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São Paulo, quinta-feira, 31 de julho de 2003

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MÍDIA

Buscando evitar falhas recentes, diário nova-iorquino também terá editores de padrões e de equipe e desenvolvimento de carreira

"NY Times" cria cargo de ombudsman

ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

O jornal "The New York Times" anunciou ontem que vai criar o cargo de ombudsman.
A iniciativa faz parte de um pacote de medidas que o diário decidiu tomar para se reorganizar após a mais dramática crise de seus 151 anos de existência.
O ombudsman será chamado de editor público e deverá ser conhecido até setembro ou outubro. O escolhido terá mandato de um ano -após o período, o jornal vai avaliar se mantém sua função e se a altera.
A decisão é um marco na história do "Times", que vinha se recusando a criar uma estrutura de controle externo de sua Redação. "Temíamos que ele fomentasse críticas desimportantes e auto-admiração, que pudesse afetar o moral da equipe e que, pior de tudo, fosse tirar dos editores sua responsabilidade de representar os interesses dos leitores", escreveu o novo editor-executivo do jornal, Bill Keller, no memorando em que anunciou a medida.
Mas a avaliação agora é outra. "Nós podemos nos beneficiar com o escrutínio de um representante, independente, dos leitores. Um par de olhos profissionais, familiares a nós, mas independentes da produção diária do jornal, pode nos tornar mais sensíveis a assuntos de equilíbrio e precisão e aumentar nossa credibilidade", apontou Keller.
O ombudsman se reportará a Keller, mas terá prerrogativas especiais, como o mandato definido. Além disso, poderá, quando quiser, publicar no "Times" textos comentando pontos da cobertura do jornal e terá acesso regular assegurado ao publisher, Arthur Sulzberger Jr.
A criação do cargo de ombudsman é uma das sugestões vindas de uma comissão montada pelo "Times", com nomes de dentro e de fora da empresa. O jornal acatou as principais idéias.
Outra novidade importante será o cargo de editor de padrões. Seu trabalho se concentrará em regular a qualidade da cobertura durante a produção do jornal -o ombudsman, por sua vez, terá seu foco direcionado ao que já foi publicado pelo diário.
Parte do trabalho do editor público será dividida com o editor de padrões. Ambos serão responsáveis, por exemplo, por assegurar que o jornal corrija adequadamente os erros que cometer. Mas o editor público terá a prerrogativa de escrever críticas públicas, se as considerar necessárias.
O editor de padrões, que será nomeado em breve, já tem algumas missões pré-definidas. Ele vai rever a política do jornal para publicação de informações cuja fonte não é identificada e para crédito de reportagens.
O "Times" decidiu ainda criar um terceiro novo cargo, o de editor de equipe e desenvolvimento de carreira. Ele ficará responsável por conduzir a política de contratações e promoções do jornal. Uma de suas funções será levar adiante as práticas de ação afirmativa que o "Times" adota em relação a seus empregados.
A política de diversificação dos funcionários será levada adiante após a comissão concluir que ela não foi culpada pelo escândalo desencadeado por seu ex-repórter Jayson Blair, 27.
O "Times" descobriu que o jornalista publicou reportagens fraudadas. As investigações internas levaram à divulgação de uma longa de lista de correções. A seguir, a crise provocou a demissão de seu editor-executivo anterior, Howell Raines. Ele foi substituído por Keller, que assumiu o cargo ontem.
Paralelamente, o jornal montou uma comissão com 28 pessoas e encabeçada por Allan Siegal, secretário-assistente de Redação.
A partir da série de recomendações formuladas pelo grupo, a direção do "Times" resolveu anunciar também outras mudanças de procedimento, além da criação dos três novos cargos.
O jornal decidiu mudar práticas de gerenciamento de seu pessoal. Os editores serão avaliados não apenas pela qualidade jornalística de seu trabalho mas também por sua capacidade de comandar sua equipe e de decidir o uso dos recursos que tem em mãos.
O "Times" vai negociar com o sindicato dos jornalistas a criação de um sistema de avaliação de seus funcionários, que deverá ser usado para determinar seus salários. Além disso, criará um sistema para aumentar a comunicação entre seus jornalistas -uma das causas apontadas como responsáveis pelo escândalo.


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