São Paulo, sexta-feira, 31 de agosto de 2007

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Disputa por capital divide base de Morales

Governador aliado do presidente da Bolívia renuncia por temer violência nas manifestações pró-La Paz e pró-Sucre

Pleito de que Executivo e Legislativo bolivianos sejam transferidos para Sucre paralisou Constituinte; Morales prefere La Paz

FABIANO MAISONNAVE
ENVIADO ESPECIAL A LA PAZ

A crise política boliviana provocou ontem a renúncia do governador do departamento de Chuquicasa, David Sánchez. Filiado ao partido do presidente Evo Morales, o MAS (Movimento ao Socialismo), ele sai em meio às divergências sobre a transferência da capital de La Paz para Sucre pela Assembléia Constituinte, responsável pela redação da nova Carta do país.
"Não quero ser responsável por um confronto entre irmãos do campo e da cidade, não quero ser responsável por confrontos com pessoas que venham de outro lado, que podem provocar feridos e mortos", disse Sánchez, chorando, em Sucre, capital de Chuquisaca e sede da Constituinte.
A decisão -não oficializada até ontem à tarde- expõe a divergência de Sánchez com o anúncio de Morales, na segunda-feira, de uma "mobilização de cem mil camponeses" no dia 10 de setembro, em Sucre, como um sinal de força diante das manifestações oposicionistas da última terça-feira.

Emparedado
Nos últimos meses, Sánchez ficou emparedado entre a posição do MAS, que bloqueou na Constituinte a discussão sobre a chamada capitalidade, e lideranças regionais de Chuquisaca, que querem Sucre como sede do Executivo e do Legislativo -o Judiciário já funciona nessa cidade.
Depois que a bancada do MAS vetou a proposta na Constituinte, em 15 de agosto, lideranças regionais e estudantes começaram a protestar contra a decisão, incluindo a paralisação desta semana e greves de fome. Segundo o diário "La Razón", havia anteontem 1.011 pessoas em jejum por todo o departamento.
O governo Morales pediu que Sánchez reconsiderasse a decisão de renunciar, mas não comentou se a marcha de 10 de setembro poderia ser revista.
"Pedimos que ele cumpra o seu mandato, já que foi eleito por voto popular", disse, em nota, o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana.
Ligado ao movimento evangélico, Sánchez foi convidado a se filiar ao MAS às vésperas das eleições de dezembro de 2005, quando Morales e ele saíram vitoriosos. Foi a primeira vez que houve escolha direta dos governadores na Bolívia, já que antes eram nomeados pelo presidente. Como a eleição direta de governadores foi resultado de um pacto político durante a crise de meados de 2005 -e não de uma reforma constitucional-, havia divergências sobre a sucessão de Sánchez.
O presidente do CNE (Conselho Nacional Eleitoral), Salvador Romero, disse que é uma prerrogativa de Morales nomear o sucessor, mas a interpretação foi rechaçada pelos dirigentes de Chuquisaca, que defenderam novas eleições ou a posse do segundo mais votado.

Guerra no século 19
O tema da capital provocou uma guerra civil no país em 1899, quando o Executivo e Legislativo saíram de Sucre para La Paz, mas só voltou a ser discutido meses atrás -não se falou disso na campanha que escolheu os constituintes, em 2006. Os defensores da volta à antiga capital afirmam que Sucre é mais central que La Paz; os que se opõem argumentam que o custo seria alto para um país tão pobre.

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