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Comissão diz que culpa não é de ação afirmativa
DE NOVA YORK
A comissão interna do "New
York Times" concluiu que a política de ação afirmativa adotada
pela empresa não foi a principal
responsável pelo escândalo.
"Alguns críticos argumentam
que o esforço de diversidade foi
essencialmente o que causou a calamidade [Jayson] Blair. Isso é
simplista", escreveu a comissão
em seu relatório final, divulgado
ontem.
Segundo a avaliação de seus integrantes, o escândalo "representa uma falha de comunicação, comando e disciplina".
"Nenhuma pessoa, nenhum erro isolado e nenhuma política sozinha são responsáveis pela vergonha de plágio e ficção que manchou o jornalismo do "New York
Times" na primavera de 2003", diz
o relatório.
A comissão entrevistou diversas
pessoas ligadas ao caso, incluindo
os dois chefes da Redação à época,
Howell Raines e Gerald Boyd, que
deixaram o jornal como consequência da crise.
O ex-repórter Jayson Blair, autor das fraudes publicadas no jornal, recusou-se a falar, alegando
problemas de saúde.
O escândalo foi detonado em
maio, quando o jornal gastou
quatro páginas em correções de
reportagens de Blair, que se demitiu após o "Times" descobrir que
ele inventara informações e copiara trechos de outros meios em
seus textos.
Muitas vozes, incluindo a do
próprio Raines, disseram, à época, que a política de ação afirmativa do jornal tinha desempenhado
papel importante no escândalo.
Argumentava-se que Blair conseguira passar incólume durante
muito tempo -e inclusive ser
promovido, apesar de seus seguidos erros-, por ser negro, o que
se encaixaria na política adotada
pelo "Times" de buscar diversidade entre os integrantes de sua Redação.
O escândalo que começou com
Blair aumentou quando um importante repórter do jornal se demitiu após a descoberta de que ele
utilizara trabalho de outra jornalista em um texto sem creditar seu
nome na assinatura.
Em junho, os dois principais
editores do "New York Times" se
demitiram, e o jornal anunciou
uma solução provisória para o comando da Redação. Em 14 de julho, Bill Keller foi escolhido para
ser o novo editor-executivo.
A comissão que investigou o escândalo aponta que a principal
causa da fraude desencadeada
por Blair é a falta de comunicação
interna entre seus funcionários
-alguns editores já desconfiavam de seu comportamento, mas
tal preocupação não foi levada em
consideração pelo jornal.
"Nossa reconstrução dos anos
de Blair no Times indica que ele
teve muitas segundas chances",
escreveu a comissão.
Mas o grupo sustenta que os erros não são decorrência direta da
vontade da empresa de diversificar sua equipe de jornalistas.
"Ação afirmativa malfeita não
ajuda ninguém e prejudica tanto a
companhia quanto a causa do favorecimento de oportunidades",
diz o relatório elaborado pela comissão.
(RD)
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