UOL


São Paulo, domingo, 14 de setembro de 2003


Próximo Texto | Índice

EMPRESÁRIO POR HERANÇA

Além de aprender a gerenciar o negócio, novo dono deve mostrar competência a funcionários e clientes

Sucessor encara "crise de confiança"

Fernando Moraes/Folha Imagem
Maria Regina Yaszbek, que aos 23 anos assumiu empresa familiar de aluguel de empilhadeiras


BRUNO LIMA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Conquistar a confiança de clientes e de empregados e entender a alma do negócio que sustenta a família são os desafios de quem herda o posto de empresário.
O afastamento do fundador, na pequena empresa, oferece grandes riscos ao empreendimento, dizem consultores. Mal administrada, a troca do "comandante" resulta em perda de clientes e em desmotivação de funcionários.
E a ameaça é maior no pequeno negócio do que em grandes companhias. Como as relações são mais próximas e pessoais, maior é a chance de ser posta em xeque a capacidade de a empresa manter o seu padrão de qualidade.
Ao novato que ocupa o lugar do fundador resta a tarefa de transferir para si a lealdade conquistada pelo primeiro. E a empreitada é decisiva: de seu sucesso depende o futuro do negócio.
Luciana Bruno Lima, 28, assumiu em 2001 a direção da Ata Administradora de Condomínios (pequena empresa) depois que o pai, num intervalo de seis meses, descobriu um câncer e morreu.
"Estava tudo na cabeça dele, e ele nem me passou o que fazia. Sentei na mesa dele e comecei a revirar os papéis. Foi tudo muito rápido e inesperado. Não tive opção", revela a empresária.
Ela diz que enfrentou dificuldades, mas que, ao "mostrar serviço" e assumir as próprias falhas, acabou obtendo apoio de clientes e empregados. "Eu sofri muito, não queriam falar comigo."
Ela conta que "perguntavam se eu era formada e "quantos aninhos" eu tinha". ""O cliente ligava e dizia: "Combinei isso com seu pai". Tentava checar, mas às vezes tinha simplesmente de acreditar."

Luto
De acordo com Egberto Prado Lopes Bastos, diretor da MTB Assessoria Organizacional, depois do luto, o empresário deve reservar cerca de duas semanas para pôr a empresa em ordem. Essa fase, segundo ele, serve para afastar os riscos da "crise de confiança".
Nesse período, enfatiza, o novo chefe deve se reunir com a equipe de funcionários para pedir auxílio, dizer que o trabalho será mantido e estimular sugestões.
Em um segundo momento, a tarefa seria apresentar-se a clientes e fornecedores, reforçando os compromissos. Nesse ponto é preciso cuidado, diz o consultor. Não é necessário dominar os detalhes, mas transmitir segurança é essencial. "Mostrar ao mercado que não conhece o negócio é o atestado de óbito da firma."
As mudanças, ensina Bastos, devem vir aos poucos. "É preciso desenvolver as próprias competências para poder fazer mudanças e impor o toque pessoal."

Pai e filha
Para Maria Regina Yaszbek, 39, a sucessão também veio antes do previsto -aos 23 anos-, mas porque o pai perdeu o interesse pelo negócio. "Os pais, em geral, não querem "soltar" o negócio. No meu caso foi o contrário", conta.
Ela diz que o início não foi fácil. A empresa, a Movicarga, alugava empilhadeiras. "Era um negócio pobre, sem graça, não tinha glamour. Mas era a chance de mostrar a ele [o pai] que eu era capaz."
"Eram 12 funcionários, e hoje são 1.100", compara. A empresa também ampliou o escopo do negócio: passou a prestar serviços de movimentação de carga. "Antes eu era a filha dele. Agora ele vai lá e diz: "Eu sou o pai da Regina"."



Próximo Texto: Viúva "cai de pára-quedas" na loja da família
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.