São Paulo, Terça-feira, 31 de Agosto de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

HORA DA DECISÃO
Mais de 90% dos eleitores teriam votado para decidir se o território permanece indonésio
Timor Leste tem votação calma e maciça

RENATO FRANZINI
enviado especial a Timor Leste

O histórico referendo que pode levar a ex-colônia portuguesa de Timor Leste à independência em relação à Indonésia ocorreu ontem sob um clima de surpreendente calma e com um alto comparecimento de eleitores.
Essa tranquilidade contrastou com o clima de tensão e insegurança que marcou a semana passada, com manifestantes a favor e contra a independência se enfrentando em diversas partes do território. Após um conflito na quinta-feira, seis pessoas morreram.
Ontem, a única morte relatada à Unamet (Missão das Nações Unidas para o Timor Leste, encarregada de organizar o plebiscito) ocorreu após a votação.
Joel Lopes Gomes, um dos 4.000 moradores da ilha contratados pela Unamet para a eleição, foi morto a facadas quando voltava para casa, em situação não esclarecida, na cidade de Ermera (62 km a sudoeste da capital, Dili).
O porta-voz da Unamet, David Wimhurst, lamentou o incidente. "Estamos profundamente entristecidos por isso, e ele é apenas mais um na longa lista de vítimas que esse território já viu", disse.
Timor Leste foi anexado em 1976 pela Indonésia -a atitude unilateral nunca foi reconhecida pela ONU. Grupos de direitos humanos dizem que até 200 mil pessoas morreram nos anos seguintes à invasão, por causa da violência política ou da fome.
Ontem, as pessoas começaram a chegar aos mais de 800 locais de votação às 5h30 (18h30 de anteontem em Brasília), uma hora antes da abertura das portas.
Muitos eleitores e observadores internacionais disseram que isso aconteceu pelo medo de que uma intervenção do Exército interrompesse a votação depois.
"Em um dos locais em que fomos às 6h30, mais da metade dos eleitores registrados para votar estava lá", disse Elwin Lorne, observador da organização não-governamental Ifet (International Federation for East Timor).
Segundo estimativa preliminar da Unamet, mais de 90% das 452 mil pessoas cadastradas para votar compareceram. O território tem 840 mil habitantes (censo de 1995). A Unamet espera divulgar o resultado no próximo dia 7.
Em alguns lugares, a fila demorou mais de quatro horas. Um dos motivos é que o índice de analfabetismo é de 50%.
Para resolver o problema, as pessoas votavam usando um prego, para furar a opção desejada: se os eleitores querem se tornar Província autônoma da Indonésia ou se rejeitam essa hipótese. Caso a autonomia seja rejeitada, a Indonésia prometeu conceder independência a Timor Leste.
Muitos observadores que acompanharam a eleição acreditam que a proposta que pode levar à independência vença por larga margem. Mesmo antes do início da apuração, separatistas afirmavam que a vitória era certa.
O faxineiro José dos Reis, 48, disse que seus amigos votaram pela independência. "Até conheço gente que votou pela autonomia. São pessoas que trabalharam para o Estado ou para o Exército."


O jornalista Renato Franzini viajou à Indonésia a convite da Associação ONU-Brasil


Texto Anterior: Deputados dos EUA aprovam processo
Próximo Texto: EUA falam em "sucesso'
Índice

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.