São Paulo, domingo, 04 de novembro de 2007


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ENTREVISTA

RAY KURZWEIL


Impulso tecnológico deve ser analisado

Precisamos reinventar cada negócio. Não podemos esperar que os modelos atuais continuem no futuro

DIOGO BERCITO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Inventor bem-sucedido -responsável, por exemplo, pela criação de um aparelho de reconhecimento de fala-, Ray Kurzweil, 59, é uma espécie de guru da tecnologia. Bill Gates o aponta como a pessoa mais indicada no mundo para prever o futuro da inteligência artificial. No que diz respeito aos negócios de pequeno porte, as previsões de Kurzweil são positivas -o momento é bom para firmas com equipes pequenas tocarem grandes projetos, diz. Kurzweil virá ao Brasil como destaque da ExpoManagement 2007, evento organizado pela HSM de amanhã a quarta-feira. Confira a seguir trechos da entrevista feita por telefone, em que se abordam avanços tecnológicos e seu aproveitamento.

 

FOLHA - O que é a lei dos retornos acelerados ("law of accelerating returns")?
RAY KURZWEIL
- A lei dos retornos acelerados diz que as tecnologias de informação crescem exponencialmente a cada ano, dobrando o seu poder. Vemos essa lei aplicada a computadores e aparelhos eletrônicos, mas ela também funciona com outras tecnologias, que serão mil vezes mais poderosas daqui a dez anos do que são hoje; milhões de vezes mais poderosas daqui a 20 anos. Por isso o empresário não pode simplesmente pegar as técnicas e ferramentas de hoje e projetá-las no futuro. É preciso levar em consideração a explosão de crescimento. As pessoas não imaginam esse aumento em termos exponenciais. Pensam em progressões como 1, 2, 3, 4 e, 30 passos depois, estão no 30. Mas a progressão das tecnologias da informação é 2, 4, 8, 16 e, 30 passos depois, estão em um bilhão.

FOLHA - Como aplicar essa lei nos negócios?
KURZWEIL
- É importante analisar o crescimento exponencial das tecnologias em questão e entender onde e quando esses avanços interferem no negócio. O uso de soluções tecnológicas geralmente resulta em erro não porque a tecnologia não era útil, mas porque foi utilizada no momento errado. Também é necessário prever como estará essa tecnologia no futuro.

FOLHA - Os avanços da tecnologia aumentam o espaço que separa as pequenas empresas das grandes?
KURZWEIL
- Esses avanços afetam tanto as pequenas quanto as grandes. As tecnologias de comunicação, por exemplo, tornam possível trabalhar com pessoas que não estão fisicamente presentes, mas espalhadas ao redor do mundo -e essas ferramentas colaborativas e de compartilhamento de informação são acessíveis até mesmo ao dono de uma mercearia.

FOLHA - Qual é o futuro das pequenas e médias empresas no que diz respeito à tecnologia?
KURZWEIL
- Acredito que haverá mais oportunidades, especialmente para as pequenas empresas. Os avanços possibilitam que equipes reduzidas façam projetos que antes precisavam de muita mão-de-obra. As ferramentas estão mais poderosas -hoje microempresas podem crescer rapidamente com poucos recursos. É importante perceber que precisamos reinventar cada negócio. Não podemos esperar que os modelos atuais continuem a funcionar no futuro. Foi por ignorar os avanços que a indústria fonográfica ficou estagnada por tanto tempo. O segredo é tomar a dianteira nas inovações tecnológicas, em vez de esperar as reações dos consumidores e lidar com elas. É o que tem feito a indústria de telefonia celular, por exemplo. Houve um tempo em que chamadas de longa distância eram muito caras e, se isso não tivesse se modificado, as pessoas teriam encontrado alguma forma de piratear as ligações, assim como pirateiam músicas. A razão que leva o consumidor a não fazer isso é porque ele sente que a indústria de telefonia celular foi justa ao reduzir suas taxas -por isso não há intenção de burlar o sistema. E todo mundo sai ganhando.

FOLHA - É possível gerir hoje uma empresa sem um computador?
KURZWEIL
- Não acho que seja possível. É raro encontrar uma pessoa ou um negócio que não tenha um computador.


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