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São Paulo, domingo, 08 de junho de 2003


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PRODUTOS RESPONSÁVEIS

Produto com função social ganha status de mercadoria sofisticada e conquista espaço nas prateleiras de lojas de decoração

Filantropia cede lugar a artigo "responsável"

SÍLVIA FREIRE
DA AGÊNCIA FOLHA

O consumo de produtos feitos por associações de portadores de deficiência ou por comunidades carentes deixou de ter caráter meramente filantrópico e virou também atrativo dos negócios. Itens "socialmente responsáveis" estão se tornando mercadoria sofisticada e atraem o público pelo que representam e também pela qualidade do trabalho dos artesãos.
Ou seja, saem de cena as lojas de suvenires artesanais baratos e entram as lojas profissionais, nas quais a mercadoria à venda conta a história de uma comunidade.
"Percebi que havia muita coisa legal sendo feita por comunidades, mas não havia prateleiras para vendê-las", diz Ricardo Pedroso, sócio da loja Projeto Terra, em São Paulo, que só vende peças "com história". O negócio deve se expandir para outros Estados.
Ainda que haja mercado, continua sendo necessário oferecer qualidade, beleza, funcionalidade e bom acabamento nas peças.
"As pessoas não compram só porque estão ajudando, é essencial que o produto tenha qualidade. Não existe mais o "comprar por comprar'", diz Daniela Malavazzi, sócia da loja de artesanato Empório. Nas suas prateleiras ela expõe artigos de comunidades carentes de vários Estados. "Há uma tendência de valorizar o trabalho das comunidades", pondera.
Para o empresário Marcos Sancovsky, a venda de produtos artesanais que aliam um componente social à estética se encaixa na proposta de sua loja no Instituto Tomie Otake, em São Paulo. A idéia, diz, é vender peças assinadas por artistas locais. "As obras foram bem aceitas", comemora.

Filantropia x mercado
Se o produto "solidário" chegou à condição de mercadoria, é porque muitas comunidades carentes tiveram ajuda de trabalhos voluntários, iniciados anos atrás, para qualificar artesãos de alto nível.
Para Paulo Itacarambi, diretor-executivo do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, a compra de produtos feitos por comunidades carentes é um passo adiante à filantropia.
"A compra gera um benefício para uma comunidade que precisar ter uma renda. É sempre melhor do que a doação direta."
Exemplo das benesses desse incentivo é o trabalho feito pela Fundação Alavanca, fundada há três anos pelo engenheiro e administrador Moysés Pluciennik.
A entidade ajuda um grupo de mulheres de Ubatuba, município no litoral norte de São Paulo, a confeccionar bolsas de crochê. "A nossa proposta é ter um produto de qualidade para que, além de ajudar a comunidade, o consumidor faça um bom negócio", diz.
A abertura de um mercado para produtos "solidários" contribui também para a elevação da auto-estima de todos os envolvidos.
"Quando vendemos, há uma relação de troca. É uma situação de igual para igual", avalia Soeni Domingos Sandreschi, coordenadora institucional da Adere, instituição que há 31 anos atende adultos portadores de deficiência.
A distância e a dificuldade de comunicação com os artesãos são fatores que dificultam a comercialização dos produtos. Em São Paulo, no entanto, existem locais que fazem a intermediação entre as comunidades e os lojistas.
É o caso da Central Artesol, organização sem fins lucrativos que lida com artesãos de 13 Estados, e do Espaço Mundaréu, que vende peças e representa comunidades.


Central Artesol - 0/xx/11/5511-3082; Espaço Mundaréu - 0/xx/11/3032-4649


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