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OPINIÃO
Somos sovinas? Sim
Leia a seguir o editorial publicado ontem pelo "New York Times"
O presidente Bush finalmente
saiu do torpor de suas férias em
Crawford, Texas, para telefonar
expressando simpatia aos governantes de Índia, Sri Lanka, Tailândia e Indonésia, e para se pronunciar publicamente sobre a devastação que os tsunamis de domingo causaram na Ásia. Bush não
demorou em se distanciar da ridícula oferta inicial de assistência
norte-americana, de US$ 15 milhões, e contestou uma declaração
prévia de Jan Egeland, coordenador das operações de assistência
das Nações Unidas, no sentido de
que os países ocidentais ricos vinham sendo "sovinas". "A pessoa
que fez essa declaração estava
muito equivocada e mal informada", disse o presidente.
Egeland tinha completa razão.
Esperamos que o secretário de Estado tenha se sentindo embaraçado quando, passados dois dias de
um desastre catastrófico que atingiu 12 dos países mais pobres do
mundo, convocou uma entrevista
coletiva para informar que os
EUA, a mais rica nação do planeta, contribuiriam com US$ 15 milhões. É menos de metade do que
o Partido Republicano planeja
gastar com a posse de Bush em
seu segundo mandato.
A assistência norte-americana
no atual desastre é agora de US$
35 milhões, e aplaudimos o recuo
determinado por Bush. Mas US$
35 milhões continuam a ser uma
mesquinha gota no mar das necessidades, e representam atitude
coerente com as somas medíocres
que o Orçamento dos Estados
Unidos reserva para a assistência
internacional de caráter não-militar. Pesquisa de opinião pública
indica que a maioria dos americanos acredita que os EUA gastem
24% de seu orçamento em assistência a países pobres; na verdade, o país gasta 0,25%.
Funcionários do governo Bush
ajudam a criar essa disparidade
de percepção. Furioso diante da
acusação de sovinice, Powell
apontou para os esforços de assistência em casos de desastre e disse
que o país havia "fornecido mais
assistência nos últimos quatro
anos do que qualquer nação ou
combinação de nações no mundo". Mas, em termos de assistência ao desenvolvimento, os EUA
doaram US$ 16,2 bilhões em 2003;
a União Européia doou US$ 37,1
bilhões. Em 2002, as somas foram
de US$ 13,2 bilhões para os Estados Unidos e de US$ 29,2 bilhões
no caso da Europa.
Muitas vezes prometemos mais
dinheiro do que efetivamente
doamos. As vítimas do terremoto
em Bam, no Irã, há um ano, continuam vivendo em tendas, porque
a assistência, incluindo a nossa,
não se materializou nos montantes prometidos. Em 2002, Bush
anunciou a criação de um fundo
de assistência ao desenvolvimento africano, chamado Desafio Milênio, com a dotação de até US$ 5
bilhões ao ano. Mas nem um centavo foi desembolsado sob esse
programa, até agora.
Bush disse ontem que os US$ 35
milhões que prometemos contribuir até agora "são só o começo"
da ajuda dos Estados Unidos ao
esforço de recuperação. Esperemos que isso se prove verdade, e
que dessa vez nossas ações se
equiparem às nossas promessas.
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