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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

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Comissão diz que culpa não é de ação afirmativa

DE NOVA YORK

A comissão interna do "New York Times" concluiu que a política de ação afirmativa adotada pela empresa não foi a principal responsável pelo escândalo.
"Alguns críticos argumentam que o esforço de diversidade foi essencialmente o que causou a calamidade [Jayson] Blair. Isso é simplista", escreveu a comissão em seu relatório final, divulgado ontem.
Segundo a avaliação de seus integrantes, o escândalo "representa uma falha de comunicação, comando e disciplina".
"Nenhuma pessoa, nenhum erro isolado e nenhuma política sozinha são responsáveis pela vergonha de plágio e ficção que manchou o jornalismo do "New York Times" na primavera de 2003", diz o relatório.
A comissão entrevistou diversas pessoas ligadas ao caso, incluindo os dois chefes da Redação à época, Howell Raines e Gerald Boyd, que deixaram o jornal como consequência da crise.
O ex-repórter Jayson Blair, autor das fraudes publicadas no jornal, recusou-se a falar, alegando problemas de saúde.
O escândalo foi detonado em maio, quando o jornal gastou quatro páginas em correções de reportagens de Blair, que se demitiu após o "Times" descobrir que ele inventara informações e copiara trechos de outros meios em seus textos.
Muitas vozes, incluindo a do próprio Raines, disseram, à época, que a política de ação afirmativa do jornal tinha desempenhado papel importante no escândalo. Argumentava-se que Blair conseguira passar incólume durante muito tempo -e inclusive ser promovido, apesar de seus seguidos erros-, por ser negro, o que se encaixaria na política adotada pelo "Times" de buscar diversidade entre os integrantes de sua Redação.
O escândalo que começou com Blair aumentou quando um importante repórter do jornal se demitiu após a descoberta de que ele utilizara trabalho de outra jornalista em um texto sem creditar seu nome na assinatura.
Em junho, os dois principais editores do "New York Times" se demitiram, e o jornal anunciou uma solução provisória para o comando da Redação. Em 14 de julho, Bill Keller foi escolhido para ser o novo editor-executivo.
A comissão que investigou o escândalo aponta que a principal causa da fraude desencadeada por Blair é a falta de comunicação interna entre seus funcionários -alguns editores já desconfiavam de seu comportamento, mas tal preocupação não foi levada em consideração pelo jornal.
"Nossa reconstrução dos anos de Blair no Times indica que ele teve muitas segundas chances", escreveu a comissão.
Mas o grupo sustenta que os erros não são decorrência direta da vontade da empresa de diversificar sua equipe de jornalistas.
"Ação afirmativa malfeita não ajuda ninguém e prejudica tanto a companhia quanto a causa do favorecimento de oportunidades", diz o relatório elaborado pela comissão. (RD)


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