São Paulo, quarta-feira, 31 de julho de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Petróleo aumentaria e, ao contrário da Guerra do Golfo, país teria de arcar com quase todos os custos

Ação no Iraque abalaria economia dos EUA

DO ""THE NEW YORK TIMES"

Um eventual ataque dos EUA ao Iraque pode afetar profundamente a economia americana, porque os EUA teriam que pagar a maior parte do custo e arcar com a maior parte do choque que seria causado aos preços do petróleo e outras perturbações do mercado, disseram funcionários do governo americano, diplomatas e economistas.
Em 1991, a Guerra do Golfo, travada para expulsar as forças iraquianas que tinham invadido o Kuait, custou aos EUA e a seus aliados US$ 60 bilhões e ajudou a precipitar uma recessão econômica provocada em parte pela alta dos preços do petróleo.
Os aliados dos EUA pagaram quase 80% da conta dessa guerra. Hoje, porém, enquanto a administração Bush traça planos para derrubar o ditador iraquiano, Saddam Hussein, os EUA enfrentam a probabilidade de que, dessa vez, tenham que arcar sozinhos com a conta considerável.
A não ser que as perspectivas econômicas melhorem, é muito possível que o governo se veja gastando bilhões de dólares por mês na guerra, justamente num momento em que a economia começa a recuperar-se da recessão do ano passado.
O déficit orçamentário federal já está aumentando, o que significa que a conta da guerra provocaria ou um rombo maior ou cortes em programas domésticos. Novas iniciativas federais, tais como a cobertura de medicamentos receitados por médicos, talvez precisassem ser reduzidas ou eliminadas, disseram alguns parlamentares.
Se a confiança dos consumidores e dos investidores permanecer frágil, a ação militar pode exercer efeitos psicológicos consideráveis sobre os mercados financeiros, os gastos no varejo, os investimentos, o turismo e outros setores-chave da economia, disseram analistas e funcionários do governo. Se o fornecimento de petróleo sofrer transtornos, como aconteceu durante a última Guerra do Golfo, e os preços tiverem um aumento acentuado, os efeitos econômicos serão sentidos nos EUA e em todo o mundo.
Tudo isso pode representar um problema político complicado para o presidente George W. Bush, tanto para as eleições parlamentares de novembro quanto para sua campanha de reeleição em 2004.
""Pode-se afirmar com segurança que os eleitores vão querer compreender os argumentos a favor da guerra ou de qualquer tipo de ação militar prolongada melhor do que compreendem hoje, porque as considerações econômicas a serem levadas em conta seriam grandes", disse o analista político Kim N. Wallace, do banco Lehman Brothers.
Altos funcionários da administração disseram que Bush e seus assessores ainda não começaram a estudar o custo da guerra porque ainda não decidiram que tipo de operação militar pode ser necessária. Mas, seja qual for a escolha feita, dizem especialistas, os custos provavelmente serão significativos e, portanto, podem acabar por influir sobre as dimensões, a escala e a tática de qualquer operação militar eventual.
A Arábia Saudita, o Kuait e o Japão dividiram com os EUA os custos da guerra de 1991. Hoje, porém, dizem diplomatas, nenhum desses países se ofereceu a ajudar a financiar uma nova campanha militar. Na verdade, cada um deles já assinalou que não gostaria de receber um pedido nesse sentido. ""Basta abrir um mapa", disse um membro da família real kuaitiana que mantém contatos estreitos com Washington. ""O Afeganistão está um caos, o Oriente Médio, em chamas, e vocês ainda querem abrir uma terceira frente de guerra na região? Isso realmente se converteria numa guerra de civilizações", disse o kuaitiano.
Se Bush decidir em favor de um plano de invasão em grande escala do Iraque, envolvendo até 250 mil homens, como propõem alguns comandantes militares, o país terá que empreender uma mobilização militar significativa e convocar os reservistas já a partir de outubro, para estar pronto para empreender uma campanha militar no início de 2003.
James R. Schlesinger, membro do Conselho de Política de Defesa que assessora o Pentágono e ex-ocupante de altos cargos de gabinete em administrações republicanas e democratas, disse acreditar que o presidente optará por uma presença terrestre significativa no Iraque. Schlesinger não prevê que o temor de uma instabilidade econômica, por si só, possa levar os EUA a desistir da tentativa de afastar o líder iraquiano do poder. ""Minha visão é que, em vista de tudo o que já dissemos, na condição de maior potência mundial, sobre a necessidade de uma mudança de regime no Iraque, nossa credibilidade ficaria seriamente prejudicada se tal mudança de regime não ocorresse."

Guerra do Golfo
A Guerra do Golfo custou US$ 61,1 bilhões, de acordo com o Serviço de Pesquisas do Congresso. Desse total, US$ 48,4 bilhões foram pagos por outros países. A equipe democrata do Comitê Orçamentário do Congresso disse que, em dólares atuais, o custo da guerra de 1991 chegou a US$ 79,9 bilhões, o que dá uma idéia muito aproximada do custo provável de um conflito de dimensões semelhantes, hoje.


Tradução de Clara Allain


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