São Paulo, sexta-feira, 31 de dezembro de 2004

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No Sri Lanka, mobilização procura compensar ausência de ajuda oficial

GIULYANNA CIPRIANO LOUREIRO
ESPECIAL PARA A FOLHA, NO SRI LANKA

Após o maremoto que matou mais de 20 mil pessoas no Sri Lanka, a solidariedade invadiu o país. A recuperação das vilas atingidas pelo tsunami tem sido facilitada pela ampla mobilização de ONGs, empresas e pessoas comuns.
Os meios de comunicação a todo momento pedem auxílio e suprimentos. Na capital, Colombo, que não foi muito atingida, os pontos de coleta de doações estão espalhados por toda a cidade.
A Aiesec, ONG dirigida por estudantes, mobilizou um grupo de estudantes locais e estrangeiros para ir às vilas litorâneas entregar roupas, alimentos e remédios às famílias que perderam tudo.
Na noite da última terça, a estudante colombiana Maria Lucia Uribe, 24, um dos membros da Aiesec, esteve na cidade histórica de Galle, a 120 km da capital.
Segundo ela, toda a cidade está devastada. A estação de trem foi destruída, barcos foram arrastados para dentro das casas, carros varridos pelas ruas derrubaram paredes. Tamanha era a força da água que somente as construções mais novas se sustentaram.
"Vimos as pessoas desoladas, sentadas na estrada, esperando ajuda, sem saber o que fazer. Muitos perderam a família inteira. Vi cadeiras, mesas, geladeiras espalhadas pela estrada", disse Uribe.
De acordo com a estudante, dois dias depois do maremoto a população das vilas da região ainda não recebeu informações e ajuda do governo. Nenhuma ajuda humanitária, nem mesmo da Cruz Vermelha, tinha chegado à região. A ONU aguarda informações do governo para poder agir.
O primeiro local visitado pelos estudantes foi o hospital de Galle, onde, além da infra-estrutura precária, não há energia elétrica.
"No hospital havia sangue por toda parte e mais de 200 corpos em estado de decomposição estavam amontoados pelo corredor, porque os funcionários não tinham equipes preparadas para removê-los ou enterrá-los. A cidade cheirava a morte, não era possível respirar nem mesmo fora do hospital", disse emocionada.
Templos budistas estão servindo como abrigo e ponto de distribuição de suprimentos. Em um dos mosteiros de Galle mais de 600 pessoas estavam abrigadas e esperavam por ajuda. Quando os estudantes chegaram com as provisões, ao ver comida e água, "as pessoas famintas ficaram histéricas, as crianças começaram a chorar e tentavam pegar tudo o que viam pela frente", disse Uribe.


Giulyanna Cipriano Loureiro é jornalista e mora no Sri Lanka


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