2004.
""Pode-se afirmar com segurança que os eleitores vão querer
compreender os argumentos a favor da guerra ou de qualquer tipo
de ação militar prolongada melhor do que compreendem hoje,
porque as considerações econômicas a serem levadas em conta
seriam grandes", disse o analista
político Kim N. Wallace, do banco Lehman Brothers.
Altos funcionários da administração disseram que Bush e seus
assessores ainda não começaram
a estudar o custo da guerra porque ainda não decidiram que tipo
de operação militar pode ser necessária. Mas, seja qual for a escolha feita, dizem especialistas, os
custos provavelmente serão significativos e, portanto, podem acabar por influir sobre as dimensões, a escala e a tática de qualquer
operação militar eventual.
A Arábia Saudita, o Kuait e o Japão dividiram com os EUA os
custos da guerra de 1991. Hoje,
porém, dizem diplomatas, nenhum desses países se ofereceu a
ajudar a financiar uma nova campanha militar. Na verdade, cada
um deles já assinalou que não
gostaria de receber um pedido
nesse sentido. ""Basta abrir um
mapa", disse um membro da família real kuaitiana que mantém
contatos estreitos com Washington. ""O Afeganistão está um caos,
o Oriente Médio, em chamas, e
vocês ainda querem abrir uma
terceira frente de guerra na região? Isso realmente se converteria numa guerra de civilizações",
disse o kuaitiano.
Se Bush decidir em favor de um
plano de invasão em grande escala do Iraque, envolvendo até 250
mil homens, como propõem alguns comandantes militares, o
país terá que empreender uma
mobilização militar significativa e
convocar os reservistas já a partir
de outubro, para estar pronto para empreender uma campanha
militar no início de 2003.
James R. Schlesinger, membro
do Conselho de Política de Defesa
que assessora o Pentágono e ex-ocupante de altos cargos de gabinete em administrações republicanas e democratas, disse acreditar que o presidente optará por
uma presença terrestre significativa no Iraque. Schlesinger não prevê que o temor de uma instabilidade econômica, por si só, possa
levar os EUA a desistir da tentativa de afastar o líder iraquiano do
poder. ""Minha visão é que, em
vista de tudo o que já dissemos, na
condição de maior potência mundial, sobre a necessidade de uma
mudança de regime no Iraque,
nossa credibilidade ficaria seriamente prejudicada se tal mudança de regime não ocorresse."
Guerra do Golfo
A Guerra do Golfo custou US$
61,1 bilhões, de acordo com o Serviço de Pesquisas do Congresso.
Desse total, US$ 48,4 bilhões foram pagos por outros países. A
equipe democrata do Comitê Orçamentário do Congresso disse
que, em dólares atuais, o custo da
guerra de 1991 chegou a US$ 79,9
bilhões, o que dá uma idéia muito
aproximada do custo provável de
um conflito de dimensões semelhantes, hoje.
Tradução de Clara Allain
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