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São Paulo, domingo, 31 de agosto de 2003

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Mulheres já reclamam do "sexo artificial" do parceiro

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Em tempos de Viagra, pênis ereto deixou de ser sinônimo de relação sexual satisfatória. Sem a assistência de um médico, a ereção induzida por drogas também deixou de ser prova de saúde.
Pelo contrário, pode estar camuflando problemas físicos e psicológicos. Este alerta já faz parte do consenso brasileiro de disfunção erétil aprovado no ano passado e consta das recomendações internacionais adotadas em Paris, em junho último.
E, por mais óbvio e, ao mesmo tempo, surpreendente que possa parecer, pela primeira vez o consenso internacional lembrou a importância da parceira nos problemas de disfunção erétil do homem.
A prática farmacêutica no Brasil, no entanto, invalida o essencial dessas recomendações. Os medicamentos de tarja vermelha, embora a lei exija prescrição médica, são vendidos sem receita.
Tanto o Viagra, que já tem cinco anos de mercado, quanto o Levitra e o Cialis, aprovados recentemente na Europa e no Brasil, têm tarja vermelha. O Levitra acaba de ser aprovado nos EUA.

Ereção sem drogas
"Os pacientes chegam aqui dizendo que já experimentaram as três drogas por conta própria", diz Sidney Glina, urologista do Instituto H. Ellis, de São Paulo, e ex-presidente da Sociedade Internacional para o Estudo da Sexualidade e da Impotência.
Glina diz que a grande maioria de seus pacientes procura a clínica em busca de outras alternativas. "Alguns se queixam que o uso entrou na rotina e já não funciona. Outros não querem mais depender do medicamento."
A psiquiatra Carmita Abdo, do Prosex do Hospital das Clínicas, autora de várias pesquisas sobre o comportamento sexual do brasileiro, costuma lembrar que a disfunção erétil é um marcador de saúde mental e física. "A dificuldade de ereção pode esconder diabetes, hipertensão, vida sedentária, depressão e mesmo uma relação desgastada com o parceiro."
Mesmo resolvendo temporariamente o problema da ereção, o paciente precisa procurar um médico, afirma Abdo.
O psicoterapeuta sexual Oswaldo Rodrigues, do Instituto Paulista de Sexualidade, diz que as drogas para ereção estão resultando em um novo perfil de paciente: mulheres descontentes com o que chamam de "sexo artificial" do companheiro. "Algumas vêm com o marido afirmando que o problema está com ele e que ele precisa se tratar", diz.
Há um outro público procurando ajuda: homens que, mesmo tomando as drogas, não conseguem ereção porque não têm desejo. "Se ele não gosta mais da mulher, não há remédio que resolva", afirma Sidney Glina.
Esse é o grande diferencial das drogas orais que estão no mercado. Todas facilitam a ereção inibindo a enzima fosforodiesterase-5 e todas dependem do desejo. Alguém que tome o comprimido e bata o carro a caminho do motel não terá ereção.
Em geral, as drogas funcionam para cerca de 80% dos que sofrem de algum grau de disfunção sexual, número estimado em 150 milhões no mundo e 12 milhões no Brasil. Viagra e Levitra agem por um período de 6 a 10 horas, o Cialis diz que seu efeito pode chegar a 36 horas. A ação se inicia em geral depois de 10 a 20 minutos e o preço oscila, no Brasil, entre R$ 20 e R$ 30 o comprimido.

Injeção no pênis
Antes da era dos "comprimidos do prazer", empregavam-se injeções de prostraglandina e de papaverina, que funcionam em praticamente todos os casos e têm duração de duas a três horas. São drogas que não dependem do desejo: aplicada a substância, a ereção acontecerá, queira ou não o paciente. Segundo Glina, 17% dos seus pacientes -geralmente com problemas físicos graves- se beneficiam das injeções.
Outro recurso, indicado para uma minoria de pacientes, são as próteses de silicone. Há as maleáveis, que a pessoa dobra ou levanta. E as infláveis, enchidas por um líquido mantido em um reservatório no abdome e acionado por uma bombinha instalada na parede do saco escrotal.
Há outras drogas orais a caminho, já que o mercado é gigantesco. O novo desafio, entretanto, está num medicamento que provoque o desejo, um remédio afrodisíaco. Por enquanto, antidepressivos vêm sendo usados timidamente com esse propósito.


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