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Disputa por capital divide base de Morales
Governador aliado do presidente da Bolívia renuncia por temer violência nas manifestações pró-La Paz e pró-Sucre
Pleito de que Executivo e Legislativo bolivianos sejam transferidos para Sucre paralisou Constituinte; Morales prefere La Paz
FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ
A crise política boliviana provocou ontem a renúncia do governador do departamento de
Chuquicasa, David Sánchez. Filiado ao partido do presidente
Evo Morales, o MAS (Movimento ao Socialismo), ele sai
em meio às divergências sobre
a transferência da capital de La
Paz para Sucre pela Assembléia
Constituinte, responsável pela
redação da nova Carta do país.
"Não quero ser responsável
por um confronto entre irmãos
do campo e da cidade, não quero ser responsável por confrontos com pessoas que venham de
outro lado, que podem provocar feridos e mortos", disse
Sánchez, chorando, em Sucre,
capital de Chuquisaca e sede da
Constituinte.
A decisão -não oficializada
até ontem à tarde- expõe a divergência de Sánchez com o
anúncio de Morales, na segunda-feira, de uma "mobilização
de cem mil camponeses" no dia
10 de setembro, em Sucre, como um sinal de força diante das
manifestações oposicionistas
da última terça-feira.
Emparedado
Nos últimos meses, Sánchez
ficou emparedado entre a posição do MAS, que bloqueou na
Constituinte a discussão sobre
a chamada capitalidade, e lideranças regionais de Chuquisaca, que querem Sucre como sede do Executivo e do Legislativo -o Judiciário já funciona
nessa cidade.
Depois que a bancada do
MAS vetou a proposta na Constituinte, em 15 de agosto, lideranças regionais e estudantes
começaram a protestar contra
a decisão, incluindo a paralisação desta semana e greves de
fome. Segundo o diário "La Razón", havia anteontem 1.011
pessoas em jejum por todo o
departamento.
O governo Morales pediu que
Sánchez reconsiderasse a decisão de renunciar, mas não comentou se a marcha de 10 de
setembro poderia ser revista.
"Pedimos que ele cumpra o
seu mandato, já que foi eleito
por voto popular", disse, em
nota, o ministro da Presidência,
Juan Ramón Quintana.
Ligado ao movimento evangélico, Sánchez foi convidado a
se filiar ao MAS às vésperas das
eleições de dezembro de 2005,
quando Morales e ele saíram vitoriosos. Foi a primeira vez que
houve escolha direta dos governadores na Bolívia, já que antes
eram nomeados pelo presidente. Como a eleição direta de governadores foi resultado de um
pacto político durante a crise
de meados de 2005 -e não de
uma reforma constitucional-,
havia divergências sobre a sucessão de Sánchez.
O presidente do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), Salvador Romero, disse que é uma
prerrogativa de Morales nomear o sucessor, mas a interpretação foi rechaçada pelos dirigentes de Chuquisaca, que
defenderam novas eleições ou a
posse do segundo mais votado.
Guerra no século 19
O tema da capital provocou
uma guerra civil no país em
1899, quando o Executivo e Legislativo saíram de Sucre para
La Paz, mas só voltou a ser discutido meses atrás -não se falou disso na campanha que escolheu os constituintes, em
2006. Os defensores da volta à
antiga capital afirmam que Sucre é mais central que La Paz;
os que se opõem argumentam
que o custo seria alto para um
país tão pobre.
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