São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002


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Câmbio, eleição e crises nos países vizinhos dificultam exportação e acesso a crédito

Incertezas ameaçam pequenos

PAULA LAGO
EDITORA-ASSISTENTE DE NEGÓCIOS E EMPREGOS

Uma atmosfera pesada ronda o empresariado nacional, composta por incertezas de natureza econômico-financeira (escassez de crédito e oscilação cambial), política (indefinição nas eleições) e internacional (crises na Argentina e no Uruguai que contribuem para a diminuição da credibilidade comercial do Brasil no exterior).
"Essa quase histeria não é neutra para a economia real. Quanto maior a desvalorização de nossa moeda, maior a pressão inflacionária. A renda diminui, a demanda também, afetando todos os setores", diz Odair Abate, 44, economista-chefe do Lloyds TSB.
Como nenhum investidor quer arriscar em economias instáveis, o acesso a linhas de crédito no exterior se torna quase inexistente. "O financiamento aos exportadores está secando. Isso porque a maior parte dos recursos é destinada à especulação, e não à produção", observa o professor de economia da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo) Paulo Sandroni, 62.
"Tínhamos aproximadamente US$ 10,5 bilhões de crédito em linhas internacionais. Atualmente, esse valor não chega a US$ 6 bilhões", calcula Claudio Luiz Miquelin, 46, diretor da área de crédito da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
A solução passa a ser o crédito interno. "Grandes empresas que não conseguiram rolar dívidas nem obter financiamento vêm para o mercado interno e esgotam as linhas de crédito", afirma William Eid Junior, 45, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da Eaesp-FGV (Escola de Administração de Empresas, ligada à Fundação Getúlio Vargas).

Comércio exterior
A crise afeta também o comércio com outros países. Para exportar, as empresas precisam obter crédito tanto para fazer o planejamento e se estruturar como para apresentar sua marca aos clientes potenciais e conseguir suprir a possível demanda.
Darlan Dórea Santos, 59, diretor de desenvolvimento regional e de micro, pequenas e médias empresas do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), diz que o banco está estudando como viabilizar mais linhas de financiamento ao exportador. "Estamos agilizando o atendimento e vamos tentar obter mais recursos com o Ministério do Desenvolvimento para suprir as necessidades mais imediatas."
Claudio Emanuel de Menezes, 50, presidente da Disoft, do segmento de tecnologia, estabeleceu algumas parcerias internacionais há dois anos com a Argentina. "Recebemos capital da Fiesp e exportávamos soluções para os argentinos. Hoje também temos clientes do México e da Noruega."
Mas a economia argentina entrou em crise, e Menezes se viu obrigado a renegociar. "Recebemos menos do que prevíamos. Sentimos o impacto e não vamos fechar parcerias por enquanto."
"É preciso tomar cuidado com a taxa de câmbio que será fechada, levando em conta que a alta do dólar não deve durar", alerta Dorothéa Werneck, gerente-especial da Apex (Agência de Promoção de Exportações).



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