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MÍDIA
Buscando evitar falhas recentes, diário nova-iorquino também terá editores de padrões e de equipe e desenvolvimento de carreira
"NY Times" cria cargo de ombudsman
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
O jornal "The New York Times"
anunciou ontem que vai criar o
cargo de ombudsman.
A iniciativa faz parte de um pacote de medidas que o diário decidiu tomar para se reorganizar
após a mais dramática crise de
seus 151 anos de existência.
O ombudsman será chamado
de editor público e deverá ser conhecido até setembro ou outubro.
O escolhido terá mandato de um
ano -após o período, o jornal vai
avaliar se mantém sua função e se
a altera.
A decisão é um marco na história do "Times", que vinha se recusando a criar uma estrutura de
controle externo de sua Redação.
"Temíamos que ele fomentasse
críticas desimportantes e auto-admiração, que pudesse afetar o
moral da equipe e que, pior de tudo, fosse tirar dos editores sua responsabilidade de representar os
interesses dos leitores", escreveu
o novo editor-executivo do jornal,
Bill Keller, no memorando em
que anunciou a medida.
Mas a avaliação agora é outra.
"Nós podemos nos beneficiar
com o escrutínio de um representante, independente, dos leitores.
Um par de olhos profissionais, familiares a nós, mas independentes da produção diária do jornal,
pode nos tornar mais sensíveis a
assuntos de equilíbrio e precisão e
aumentar nossa credibilidade",
apontou Keller.
O ombudsman se reportará a
Keller, mas terá prerrogativas especiais, como o mandato definido. Além disso, poderá, quando
quiser, publicar no "Times" textos comentando pontos da cobertura do jornal e terá acesso regular
assegurado ao publisher, Arthur
Sulzberger Jr.
A criação do cargo de ombudsman é uma das sugestões vindas
de uma comissão montada pelo
"Times", com nomes de dentro e
de fora da empresa. O jornal acatou as principais idéias.
Outra novidade importante será o cargo de editor de padrões.
Seu trabalho se concentrará em
regular a qualidade da cobertura
durante a produção do jornal -o
ombudsman, por sua vez, terá seu
foco direcionado ao que já foi publicado pelo diário.
Parte do trabalho do editor público será dividida com o editor
de padrões. Ambos serão responsáveis, por exemplo, por assegurar que o jornal corrija adequadamente os erros que cometer. Mas
o editor público terá a prerrogativa de escrever críticas públicas, se
as considerar necessárias.
O editor de padrões, que será
nomeado em breve, já tem algumas missões pré-definidas. Ele vai
rever a política do jornal para publicação de informações cuja fonte não é identificada e para crédito
de reportagens.
O "Times" decidiu ainda criar
um terceiro novo cargo, o de editor de equipe e desenvolvimento
de carreira. Ele ficará responsável
por conduzir a política de contratações e promoções do jornal.
Uma de suas funções será levar
adiante as práticas de ação afirmativa que o "Times" adota em
relação a seus empregados.
A política de diversificação dos
funcionários será levada adiante
após a comissão concluir que ela
não foi culpada pelo escândalo
desencadeado por seu ex-repórter Jayson Blair, 27.
O "Times" descobriu que o jornalista publicou reportagens fraudadas. As investigações internas
levaram à divulgação de uma longa de lista de correções. A seguir, a
crise provocou a demissão de seu
editor-executivo anterior, Howell
Raines. Ele foi substituído por Keller, que assumiu o cargo ontem.
Paralelamente, o jornal montou
uma comissão com 28 pessoas e
encabeçada por Allan Siegal, secretário-assistente de Redação.
A partir da série de recomendações formuladas pelo grupo, a direção do "Times" resolveu anunciar também outras mudanças de
procedimento, além da criação
dos três novos cargos.
O jornal decidiu mudar práticas
de gerenciamento de seu pessoal.
Os editores serão avaliados não
apenas pela qualidade jornalística
de seu trabalho mas também por
sua capacidade de comandar sua
equipe e de decidir o uso dos recursos que tem em mãos.
O "Times" vai negociar com o
sindicato dos jornalistas a criação
de um sistema de avaliação de
seus funcionários, que deverá ser
usado para determinar seus salários. Além disso, criará um sistema para aumentar a comunicação entre seus jornalistas -uma
das causas apontadas como responsáveis pelo escândalo.
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