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HORA DA DECISÃO
Mais de 90% dos eleitores teriam votado para decidir se o território permanece indonésio
Timor Leste tem votação calma e maciça
RENATO FRANZINI
enviado especial a Timor Leste
O histórico referendo que pode
levar a ex-colônia portuguesa de
Timor Leste à independência em
relação à Indonésia ocorreu ontem sob um clima de surpreendente calma e com um alto comparecimento de eleitores.
Essa tranquilidade contrastou
com o clima de tensão e insegurança que marcou a semana passada, com manifestantes a favor e
contra a independência se enfrentando em diversas partes do território. Após um conflito na quinta-feira, seis pessoas morreram.
Ontem, a única morte relatada à
Unamet (Missão das Nações Unidas para o Timor Leste, encarregada de organizar o plebiscito)
ocorreu após a votação.
Joel Lopes Gomes, um dos 4.000
moradores da ilha contratados
pela Unamet para a eleição, foi
morto a facadas quando voltava
para casa, em situação não esclarecida, na cidade de Ermera (62
km a sudoeste da capital, Dili).
O porta-voz da Unamet, David
Wimhurst, lamentou o incidente.
"Estamos profundamente entristecidos por isso, e ele é apenas
mais um na longa lista de vítimas
que esse território já viu", disse.
Timor Leste foi anexado em
1976 pela Indonésia -a atitude
unilateral nunca foi reconhecida
pela ONU. Grupos de direitos humanos dizem que até 200 mil pessoas morreram nos anos seguintes à invasão, por causa da violência política ou da fome.
Ontem, as pessoas começaram
a chegar aos mais de 800 locais de
votação às 5h30 (18h30 de anteontem em Brasília), uma hora
antes da abertura das portas.
Muitos eleitores e observadores
internacionais disseram que isso
aconteceu pelo medo de que uma
intervenção do Exército interrompesse a votação depois.
"Em um dos locais em que fomos às 6h30, mais da metade dos
eleitores registrados para votar
estava lá", disse Elwin Lorne, observador da organização não-governamental Ifet (International
Federation for East Timor).
Segundo estimativa preliminar
da Unamet, mais de 90% das 452
mil pessoas cadastradas para votar compareceram. O território
tem 840 mil habitantes (censo de
1995). A Unamet espera divulgar
o resultado no próximo dia 7.
Em alguns lugares, a fila demorou mais de quatro horas. Um dos
motivos é que o índice de analfabetismo é de 50%.
Para resolver o problema, as
pessoas votavam usando um prego, para furar a opção desejada: se
os eleitores querem se tornar Província autônoma da Indonésia ou
se rejeitam essa hipótese. Caso a
autonomia seja rejeitada, a Indonésia prometeu conceder independência a Timor Leste.
Muitos observadores que
acompanharam a eleição acreditam que a proposta que pode levar à independência vença por
larga margem. Mesmo antes do
início da apuração, separatistas
afirmavam que a vitória era certa.
O faxineiro José dos Reis, 48,
disse que seus amigos votaram
pela independência. "Até conheço gente que votou pela autonomia. São pessoas que trabalharam
para o Estado ou para o Exército."
O jornalista Renato Franzini viajou à Indonésia a convite da Associação ONU-Brasil
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