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ÁFRICA
Tratado pode levar ao fim do maior conflito armado do continente; analistas apontam obstáculos para a sua implementação
Congo e Ruanda assinam acordo de paz
DA REDAÇÃO
Os presidentes da República
Democrática do Congo (ex-Zaire)
e de Ruanda assinaram ontem
um acordo de paz que pode ser o
primeiro passo rumo ao fim de
um conflito que já deixou 2 milhões de mortos em quatro anos.
O documento prevê a retirada
dos cerca de 30 mil soldados
ruandeses do leste do Congo. Em
contrapartida, o governo congolês deve prender e desarmar rebeldes de etnia hutu que, após
atuarem no genocídio de 1 milhão
de tutsis em Ruanda, em 1994, se
refugiaram no vizinho Congo.
Tropas da ONU devem ajudar os
congoleses nessa missão.
"Esse é um dia brilhante para o
continente africano", disse o presidente sul-africano, Thabo Mbeki, durante a cerimônia de assinatura, em Pretória, da qual participaram os presidentes ruandês, Paul Kagame, e congolês, Joseph
Kabila. "O sangue não precisa
mais ser derramado", disse Kabila. "Há um tempo para a guerra e
um tempo para a paz."
Apesar da retórica animadora,
analistas recomendam que o
acordo seja recebido com cautela.
Há dificuldades para a implementação dos compromissos. O prazo
de 90 dias estipulado para a prisão
dos hutus é apertado. O governo
do Congo já quebrou promessas
parecidas no passado. Nada leva a
crer que os rebeldes se entregarão
sem resistência. Além disso, a
ONU não tem um contingente na
região capaz de fazer a diferença
na ofensiva contra os hutus.
Da mesma forma, o governo de
Ruanda tem suas razões para
adiar a retirada militar. Os seus
soldados continuam a saquear
diamantes e marfim do território
que ocupam no leste congolês.
"Qualquer passo adiante é bem-vindo. Mas as perspectivas de implementação desse acordo são
completamente fora da realidade", disse Alison Des Forges, especialista em Ruanda da organização defensora dos direitos humanos Human Rights Watch.
Bélgica e França, ex-potências
coloniais na África, elogiaram ontem a iniciativa. Em nome da
União Européia, a Dinamarca,
atual presidente do bloco, disse
esperar empenho dos dois lados
para levar adiante o processo de
paz no maior conflito africano.
Indagado se três meses eram suficientes para desarmar e repatriar rebeldes e ex-soldados ruandeses radicados no Congo, o presidente Kabila respondeu: "Todo
fim de mês, nós, os chefes de Estado, nos reuniremos, de forma rotativa, em Kigali (Ruanda), Kinshasa (Congo) e, talvez, aqui (Pretória) para avaliar o progresso e
seguir o caminho".
Já Kagame afirmou estar preparado para retirar seus soldados do
Congo, contanto que suas preocupações de segurança sejam
atendidas. "O importante é que
todos concordamos que devemos
fazer tudo o que podemos para
que as milícias deixem de ser um
risco para Ruanda ou para qualquer outro país", declarou.
"A segunda questão é a de que
todas as tropas estrangeiras devem sair do Congo. Ruanda está
pronta para sair." Zimbábue, Angola e Namíbia enviaram tropas
ao país para apoiar as forças de
Kinshasa. Segundo Kabila, elas
serão retiradas quando ele sentir
que não enfrenta mais ameaças
externas. O conflito ainda é complicado pelo apoio de Uganda e de
Ruanda aos rebeldes congoleses.
Com agências internacionais
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