São Paulo, sexta-feira, 31 de dezembro de 2004

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TRAGÉDIA NA ÁSIA

Há ainda pouca informação sobre vítimas em ilhas remotas na Índia e na Indonésia; população se queixa de lentidão na ajuda externa

Contagem de mortos ultrapassa 125 mil

FABIANE LEITE
ENVIADA ESPECIAL A BANCOC (TAILÂNDIA)

Ultrapassando os prognósticos mais pessimistas, subiu para mais de 125 mil o número de mortos em decorrência do terremoto que lançou ondas imensas às costas do Sudeste Asiático e de parte da África no domingo, em meio a reclamações de demora na chegada da ajuda às vítimas.
A maior parte dos mortos está na Indonésia, onde o saldo chegou a 79.940. No Sri Lanka, são 27.268 as mortes confirmadas.
Ontem, enquanto forças internacionais e tailandesas tentavam identificar as 4.500 pessoas mortas pela águas, a capital, Bancoc, continuava a receber turistas para o Ano Novo, sem qualquer tipo de alerta a respeito do fenômeno.
O saldo de mortes cresceu 60% em apenas um dia. Mas as informações ainda são precárias em ilhas remotas da Índia e da Indonésia onde 30 mil estão desaparecidos, segundo a Cruz Vermelha.
A ONU diz estar particularmente preocupada com a situação nas ilhas indianas de Andaman e Nicobar, as mais próximas do sismo e que experimentaram mais de 50 tremores desde domingo. O difícil acesso às ilhas têm impedido o cálculo do número de mortes, estimadas pelas autoridades em 6 mil, e a ajuda aos sobreviventes.
Com 13.268 mortos, porém, o governo indiano recusou ajuda internacional. "Se e quando precisarmos de ajuda, iremos informá-los", disse o premiê Manmohan Singh. "Diversos países nos ofereceram assistência. Eu disse que, por ora, temos os recursos adequados para enfrentar o desafio."
Relatos da população indicam que a ajuda começa a chegar, mas ainda de forma lenta e precária. "Alguns carros vêm e jogam a comida. Os mais rápidos pegam. Os mais velhos e feridos não pegam nada. Nos sentimos como cachorros", disse Usman, 43, em Banda Aceh, uma das localidades indonésias mais devastadas.
A FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) estimou que precisará de US$ 125 milhões para providenciar alimentos a cerca de 2 milhões de vítimas.
A ONU rebateu, porém, críticas sobre a lentidão da ajuda. "Quando infraestrutura, comunicação e recursos administrativos são destruídos, leva tempo para fazer as coisas caminharem", disse Arjun Katoch, funcionário de resposta a desastres. "O esforço de ajuda internacional está pegando fôlego."
O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, disse estar "satisfeito" com a resposta dos governos ocidentais aos desastre, após um funcionário ter dito que esses países estavam sendo "sovinas".
Segundo Annan, o total da ajuda chegou a US$ 500 milhões - dos quais US$ 250 milhões devem vir do Banco Mundial, conforme anunciou ontem o organismo, para "reconstrução de urgência".
Os EUA vão enviar à região uma delegação chefiada pelo secretário de Estado, Colin Powell, e o governador da Flórida, Jeb Bush, irmão do presidente George W. Bush, para avaliar a necessidade de ajuda.
Já o Reino Unido triplicou sua oferta de ajuda às vítimas para US$ 96 milhões, tornando-se o maior doador bilateral no esforço de assistência internacional.
"Vimos nossas avaliações iniciais e agora está claro que a escala de destruição e perda de vidas está crescendo sem parar", disse a secretária de Desenvolvimento Internacional, Hilary Benn.
O premiê italiano, Silvio Berlusconi, pediu ontem uma reunião emergencial do G8 (grupo das nações mais ricas) para discutir um corte nas dívidas dos atingidos "pelo maior cataclismo na era moderna". Londres disse, porém, que não há planos para a reunião.


Com agências internacionais


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